DOCES MOMENTOS
A noite chegara.
O escuro do céu deixa o brilho das estrelas resplandecerem, piscando
ininterruptamente. A lua parece contemplar as belezas da terra. O canto de um
pássaro noturno ecoa pela amplidão do espaço.
Dana contempla a
maravilhosa paisagem da natureza e seus lábios se distendem num macio sorriso
quando volta a cabeça e vê o homem que ama adormecido.
— O meu amado... — murmura.
Seus pensamentos se
voltam para o tempo em que tinha nos braços aquela criança que tanto a fez
sofrer e todo o sofrimento causado por si própria, ao doar o ser gerado em
seu ventre.
As lágrimas descem em
sua face, caindo no travesseiro.
“Tanto sofrimento,
tanta angústia... nunca consegui, nesse tempo todo, deixar de me sentir culpada
pelo que fiz. Eu sei... a vida dele corria perigo, eu tinha que entregá-lo a
alguém que
cuidasse
dele com carinho e amor... — um profundo suspiro lhe abrasa o peito — ...
agora, após tantos anos, pude ver em que se transformou aquela criaturinha tão
amada... o meu William... —
quase soluça, de
tão angustiada —... mas sei que posso ultrapassar todas as barreiras dessa dor
que me abalou tanto... — passa a mão sobre o ventre — ... e agora, aqui está o
meu verdadeiro filho... com meu amado.”
Ela se volta novamente
para o lado de Mulder e o fita com amor.
Nesse momento Mulder
se move no colchão. Abre os olhos, piscando.
Dana está a fitá-lo
com carinho.
Ele se volta para ela;
coça as pálpebras:
— O que houve? Perdeu o sono?
— Não...não! É que acordei um pouco e estou
pensando na vida.
Ele a aperta com
carinho contra seu peito:
— Eu também me ponho a pensar em tudo que aconteceu e...
— ... nosso coração não aguenta, Mulder!
Sofrí muito!
— Eu sei, Scully. A emoção ao ver aquele que
imaginei ter sido gerado por mim, meu filho, foi demais!
Ela deixa que as
lágrimas lhe saltem dos olhos.
Mulder a aperta em
seus braços, fazendo com que ela fique jogada sobre seu corpo.
— Não quero vê-la chorar mais. Chega, Scully.
Agora tudo será diferente. Logo teremos o nosso filho...
— ... ou filha! — tenta sorrir, deixando as lágrimas lhe rolarem
pela face e deita a cabeça sobre o peito do amado.
Ele lhe acaricia os
cabelos, mantendo-a sobre seu corpo.
E desse jeito
permanecem por vários minutos, sentindo o movimento da respiração de
cada um assim unidos.
***
Dana abre os olhos e
fita a claridade que surge entre as frestas da persiana na janela. Pode ver o
céu azul; nuvens brancas, esparsas, qual flocos de algodão sobre as montanhas.
Um grupo de pássaros
passa num movimento como que
giratório, na paisagem formada no céu.
Suspira profundamente.
Mulder desperta, neste
instante.
— Oi
amor! — ela fala, vendo-o sair do sono.
— Acordou
que horas?
— Agora mesmo.
— Ah...! — ele fala, coçando a cabeça.
— O dia está bonito, Mulder. Nada de chuva.
Ele se levanta e abre a persiana.
A claridade penetra no
ambiente.
— Não
vou levantar agora. — ela avisa.
— Claro! — ele ri — Você tem que descansar mais. Nosso
bebê exige isso.
Dana deixa o corpo
rolar na cama.
Mulder se aproxima e,
num relance, toma-a em seus braços.
— Mulder me solta! Para!
— Nada disso! Estou segurando dois bebês!
Ela dá risadas,
jogando a cabeça para trás, ainda segura nos braços dele.
Mulder a leva de volta
para a cama.
— Não! Agora quero ficar nos seus braços!
— Huuum... aproveitando-se
da minha disposição, né?
Então ele a carrega
para a varanda. Senta numa cadeira.
— Vamos apreciar a paisagem, porque está um belo dia.
Lá distante, o verde que
cobre as montanhas, contrastando com o azul do céu, tem nuvens brancas ao seu
redor, enquanto uma leve
brisa que sopra, movimenta
os galhos das árvores.
— Estou com frio...! — ela se queixa, grudando o corpo no dele.
Logo Mulder se levanta
da cadeira:
— Desculpe Scully, eu a trouxe para fora você ainda com a roupa de
dormir.
Ela somente sorri e se
aconchega ao corpo dele, que está caminhando para dentro de casa.
— Scully, só tem uma coisa que não gosto: as cores dessa sua camisola.
— Não gosta...? O que quer
dizer, Mulder? Por que isso...?
— Essas cores aí.
Ela examina seu próprio corpo, verificando as cores:
— Não entendi.
— Explico então: o azul em
grande parte, misturado com tons branco e cinza escuro e
claro, significa frieza.
— Frieza...?! Da parte de
quem...?
— De você. — ele a aperta
mais.
Dana aproxima os lábios dos
dele, beijando-o levemente.
Logo ficam abraçados um ao outro
e calados por segundos.
— Espera. — ela sai do colo dele, dirigindo-se para o
guarda-roupa — Mulder, olha aqui; vou trocar esta
minha camisola.
Ele franze os lábios:
— Pra quê...?
— Por uma
outra mais atraente pra você.
— Huuum...!
— continua com
os lábios franzidos.
Ela
remexe os cabides:
— Esta aqui... que tal?
— Essa aí significa com
essas cores azul, verde, branco, vermelho e bege, harmonia.
—Ah, então ainda não serve.
Ele dá risadas.
— E esta...? — ela segura
outra roupa.
— Essa aí nem pensar,
Scully! Mais vermelho com
pouco roxo, preto, rosa é imoral.
Ela põe as mãos na cintura e o fita:
— Não acredito que não tenho
nada que o agrade.
— Pra me agradar, nem é
preciso usar, nem vestir nada.
Ela joga uma camisola no rosto dele, a sorrir:
— Ah, para Mulder!
Agora ele vai até o guarda-roupa, para junto dela. Mexe
nas vestimentas ali penduradas.
— Hum...
achei algo... assim... um tanto atraente.
Ela olha, faz um bico com os lábios e franze a testa:
— Mas isso é um vestido!
— Sim, mas as cores dele, repara só: muito vermelho, um pouquinho de coral, roxo,
amarelo... este sim, tem um significado próprio para o momento.
— E o que esse significa, sabidão?
Mulder abre o vestido diante do seu próprio corpo,
deixando somente a cabeça à mostra, olhando para ela:
— Paixão!!