Data - 30.01.2000
SINOPSE
Uma estória baseada nos títulos de todos os episódios de Arquivo-X exibidos, desde a
1ª até a 6ª temporada do Seriado, para entretenimento dos
excers-shippers... e até noromos, quem sabe?
MISCELANEA SHIPPER II
CAPÍTULO -TEMP. 1
O piloto, enquanto opera os instrumentos de bordo através do
painel da aeronave, observa o espaço sem fim à sua frente, onde montanhas de nuvens
brancas amontoadas no imenso azul demonstram claramente que a verdade está lá fora,
mas tão inalcançável quanto possa imaginar.
O co-piloto olha-o:
- Companheiro, o Eugene, que apelidaram de "o fantasma da máquina" está
como tripulante hoje, tá lembrado?
- Ah sim, é o homem que não queria morrer, quando houve aquele acidente do Boeing
no ano passado, lá na Australia.
- Pois é, - continua - ele vive como sombras ou alguém que volta do além,
já reparou? É bem estranho, o cara.
- É ele que chamam de o vidente porque tem um elo de ligação com o
demônio de Jersey; não é esse mesmo?
- Sim, ele! Você não concorda que estamos numa verdadeira missão em perigo tendo
esse cara na tripulação? Inclusive sei que ele já foi processado por causa de uma caçada
sangrenta que praticou, correndo atrás de alguém...
- Era assassino ou assassino, o perseguido?
- Na verdade não sei. Só sei é que ele costuma chamar de assassino imortal. E o
negócio é que muitas vezes, quando a noite cai, o mais certo é que o Eugene
Tooms volta a atacar!
Ambos dão altas gargalhadas.
- Atacar? - diz o outro rindo, ainda.
- Sim. Mas não é ninguém vivo, não; é o ser do espaço que ele diz ver.
- Pois é, só sei que o cara tem uma dupla identidade. Mas qualquer coisa que
houver aqui no avião estaremos protegidos pelo homem dos milagres (chamam assim,
sabe?) que faz, na verdade, milagres, para resolver cada caso! E o pior é que consegue na
maioria das vezes!
- O Agente Especial Fox Mulder, do FBI. É um dos nossos passageiros nesta viagem.
- Ah, sei, aquele que resolveu o caso do Projeto Litchfield?
- É, já ouvi falar muito dele; dizem que já enfrentou até a besta humana que
existiu em algum lugar que não lembro agora. Investigou também o caso do homem que era
um incendiário, que criava fogo com as próprias mãos.
- Exatamente. Só sei é que Fox Mulder toma todo o tempo de sua vida fazendo jogo de
gato e rato com toda espécie de pessoas e situações estranhas e inusitadas.
CAPÍTULO-TEMP 2
- Estou sem dormir a mais de vinte e quatro horas, você sabe....
- O que houve, Scully? Com essa luz suave aqui, você pode dar uns cochilinhos até
chegarmos em nossa cidade.
- E você, por sua vez, já conseguiu tirar a colônia de homenzinhos verdes
de sua cabeça? - ela sorrí.
- Eu talvez nem o consiga. Está no sangue isso, Scullly; como se eu fosse o hospedeiro
deles. - toma-lhe a mão - Ah, querida, acho que por um fio você livrou-se do emasculatas,
o vírus da morte lá naquele navio fantasma.
- E você não sentiu nada mesmo, nenhum sintoma, Mulder?
- De jeito nenhum. Impressionante foi a ascensão do Duane Barry naquele tal
sanatório da morte onde ele estava internado! Foi uma coisa fantástica, pois ele
estava exatamente igual a mim naquele caso Anasasy, lembra? Aquela doença de terrível
simetria, que só acabou mesmo com as orações daqueles velhos: a trindade que
era formada por aqueles, os Calusari.
Scully aponta um homem à distância:
- Mulder, está vendo aquele sujeito lá?
- Quem é? - estica o pescoço para ver melhor.
- Ah, não lembra, Mulder? É o sujeito que conhecemos no Museu
Vermelho. - baixa a voz - O tal que vivia à procura de ossos frescos em Aubrey.
- Exatamente, lembro-me sim, Scully! - mexe-se na poltrona - Devemos
ficar alerta.
- Ora, por que? - admira-se.
- Scully, a vida desse homem é a mais verdadeira fraude que ninguém jamais
conseguirá desvendar de forma alguma neste mundo. Ele vive metido com adoradores das
trevas e o nome dele é Eugene.
- Eugene? E você o conhece, é?
- Sim. - Mulder levanta-se - Fique de olho nele. A qualquer instante ele pode aprontar
algum caso com o resto da tripulação.
- Por que diz isso, Mulder?
- Porque ele sempre foi assim. Encrenca com os colegas de trabalho, sempre.
- E como deixam esse homem continuar a trabalhar como tripulante de avião?
- Bem gostaria de saber, Scully.
Ela recosta-se o mais confortavelmente possível no encosto da
poltrona:
- Mulder, pra mim isso já é um fim de jogo. Não posso mais continuar acordada. O
sono está vindo e está irresistível, agora.
- Durma um pouco, Scully. Eu volto já. - sussurra amorosamente.
CAPÍTULO-TEMP. 3
O pânico havia tomado conta dos passageiros do avião.
A tripulação acuada, mantida ali à frente dos viajantes, sob o cativeiro
do colega de má índole, Eugene. Ele aparenta ser até tímido demais, porem no
entanto age como instigador de tragédias; ele é uma verdadeira encarnação
do "grotesco monstro do lago", como o tratam seus colegas, acostumados a
dar-lhe dezenas de apelidos.
Mulder já percebera, no seu passeio dentro do avião, qual a
real situação em que todos se encontram.
- Mulder, - diz Scully - com as revelações desse sujeito aqui,
dá pra sentir não que a morte vem do espaço, mas sim que ela vem no espaço! -
tenta brincar.
- Você está com medo, Scully? - ele a abraça ternamente - Não fique.
- E não ficarei, Mulder. Tenho você ao meu lado. Você é sempre o milagre que me
dá novas forças para tudo acreditar e ter certeza de que nunca estaremos grampeados
em alguma armadilha maligna.
- Não se preocupe; em meia hora estaremos aterrissando. E além do mais eu acredito que o
Eugene está a caminho da cura.
- Acha é? De tão perto do espaço sideral a gente fica imaginando como o dinheiro
infernal é a mola do mundo, principalmente o desonesto.
- Mas o que isso a ver com o dinheiro, Scully? Esse pobre homem que chamam até de o
falso alienígena é um doente, um psicopata... não um verdadeiro malfeitor!
- E você não sabe que aquele japonês mais velho - aponta com o olhar - daquele grupo
ocupando as poltronas lá da frente é o dono das Docas Piper Maru?
- Ah, é? Bem, eu só sabia mesmo é que maru significa navio em japonês. - ele sorri.
Reparando bem, a maioria do grupo é bastante jovem.
- Sim é, mas você e nem ninguém poderá saber como aquele homem conseguiu a fortuna que
possui hoje; é um mistério...
- O mistério do Piper Maru. - comenta Mulder, maliciosamente.
Scully balança a cabeça, anuindo.
Neste exato momento, o grupo de japoneses levantara-se
rapidamente e de uma só vez, mostrando sua indignação e voltando-se contra os
propósitos de Eugene e do outro que aliara-se a ele para causar algum tumulto e revolta
dentro da aeronave, usando palavras e atitudes grosseiras contra os passageiros.
O gesto do grupo foi uma surpresa para Mulder e Scully.
- Páre ai, cara! Você tem que deixar-nos chegar ao nosso destino em paz! - grita um dos
japoneses, dirigindo-se ao homem junto de Eugene.
- Qual é o seu nome, cara? - pergunta outro do grupo.
- Pra que quer saber? - responde o homem.
- Ele é Clyde Bruckman. O cientista estudioso em insetos. - explica outro.
- Ah, estudioso em insetos...! - o japonês está com uma das mãos no bolso, parecendo
estar portando uma arma - Ponha-o na lista da morte, Taiko.
Todos do grupo de japoneses caem na gargalhada, o que deixa o restante
dos passageiros amedrontados, na expectativa de verem ocorrer ali um nefasto tiroteio.
Bruckman parece dar-se por rendido naquele momento e ergue as mãos,
com ar de medo no semblante.
- O que os senhores querem de mim?
- Ah, cara, você sendo um estudioso em insetos, deve conhecer como fazer esse inseto aí
do seu lado parar com esse maldito motim aqui dentro, querendo deixar a todos
atormentados. Queremos viajar em paz!
- Mas ... senhor... isto não é uma guerra das baratas! - reclama Bruckman - O
Eugene é simplesmente um homem atormentado!
- Não importa o que ele seja; importa é que o raio da morte não venha a
atacar-nos.
Scully murmura para Mulder:
- Que raio é esse a que ele se refere?
- É um sistema de extinção em que os antigos egípcios acreditavam e a tal crença
espalhou-se pelo mundo inteiro e dizem ser uma maldição da múmia que está numa
daquelas pirâmides lá do Egito.
- Não entendo o que tem isso a ver com japoneses. - comenta Scully.
Um dos japoneses jovens do grupo inopinadamente atira um grande pacote
de papel e material usado em escritórios sobre Bruckman, que tenta desviar-se do golpe,
porem é atingido no tórax, caindo no chão onde bate a cabeça, ficando desacordado.
- Isto é o repouso final de Clyde Bruckman, Scully. - comenta Mulder.
Imediatamente ele saca de sua arma e na outra mão exibe as
credenciais:
- Sou o Agente Fox Mulder do FBI. Fiquem todos onde estão e ninguém se mexa!!
Uma grande quantidade de material caído no chão está esparramado sob
os pés de Scully, que já havia se levantado para exibir também sua identificação.
Diante da arma apontada em sua direção os japoneses calam-se e
mantém-se de mãos erguidas.
- Dentro de mais vinte minutos estaremos aterrissando e a Polícia do local tomará conta
de vocês. - informa o Agente.
- Mas Agente Mulder, o que nós fizemos? - protesta um deles.
- Estão criando tumulto dentro de uma aeronave de passageiros. - diz Mulder e volta-se
para o homem criador de casos - E você aí, Eugene... - aproxima-se dele e passa-lhe as
algemas nos pulsos.
O monte de material jogado ao chão mostra mais de três quilos de
clipes que haviam saído de dentro do pacote ao ser este atirado em Bruckman, ainda
desacordado.
- Podem juntar tudo isso aí no chão! - ordena Mulder e após diminuir
o tom de voz, conclui irônico - Isto é uma operação clipe de papel.
O grupo de japoneses, após obedecer às ordens de Mulder, senta-se em
seus lugares, demonstrando aborrecimento e frustração, tendo sido eles, inclusive,
censurados sob o olhar do homem mais velho, que os reprovara em suas ações.
Scully aproxima-se de Bruckman para examiná-lo:
- Ele está bem, Mulder. Logo sairá do desmaio.
A tripulação, carregando Eugene aprisionado, encaminha-o para a sua
cabine.
CAPÍTULO-TEMP. 4
O Aeroporto repleto de gente andando em várias direções é um
amontoado sem fim de sons. Vozes das pessoas, juntando-se ao alto-falante de aviso das
saídas de vôos, traz a cada um que ali se encontra uma sensação de lapso de tempo
em sincronia com uma profunda inquietação.
Um dos tripulantes do avião em que Mulder e Scully viajaram, já havia
encaminhado Eugene para um hospital psiquiátrico.
- Estou louquinho para chegarmos no nosso lugar preferido, Scully, você sabe...
- Claro! É sempre uma procura incessante em que se vive buscando encontrar paz
para nossas almas no lugarzinho certo, enquanto o mundo gira.
- Mulder, - ela lhe toca num braço - vamos naquela sorveteria lá, comprar sorvete?
- Qual das duas? - ele volve a vista em direção das lojas.
- A de nome Teliko, Mulder! A outra chamada Tunguska A pedra da morte, é
uma locadora, com a propaganda de um filme, não está vendo?
Ambos dirigem-se para a sorveteria Teliko.
Mulder rebusca nos bolsos:
- Scully, não acho uma moeda sequer!
- Ah, Mulder, se você não comprar isso pra mim, será um desprezado, pode crer. -
brinca.
- Então pode começar a fazer uma oração para um morto, Scully. É o meu fim.
Não suportaria ser desprezado por você!
Scully ri, divertida:
- Já estou sentindo até uma terrível inquietação aqui dentro de mim, se eu
não conseguir tomar um sorvete! - queixa-se.
- Não, Dana, pode deixar. Você poderia até visitar o campo onde eu morrí, se eu
tivesse que sofrer um desprezo de você e acho até que eu faria um acordo com o homem
do câncer para que ele me tirasse algum órgão; assim eu não precisaria permanecer
mais por este mundo.
- Ah, tá! Aí então eu faria umas meditações sobre um canceroso, que no final
se tornaria um sanguinário completo e total, tirando sua vida e em consequência
disso a minha própria vida. Já pensou nisso, Mulder?
- Mas que conversa mais macabra arranjamos, hein, lindinha? - puxa-a mais rápido pela
mão - Vamos logo comprar esse sorvete.
Enquanto dirigem-se à sorveteria, Scully continua:
- É que você pensa que eu nasci de uma família que tem corações de papel...
- De papel não... mas corações de pano.
- Mulder, pára!! - protesta, franzindo os lábios fingindo-se raivosa.
Aproximam-se do balcão da sorveteria. Mulder pede os sorvetes.
O balconista os serve.
- Você quer um de casquinha, Scully/
- O que você acabar de tomar.
- Como é isso? Me explique.
- Tome seu sorvete e deixe comigo. Na hora H eu explico.
- São insignificâncias. Não liga não!
- Mas eu quero saber, Mulder!
Neste momento o sorvete cai da mão de Mulder, desfazendo-se sobre seus
brilhantes sapatos pretos.
-
Demônios! - pragueja ele, batendo o pé no chão, tentando limpar o sapato.
- Que pena, Mulder, que pena! Compre outro!
- Não. Quero só ficar com as lembranças finais desse que se foi e que só
consegui dar uma provadinha. Nunca mais vou tomar sorvete!
- Jesus, Mulder! Isso é a maior das mentiras que eu já ouvi! Nossa!
Mulder com seu sorriso sarcástico no rosto brincalhão, declama:
- Ah, meu sorvete, por que me abandonastes, minha deliciosamente gelada guloseima! Sabias
que eu te queria tanto! Mas agora não restou mais nada!
- Vai agora fazer elegia a um sorvete, Mulder? Muito poético!
CAPÍTULO-TEMP. 5
Os dois resolvem sair o mais rápido possível do saguão do Aeroporto.
Enquanto Mulder puxa-a pela mão, Scully está concentrada em ir abocanhando
discretamente seu sorvete de morango.
- Ali, Scully! Vamos pegar aquele primeiro taxi da fila.
- Espera aí! Não posso entrar no carro ainda com esse sorvete na mão, claro!
- Ok, vamos aguardar você terminar, então.
Scully continua saboreando seu sorvete, vagarosamente.
Mulder não desvia o olhar dos seus lábios, enquanto ela tira bocados do doce gelado.
- Mulder, se este cair no chão é porque você o está desejando...
- Você sabe o que eu quero e sou paciente, Scully. Eu sou o verdadeiro pacienteX
Não trabalho nos Arquivos-X?
- Sei, mas minha visão interior me diz que você está igual aos vampiros,
esperando sugar o sangue dos incautos.
Ele fita-a profundamente, com seus olhos esquadrinhadores e Scully sente um arrepio de
desejo em suas entranhas.
- Você sabe bem que o que eu desejo sugar não é sangue, lindinha...
- Mulder... - ela faz uma pausa e passa a ponta da língua sobre os lábios pintados.
- Não precisa preocupar-se com o baton; o feitiço dessa sua boca me deixa louco
tanto quanto pode deixar uma química como a biotoxina em alguém...
- Você sabe o que está dizendo, Mulder? Esta definição, você sabe se está correta?
Química? Que faz não sei lá o que? - finge-se ignorante no assunto, dando risadinhas.
- Ah, deixa pra lá. Só quero que você chegue no fundo da casquinha.
- Sou simpatizante dessa parte do sorvete e da outra que está acabando com ele...
também. Aliás, dessa eu gosto mais...
Scully, propositadamente, o faz permanecer cheio de desejos, entreabrindo os lábios
molhados pelo sorvete de morango.
Fitam-se olhos nos olhos, demoradamente.
- Scully, anda! - pede ele, baixinho; faz uma pausa e olha ao seu redor - Eu queria ser
como o serafim e poder ficar ao redor de tudo; assim não perderia nada do que cada
uma dessas pessoas aí faz em seus passos, onde vão, o que fazem...
- Hum, hum. - ela confirma.
O ruído ensurdecedor de um avião checando os motores os faz estremecer de susto.
- Isso aqui é uma loucura coletiva. Está vendo tanta gente correndo, Scully? Cada
um em uma direção, um lugar... se eu pudesse, iria até à Inglaterra para participar de
uma caça à raposa.
- Ora, por que lembrou disso?
- Sei lá, Scully, me veio na cabeça.
- Eu não... - faz uma pausa no sorvete - eu preferiria ir àquele lugar onde existem os homens
mariposas.
Agora Mulder mostra seu belo sorriso nos lábios sensuais onde se abrigam os dentes um
tanto salientes.
- Agora você vai me dizer o porquê dessa preferência.
Scully não titubeia na resposta.
- Porque dessa vez eu levaria um bom saco de dormir, quando estivéssemos à noite na
floresta. Você não anda em busca da verdade do que digo? Está aí a resposta.
- Eu vou é acabar sofrendo de esquizogenia se você não acabar com esse sorvete.
- Arranjou uma doença nova, Mulder? Está ficando tão impaciente! Calma! Já é o
final!
O olhar de Scully, de brejeiro pela brincadeira agora tornara-se melancólico.
Cessara de tomar o sorvete, para fitar absorta um grande painel iluminado de uma
propaganda à distância.
Mulder acompanha a direção do olhar de Scully e o painel chama-lhe a atenção: uma
loura menininha, de cabelos lisos com franjinha, de rosto redondo e sorridente.
- Eu sei quem você lembra vendo aquele painel, Scully.
- Emily... - ela murmura para si.
Mulder tenta animá-la com palavras engraçadas.
- Lindinha, no fim do ano vou enchê-la de surpresas no Natal.
- Vou dar a você uma estátua linda como aquela ali. - aponta - Simboliza o Prometeu
pós moderno. Gostou?
- Ah, Mulder, há momentos em que me imagino um ser virtual
-
vivendo no ciber espaço, com tantas bobagens que você fala pra mim. - diz séria.
- É assim mesmo. Faço parte dos humanos mais estranhos da face da terra. As pessoas
acham de mim e de outros como eu, seres incomuns, diferentes, fora da órbita da terra
até... suspeitam da real inteligência de gente como eu...
-
Suspeitos incomuns... - comenta Scully baixinho, relembrando a frase de alguma coisa
que lhe chegara à mente vinda de tempos passados.
CAPÍTULO-TEMP. 6
- Mulder olhe, já estou acabando o sorvete. - avisa colocando a casquinha à frente dos
seus olhos - Dá uma dentada, agora.
Scully trinca os dentes no wafer da casquinha e logo Mulder faz o gesto na mesma
ocasião.
Suas bocas se encontram e se unem ao mesmo tempo com ternura e sofreguidão.
Scully fica segurando a ponta da casquinha do sorvete, enquanto ambos a trincam.
Mulder já não pode conter seus impulsos de desejo e puxa-a para si com ardor,
beijando-a sem querer saber se outros olham para a amorosa cena ali em público.
O último pedacinho do wafer já havia sido deixado cair no chão, esquecido pelos
dois.
Que importa isso? Que importa o mundo inteiro para eles? Importa-lhes sim, o seu amor
tão profundo, tão sentido e sofrido e esperado por tantos anos... agora somente importa
poder estar juntos, deixar tudo e todos para trás...
- Ai Mulder, - suspira ela - eu vivo na terra dos sonhos com você...
Ela sente que laços de ternura a unem cada vez mais ao homem que tanto ama.
- Nós somos um trio inseparável, Scully. Eu, você e o nosso amor de tantos anos.
Separam-se e começam a caminhar em direção à fila de taxi.
-
Segunda-feira temos que ir à Arcadia; lembra daquela cidade?
- Lembro sim. Fazer o que lá?
- Sei lá. O Skinner é quem sabe. Mas acho que é o princípio de uma
investigação sobre um sujeito que vive como o Tithonus da lenda grega.
Os dois entram no taxi, onde o motorista atende-os, gentilmente.
- Para onde vamos, senhor?
-
A viagem vai ser um tanto longa. Eu lhe oriento como deve ir.
- Não tem problemas, senhor. Vamos ver é se não pegamos a chuva que deve cair breve
sobre a cidade. Olhe lá as nuvens como estão escuras daquele lado..
- Hoje está previsto é uma tempestade de neve. - retruca Scully.
- É verdade, - diz Mulder olhando pela janela lateral - eu também vi essa previsão
anunciada na TV. Mas não tem importância isso, dirija somente.
Ele lê no vidro do pára-brisas o cartão de identificação do motorista:
TREVOR ALPHA
IDENTIDADE No. SR.819
- Sr. Alpha, - diz Mulder - quando chegar àquele triângulo de ruas próximo à
Kyte Square, desvie para a direita, por favor. É essa a direção para o meu endereço.
- Ok, senhor. - faz uma pausa e dirige-se a Scully - Permita-me perguntar: passaram bem as
festas de fim de ano?
- Ah, senhor, se lhe contarmos como os fantasmas estragaram o Natal...!
- Nossa! Fantasmas, é? Nem gosto de falar nisso!
Pára neste momento o taxi num sinal junto à um outdoor, onde se pode ver em letras
garrafais a palavra milagro.
- O senhor já viu falar em milagro? - quer saber o motorista, curioso.
- Claro que sim. Fui protagonista dele.
- Protagonista? O que é isso? - pergunta com sinceridade no semblante, sem entender nada
da resposta de Mulder.
Scully sorri, para comentar:
- Tem coisas, senhor, que não irá entender nunca sobre nossa árdua vida de trabalho
diário; palavras estranhas ao senhor, como: o antinatural, biogênesis e
outras mais.
- Realmente estou "voando", senhora! - ele dá gargalhadas.
- Mulder, - aponta Scully - está vendo lá adiante no alto? Já se pode vêr a dança
da chuva que o vento está carregando pra cá.
- É, vamos andar mais rápido, pois o perigo vem da água. - diz o taxista.
- Da neve, o senhor quer dizer. - conserta Mulder - É o que já está vindo e de montão!
Já se pode ver ao longe!
Scully observa no painel do taxi duas fotografias. A de uma mulher com uma criança e a
de um homem idoso.
- É seu filho? - ela pergunta.
- É, senhora. E essa é minha mulher. O outro retrato é do meu pai.
- E o senhor tem mais outros filhos?
- Não. Só um filho. - volta a cabeça para trás, sorrindo para ela - Mas tenho
dois pais.
-
Dois pais?! - Mulder e Scully exclamam ao mesmo tempo.
- Eu explico. Meu verdadeiro pai faleceu quando eu era ainda pequeno. E esse da foto é
meu padrasto que considero até hoje como o meu verdadeiro pai.
- Aaaaaah!! - exclama o casal.
A neve já começara a cair forte, agora.
O taxi chega ao ponto em que o casal tem que descer.
- Senhor, - diz o taxista - eu os levo na porta com meu guarda chuva, para ajudar...
- Não há necessidade, - retruca Mulder - estamos acostumados a enfrentar qualquer
tipo de tempo. Boa noite e obrigado.
O taxi sai do lugar e logo desaparece no final da rua.
Mulder abraça fortemente Scully pelos ombros, como se assim ela não pudesse sentir a
neve gelada caindo-lhe pelo corpo.
Caminham sem pressa, deixando que a neve cubra seus agasalhos.
Scully olha para Mulder.
Os cabelos dele cobertos de flocos brancos os faz ficarem rente à cabeça, o rosto
molhado; ele parece-lhe uma figura cômica.
Ela ri divertida e agarra-se mais a Mulder.
Param no meio da calçada e abraçam-se, deixando que a grande quantidade dos
imaculados flocos caiam sobre seus corpos e o frio já penetrando-lhes na pele.
A despeito, porem, de todo o frio que lhes enregela as entranhas e tudo ali à volta,
dentro deles a flamejante chama da paixão os assola.
Ficam ali abraçados, ainda, parados, só compartilhando a necessidade de sentir-se um
ao outro.
Scully, está com sua fragilidade aninhada nos braços aconchegantes de Mulder, os
olhos fechados, cabeça recostada sobre o peito dele, ouvindo-lhe o pulsar do coração e
sentindo em suas próprias veias a descontrolada rapidez do sangue a fluir e lhe causar
sintomas do inexorável desejo que lhe comanda os sentidos.
Naquele momento só existem os dois, mais ninguém, somente Aquele que os criou e os
assiste na sinceridade daquele amor e lá de cima, do alto, lhes enche o coração de uma
paz benfazeja.
Agora os inúmeros, pequeninos e leves flocos de neve já começam a cair mais
rapidamente, cobrindo as calçadas, os hidrantes, as árvores, tudo pela rua.
Mulder, com Scully abrigada entre seus braços, murmura com a boca sobre os seus
cabelos ruivos repletos de floquinhos de neve, dirigindo a ela a pergunta sem nexo:
- Está sentindo muito frio, Scully?
FIM