AUTORA - Wanilda Vale
E-mail - wanshipper@yahoo.com.br
Categoria - Shipper
Sinopse - Fox Mulder e Dana Scully sofrem de um sentimento que maltrata a quantos o podem sentir: o ciúme.
"Autorizo a publicação desta história no site do
"Concurso Dimensão X/Sci-Fi News de Fan Fictions
JEALOUSY
"Ciúme não é tolice que a gente tem;
é apenas a dor de saber que o que é nosso
passa a ser de outros também."
O Diretor Assistente Skinner volta-se para o Diretor Jacques Duclos:
- Fico satisfeito, sabendo que você foi transferido aqui para Washington,
Duclos.
O outro sorve um bom gole da dourada bebida no copo em sua mão:
- Eu acho que me darei bem, Skinner. O trabalho lá de onde eu venho já havia
tornado-se bem estafante.
- Certo. - continua Skinner - Pode contar comigo no que precisar, Duclos.
- Obrigado, Skinner; apenas acho que, por enquanto, vou sentir-me como um
peixe fora d'água.
- Ah, acredito ser exagero seu, Duclos, pela competência que tem... - olha à
frente - mas deixe-me apresentar-lhe dois dos meus Agentes Especiais que vem
chegando - anuncia ao ver aproximarem-se seus dois Agentes Fox Mulder e Dana
Scully.
Os dois já estão bem próximos dos dois Diretores.
- Duclos, - diz Skinner apresentando ao Diretor - Este é o Agente Mulder -
volta-se para Dana - Agente Scully.
Ela estende a mão para cumprimentar Duclos:
- Como vai, senhor Duclos?
- Senhor, - começa Mulder também cumprimentando-o - está de passagem aqui?
- Não... - responde Duclos - é transferência definitiva. Espero dar-me bem
aqui. - lança um sorriso simpático e um olhar significativo para Dana.
- Com certeza. - afirma Scully.
O novo Diretor tem ótima aparência com seus lisos cabelos louros caídos à testa,
olhos castanhos claros e um sorriso que deixa qualquer mulher fascinada.
Mulder , não sabe bem o porquê, mas parece-lhe ver uma luz de cobiça brilhar
nos olhos castanhos do novo Diretor, dirigidos à Dana.
- Ah, mas sentem-se conosco, Agentes. - convida-os Duclos.
- Claro! - confirma Skinner.
- O que posso pedir para vocês? - procura saber Duclos.
Mulder levanta a mão.
- Agradeço. Pra mim, nada.
Scully, por sua vez, olha sorridente para Duclos:
- Obrigada, senhor. Acabamos de almoçar.
- Aaah...! - ele exclama - Almoçaram juntos!? - usa um certo sarcasmo na
voz.
- Sempre! - rebate Mulder imediatamente usando um tom de voz calmo, mas
claramente demonstrando irritação.
A palestra entre os quatro havia perdurado cerca de duas horas.
Após isso, Mulder e Scully haviam voltado para sua sala.
E agora Mulder revê muitos arquivos, enquanto Dana opera o computador.
O telefone toca.
Mulder, sem retirar a vista de sobre os relatórios e fotos que tem às mãos,
toma o telefone.
- Mulder.
- Agente Mulder, coloque a Agente Scully na linha, por favor! - fala a voz.
Mulder levanta o olhar em direção à sua parceira que está somente ocupada em
manusear o mouse do micro, concentrada em seu trabalho.
Completamente ressabiado Mulder a chama:
- Scully!
- Que é? - ela responde sem olhá-lo.
- Telefone pra você.
- Quem é, Mulder?
- O Diretor Duclos.
Dana pára imediatamente o que está fazendo, retira os óculos e olha para o
colega:
- Tem certeza de que é pra mim?
Mulder faz um gesto com a cabeça, indicando-lhe para pegar o telefone.
Dana atende:
- Agente Scully.
Alguns minutos da conversa de Scully ao telefone fazem com que Mulder comece a
sentir um grande desconforto.
Levanta-se, toma um copo d'água. Senta-se. Levanta-se novamente, tamborila
os dedos sobre a mesa. Pára alguns segundos e senta-se novamente.
Coloca todos os lápis que estão sobre a mesa arrumados elaboradamente na posição
de uma grande seta apontando em direção à porta de saída da sala.
Após alguns minutos Scully desliga o telefone, pousa-o no gancho, pensativa.
Mulder pigarreia, olhando-a de soslaio, pretendendo chamar-lhe a atenção para
sua presença ali.
Os olhos azuis de Dana deparam-se com a seta formada com os lápis no tampo da
mesa; comenta sorrindo:
- Isto é uma seta, Mulder? Indicando o que? Ou apontando para onde?
- Pena que não posso fazer um canhão...
Scully nota na frase de Mulder algo como que de um ressentimento.
Apenas dá uma pequena risada.
Volta a sentar-se em seu lugar.
Mulder após permanecer calado, mas com o olhar sempre voltado para a atitude
controlada de Dana, decide lançar a pergunta:
- Scully... o que ele queria?
- Ah, Mulder, pra me dizer um negócio desagradável... e no qual não quero me
concentrar...
- E o que é?
- Diz que vai me explicar direito, mas é que vai falar com o Skinner pra que eu
trabalhe diretamente com ele.
Mulder levanta-se num ímpeto.
Joga a mão sobre a seta formada de lápis para desbaratá-la totalmente.
Vários lápis caem no chão.
- O que? E vai explicar direito? O que ele pretende? Ele... quer encontrar-se
com você, Scully? É isso, não é?
- Eu acho... ahn... eu sei lá, Mulder! Deve ser aqui mesmo no FBI; de outra
forma...
- O que tem?
- ... de outra forma só vou dizer-lhe que estou impedida de ir, claro!
Mulder levanta a cabeça, passa as mãos pelos cabelos e caminha pela sala.
Suspira aliviado com a resposta de Scully.
X x x x x x x x x X
Mulder consulta o relógio: duas e meia da tarde.
Toma o telefone nervosamente. Digita um número.
Em seus ouvidos a voz da gravação da secretária eletrônica no telefone de sua
parceira.
"O que teria havido com o celular dela? - começa ele a remoer os pensamentos
- Já chamei várias vezes e não consigo falar e em casa ela não está! "
Alguém bate à porta. Entra uma funcionária.
- Agente Mulder, boa tarde. O Diretor Skinner está esperando-o na sala e
também a Agente Scully.
- Ela não está. E nem deve vir hoje. - informa, com ar desgostoso, mas
resolvera armar a resposta assim, como uma pequena vingança contra Dana.
- Não está? Eu soube que ela iria almoçar hoje com o Diretor Duclos após uma
reunião...
- Quem disse isso?
- A secretária dele. - uma pausa - Obrigada, Agente Mulder. Já foi dado o
recado, não? Até logo.
À saída da moça Mulder sente-se derrotado.
"Ela vai almoçar hoje com o Diretor Duclos."
"Ela vai almoçar hoje com o Diretor Duclos."
A frase ia e vinha na sua mente, perturbando-o, causando-lhe um tão grande
impacto emocional que Mulder, tomando um de seus inúmeros lápis, coloca-o
entre as duas mãos e este parte-se pelo meio.
Um pedaço do grafite voa distante de suas mãos e ele acompanha-lhe o trajeto.
Deixa-se ficar contemplando o ponto onde caíra o grafite, com a vista perdida
no nada por vários segundos.
Levanta-se para ir à sala de Skinner, que o havia chamado.
X x x x x x x x x X
0:25 . É a hora que marca o relógio de pulso de Mulder.
Ele consulta-o e enfia os olhos novamente sobre a imensidão de fotos sobre sua
mesa.
A lâmpada da luminária sobre a mesa parece-lhe ser à sua vista um fortíssimo
holofote.
Mulder estende a mão e desliga a luminária.
Liga-a novamente.
Sente que a luz ofusca-lhe ainda a visão perturbada com a luminosidade.
Desliga-a de uma vez por todas.
Pestaneja olhando a escuridão total à sua volta. Aquilo também o incomoda.
Novamente ergue a mão em direção à luminária a fim de ligá-la
A luz não acende.
Tenta de novo.
Nada acontece.
Tenta uma vez, ainda.
A reação da luz permanece a mesma: apagada.
Mas a reação de Mulder muda por completo.
Findara-se-lhe a calma, a paciência, o controle de suas emoções.
Num ímpeto joga no chão a luminária que tem sua lâmpada despedaçada, causando
um ruído cristalino no contato com o chão.
- Droga!! - brada.
Havia, num relance, lembrado que a lâmpada do teto estava queimada desde o
começo da manhã anterior.
E já passara da meia-noite. Já é hora de ir descansar o seu corpo, a mente,
o coração...
Tateando pela estante tenta achar a lanterna e não pode encontrá-la em meio ao
monte de pastas e documentos espalhados.
Bate com as mãos nos bolsos e pode ouvir o tilintar das chaves do carro e de
casa.
Vai procurando caminhar entre os móveis da sala até chegar a saída, derrubando
nessa caminhada uma cadeira e tropeçando em algumas caixas depositadas no chão.
X x x x x x x x x x X
O dia já amanhecera.
Mulder abre os olhos, pesadamente.
Vira-se de bruços bruscamente e isso faz balançar o colchão d'água, ondulando
sua superfície.
"O que está acontecendo comigo?" - reflete Mulder - "Não tenho mais paz,
não tenho sossego, já nem durmo direito! Que droga é essa? Ou melhor, que
droga de vida é essa?!
Scully... Scully... Dana... ela está saindo com aquele cara...! E ele vai
conseguir com que o Skinner permita a transferência dela!"
O telefone toca. O celular.
- Mulder. - ele atende.
- Agente Mulder, - diz Skinner do outro lado da linha - como deve estar
ciente, a Agente Scully deve fazer uma viagem hoje .
- Viagem? Onde? Por que ela não me disse?
- Bem... não sei, mas... ela não lhe disse? - admira-se.
- Se me disse? Ah...! Me disse! Sim, claro! Eu já ia esquecendo! E com quem?
Ah! Já até sei com quem! - corta qualquer hipótese de explicação - Já estou
a par, senhor - faz uma pausa - Mais alguma coisa?
- Não. Está tudo certo , Agente Mulder.
Ouve Skinner desligar do outro lado.
X x x x x x x x x X
Fôra um dia cheio.
Drogas, sexo, orgia, dinheiro, tudo isso envolvendo pessoas importantes da
cidade, cujas atuações haviam sido desbaratadas por Mulder nas suas
investigações. Trabalho perfeitamente realizado.
Para ele, no entanto, é como se não tivesse tido êxito em seu trabalho. Sentia-
se amargurado, quase derrotado.
Mais do que nunca sentia-se "o estranho Mulder".
Somente porque havia feito tudo sozinho.
Havia trabalhado sem sua parceira.
Hoje, mais que em qualquer outro dia, ele está a fim de acabar com a raça do
mundo inteiro...se pudesse!
"Mas por que Scully nem sequer deu-me um aviso? Será que a transa com o cara a
entusiasmou tanto que jogou o dever pro alto?" - assim pensa ele.
Toma agora uma decisão.
Decide ir procurá-la em sua casa. Seria a melhor saída para aliviar seu
desespero de homem ferido pelo ciúme.
"Mas ela viajou! Será que estou maluco? Ela viajou! E com ele!
E nos momentos em que não estão trabalhando, o que fazem os dois?
Vão conversar, trocar idéias... ele vai tocá-la, vai beijá-la...?"
O sol já está se pondo no firmamento. Já está entardecendo. O horizonte
avermelhado, os raios do sol formando uma fantástica tela de pintura feita
pela mão do Criador.
A sala do Agente fechada, na penumbra, está numa desarrumação sem precedentes.
Com a ausência de Dana Scully tudo parece ficar difícil diante da incapacidade
de Mulder organizar o seu próprio escritório.
Porem sob toda essa desorganização, algo existe ali dentro que o atrai e o
mortifica ao mesmo tempo: a sala toda tem o odor do perfume de Dana, os
arquivos recendem o frescor de suas mãos, nas cadeiras ainda o calor do seu
corpo. Porque tudo ali lhe faz lembra Dana Scully.
Mulder sentado, com as mãos à cabeça, não sabe que atitude tomar.
Está terrivelmente cansado. Esgotado. Extenuado. Derrotado.
Cadê a sua amada, que parecia-lhe estar a cada dia a retribuir-lhe a sua
admiração, o seu amor por ela? Já há um dia e meio que não via Dana. A
ansiedade já tomara-lhe todo o espaço no coração.
Levanta-se, rapidamente, e sai da sala do porão, em direção aos corredores
do FBI.
Lá em cima, no corredor, pára em frente à uma porta.
- Quem é? - perguntam lá de dentro.
- Agente Mulder. - anuncia-se.
- Um momento só, por favor! - respondem.
Há já quase um minuto e a secretária não lhe mandara entrar.
O que estaria acontecendo lá dentro, afinal?
E quem pensa que é esse novo Diretor dentro do FBI?
Finalmente a secretária vem abrir a porta para Mulder.
- Ah, boa tarde!
- Quero falar com o Diretor Duclos. - diz Mulder.
- Ele está ocupado, Agente Mulder... sinto muito.
- Tem alguém com ele?
- É... tem... tem sim... - responde, meio sem jeito.
- E quem é?
- Ah, sinto muito, Agente Mulder. Tenho ordens do Diretor Duclos de não dar
informações sobre as pessoas com quem ele se reúne.
- É mulher? - ele insiste em saber.
- Hum, hum. - a secretária admite, constrangida.
Mulder faz menção de ir até a porta do gabinete do homem, porém é impedido pela
moça, que segura-o pelo braço.
- Não, pelo amor de Deus, Agente Mulder! Eu posso até perder o meu emprego!
Mulder suspira de indignação.
Seus maxilares pulsam sob a pele que os recobre.
Sente-se mal.
- Essa mulher é daqui do Bureau?
- Sim, Agente Mulder.
- Por acaso é uma Agente que chegou de viagem?
- É... eu... acho que sim; foi o que ela disse...
Mulder não precisa de mais nenhuma confirmação da moça. Dá meia volta e sai
completamente revoltado da sala do Diretor Duclos.
"Então pra mim chega! Scully tornou-se uma mulher de programa e em poucas
horas!! E eu que a quero tanto! Tantos anos protegendo-a, guardando-a para
mim... eu... o estranho Mulder... tão estranho que sou aviltado pela própria
mulher que amo!" - sente nos pensamentos os maltratos que lhe doem no coração.
X x x x x x x x x X
Um dia tormentoso.
De céu cinzento, neve, gelo, frio... frio na alma e no coração.
Mulder correra muitos quilômetros até cansar. Se pudesse iria até o fim do
mundo... sem parar. E sem retorno.
Deixa que a neve lhe caia sobre a cabeça e seu corpo.
Poderia até enregelá-lo, até mesmo que ele pudesse ser transformado em um
boneco de gelo em que os garotos viessem a atirar-lhe bolas de neve até vê-lo
desmanchar-se, desfazer-se em nada...
Mulder chega em seu prédio.
Entra na portaria. Sobe até o andar.
Enxerga a porta do seu apartamento.
O número 42 encravado na madeira... mas há uma dúvida.
- Acho que errei de apartamento. - fala alto.
- Não, Mulder. Sou eu mesma! - sorri Dana para ele.
Ele nem quer acreditar.
Scully está ali, junto à sua porta.
E descaradamente despreocupada!
Mulder mantém-se parado, estático sem fazer menção de abrir a porta.
- Mulder, o que há? Parece que viu um fantasma?
Ele não responde. Permanece parado, sem ação.
Calmamente, Dana retira as chaves que tem no bolso do blazer e abre a porta.
- Vem, Mulder. - ela o chama para acompanhá-la e fita-o com atenção - Acho
que está acontecendo alguma coisa com você...
Mulder entra num repente, passando direto para o banheiro.
- Vai tomar banho, Mulder? - ela pergunta.
Não ouve resposta.
Dá de ombros e não dá mais atenção ao fato.
Dirige-se à cozinha. Sabe que Mulder nada tem preparado em casa para aplacar a
frieza do tempo e esquentar o estômago. Vai preparar um café.
Ouve o barulho da água caindo no banheiro.
Movimenta a cabeça negativamente, censurando o modo de como Mulder nem sequer
a cumprimentara. E dois dias estava sem a ver! Será que ele não sentira
nenhuma falta dela? Será que não mesmo?
Será que ele suprira sua ausência com a presença de alguém mais importante para
ele?
Dana sente um sentimento de frustração tomar conta de sua mente.
Após alguns minutos ouve-o abrir a porta do banheiro.
O aroma do café recende pelo apartamento.
- Mulder, você já acabou? Fiz um cafezinho! - avisa, animada.
Vai até a sala, senta-se no sofá e aguarda.
Mulder vai até a sala, esfregando a toalha sobre os cabelos molhados.
- Mulder, desde que cheguei ainda não me dirigiu uma palavra!
- É... será que isso faz falta a você?
De súbito ele joga a toalha sobre uma cadeira, dirige-se a Dana para perguntar:
- E então Scully... como foi de... viagem?
Dana apoia a cabeça num dos braços, amparando-o sobre o braço do sofá, numa
posição de relaxamento.
- Ah, nem fale... muito cansativa - apenas valeu pelo fato de ter ajudado
um ente querido meu . - ela fecha os olhos - Imagine você que o Bill é que
teria que levar o menino até lá naquela cidade. É um caso sério, mas já que a
mulher dele está doente, Bill com problemas a resolver na Marinha, minha mãe
com aquelas artroses nos joelhos que a maltratam e nem pode andar muito...
sobrou pra mim!
"Mulder a escuta com ar de espanto e de incredulidade.
Dana olha-o e ele parece-lhe ver no parceiro um ar de sofrimento.
Levanta-se para perguntar:
- Mulder, você está estranho... o que há?
- Claro que nada, Scully, mas me conte o resto da sua estória...
- Minha estória? Parece que você está usando um tom de ironia... - olha-o
cismada e franze as sobrancelhas e respira fundo - ... pois bem, mas aí tive
que eu mesma providenciar tudo e mais o caso da prótese do meu sobrinho.
- Prótese?
- É... ele tem que usar... ahn... para um dos pés... E o médico é uma amigo
nosso. Cuida de toda a família e do meu sobrinho desde que ele nasceu.
- E o almoço com Duclos?
- Almoço?
- É... antes de você ir lá para o interior...
- Mas se fui pra lá anteontem, Mulder ! Que almoço com Duclos é esse que está
me perguntando?
- Eu não sei... - passa a mão nos cabelos desalinhados.
- Ah, Mulder, desculpe, é verdade! Eu havia me esquecido de que ele me
convidou pra almoçar com ele antes de eu viajar! Foi isso! - baixa o tom de
voz - Mas não me sinto inclinada nem um pouquinho para agüentar galanteios
desse falso Don Juan.
Mulder não tem palavras para retrucar.
Sente-se um homem violento, bandido, para com sua Dana Scully, que nem merece
tal atrocidade dos pensamentos que ele está tendo contra ela.
Dana aproxima-se dele e tenta arrumar-lhe os cabelos, deslizando os dedos entre
eles, puxando-os para trás, docemente.
Ela usa um gesto terno para o que está fazendo.
Não é somente um pretexto para ajeitar aqueles cabelos revoltos, mas
simplesmente uma carícia.
- Mulder, eu não sei o que vejo em você de diferente, mas acho que você não
gostou porque eu fui lá com meu sobrinho e o deixei só... teve muitos assuntos
a resolver? Deixei você enrolado com o trabalho? Precisou muito de mim?
- Scully, - resolve a falar - eu preciso de você a todo instante, não tenha
dúvida disso... mas é que você não me deu nenhum aviso... nada!
- Não lhe dei aviso?! E o bilhete que mandei entregar-lhe pelas mãos da Agente
Sophie?
- Sophie?
- É... lá do gabinete do Anderson! Você não recebeu, Mulder?
Ele meneia a cabeça, negativamente.
Dana leva as mãos ao rosto, assustada.
- Não?! Mulder... eu... pelo amor de Deus me perdoe! Não foi culpa minha!
Dois dias sem saber nada? Onde eu estava?! Nada?!
Alguém toca a campainha.
Mulder dirige-se à porta para abri-la.
- Agente Mulder, sou eu, e morrendo de preocupação!! - fala a recém-chegada.
Sophie é bela e insinuante. O corpo bem delineado e de atitude vivaz. Vendo o
semblante incrédulo dele, fala:
- É verdade! Estou preocupada! Eu estou com um recado... - arregala os olhos
ao ver a outra Agente na sala - Dana! Meu Deus, me perdoe, amiga!
- O que houve? - Dana finge não entender o motivo do nervosismo de Sophie.
- Ah... Dana eu a fiz passar como uma funcionária relapsa, sem preceitos de
profissionalismo...
- Mas o que houve? - Dana insiste, embora já pressinta a verdade.
- Você deu-me o bilhete para entregar ao Mulder e eu tive que fazer uma viagem
às pressas, guardei-o dentro da bolsa e...
Dana denota irritação em seu semblante.
Pestaneja lentamente. Franze os lábios. Cruza os braços.
- Não entregou meu bilhete ao Mulder!?
- É verdade. Não entreguei. Me perdoe, Dana, por favor! - pede, com
sinceridade na voz.
b
- Não tem problema. - diz, continuando em sua pose, olhando Sophie.
Sophie volta-se para Mulder, sorridente e como sempre com seu ar insinuante:
- Agente Mulder, pode deixar que de outra vez virei rapidinho e à viva voz
entregar o recado!
Os olhos de Dana não perdem um segundo sequer os maneirismos que Sophie usa para
dirigir-se a Mulder.
Percebe um sentimento incomodá-la no seu íntimo: ciúme.
Sophie, novamente dirige-se a Mulder:
- Agente Mulder, por favor me desculpe; realmente é sobre um recado que Dana
deixou para que o entregasse a você. Meu Deus, Mulder, eu esqueci de
transmiti-lo a você porque não vim aqui anteontem. Somente cheguei
ontem de viagem; quando o procurei não o encontrei; houve um desencontro,
entende?
Mulder dá uns passos para trás, põe a mão no queixo e pergunta e Sophie
tentando demonstrar um ar bem casual:
- Ah, Sophie, me diga uma coisa: por acaso ontem você esteve em reunião com
o Diretor Duclos?
- Sim, estive à tardinha, por que?
- Ah, nada... nada importante, Sophie.
- Bem, mas você me desculpa, Agente Mulder?
- Sem dúvida, Sophie.
- Obrigada, mesmo. - fala em tom de voz melosa e insinua com os lábios um
beijo dirigido a Mulder .
- De nada. - ele responde, olhando para Dana e sorrindo.
- Eu preciso ir agora. Tenho coisas a tratar. - dirige a voz para a colega
- Pode deixar Dana, de outra vez venho falar diretamente com ele. Agora já
sei o endereço, está bem?
Encaminha-se para a porta, enquanto Dana a observa e Mulder a ajuda a sair.
- Prefiro que esqueça mesmo... é melhor. - Dana resmunga ao vê-la sair,
sentindo o ciúme suplantar todos os outros sentimentos que por acaso quisessem
tomar conta de sua alma.
Dana chega para junto de Mulder.
- Vamos Mulder, tomar nosso cafezinho. Ele vai nos aquecer e nos deixar mais
confortáveis com esse frio que está fazendo hoje.
- Scully... - ele murmura.
- O que? - lançando-lhe um sorriso; mas o vê sem querer continuar - O que
foi, Mulder?
Mulder toma as mãos de Dana e leva-as até os lábios, beijando-lhes todas as
pontas dos dedos, num gesto de imenso carinho.
Dana sente um frêmito de prazer com esse gesto dele.
Olham-se nos olhos, profundamente.
Fundem-se os olhos um no outro, mergulhados em profundo êxtase.
Mulder aperta as mãos de Scully contra o peito e fala:
- Amo-te como amiga e como amante, numa mesma cruel realidade...
O ciúme, que quase o destruíra, que o deixara com o espírito aniquilado,
quase fora o causador de uma discórdia que somente teria fim numa terrível e
cruel separação.
E isso seria o fim de tudo, de sua esperança, seus ideais.
Portanto Dana Scully nunca, jamais iria saber do seu ciúme, do seu medo de
perdê-la. Do seu zelo amoroso.
Mulder adotaria o silêncio como seu aliado na luta pelo amor da mulher que
ama, que deseja e que sempre espera...
Só o silêncio a partir deste instante, porque...
"O silêncio é o desafogo das grandes paixões."
Camilo Castelo Branco
FIM