SUSTO DOS PAIS

"Não há palavras nem pincel que

interpretem amor nem dor dos pais."

Aleman

Capítulo 103

Dana sente a proximidade gostosa e quente de Mulder e de suas mãos constantemente rebuscadoras das protuberâncias do seu corpo.

Ele a afaga, enquanto a respiração agitada se confunde com a dela.

Mulder está cheio de desejo no olhar perscrutante, na boca faminta.

E Dana também sente-se cheia de desejo. Percebe que seu corpo pede Mulder. Necessita dele. Quase com ânsia, neste instante.

E ambos entregam-se aos desejos da carne.

* * *

Enquanto sente o ressonar e o movimento do peito do amado sob sua cabeça, Dana ouve lá fora o ruído da chuva a cair, ininterruptamente.

De vez em quando o barulho de um veículo a passar, uma voz a cortar o silêncio da noite.

Um breve gemido vindo do berço de seu filho a faz despertar os sentidos. Levanta-se para vê-lo.

A criança, agitando as perninhas a olha numa expressão diferente.

Havia reparado na cor ligeiramente azulada na pele do rosto da criança.

Mulder salta da cama, num pulo.

Ela pega a criança.

Por segundos observa-a no seu esforça em querer respirar. Rapidamente sua mente detecta o que está acontecendo, na verdade.

Abre a boca do bebê com o dedo indicador, fazendo-o penetrar até a garganta da criança.

Mulder está petrificado. Nem está entendendo o que se passa neste momento.

Com rápida habilidade, Dana traz para fora da boca da criança seu dedo, carregando com ele o culpado desse tremendo susto, do qual está sendo vítima a criança e seus pais.

Estarrecidos, vêem preso ao dedo de Dana um pedaço amassado de algo que estivera preso à garganta de William.

Dana abraça o seu bebê, que chora, agitado.

Mulder pega a criança dos braços da mãe.

Dana, suspirando aliviada, cheira, carinhosamente a barriguinha do nenê.

* * *

O dia amanhecera ainda chuvoso. Gotas cintilantes batem no vidro da janela. O céu enevoado mostra que muito mais água ainda será despejada do alto.

Sentados à mesa do café da manhã, Mulder toma um gole da bebida fumegante na xícara.

Mulder olha sobre a mesa o pacote de algodão e o pote de bicarbonato. Ele sorri, consigo mesmo. Acha lindo demais ter uma família assim, comum e deseja que tudo possa ser comum em suas vidas. Ou pelo menos deveria.

Dana começa a tomar seu café. Parte o primeiro pedaço de pão. Passa a manteiga. Vai levá-lo à boca.

O choro forte da criança, a faz interromper o gesto.

Mulder ri, divertindo-se.

Dana o acompanha, com um suspiro consolado.

O pai retira o bebê do berço. Aconchega-o junto ao peito, amoroso.

O bebê chora mais, intermitentemente.

Mulder devolve o bebê.

Mulder a fita agora, penalizado. Sabe que até hoje Dana sofre ao falar sobre a garota que teve tão pouco tempo de vida.

Ele sai do recinto, deixando-a pensativa, acariciando os raros fios de cabelo de seu filho, enquanto o vê alimentar-se no seu seio.

* * *

Dana entra na sala e logo um susto a deixa perplexa.

Mulder, tendo o lap top à sua frente, digita em suas teclas, atentamente.

Dana contém-se. Quase um grito de aflição saíra de sua boca.

Ele nem a vê tão atento está, olhando para a tela.

Ele, rapidamente, finaliza o trabalho.

Mulder não se faz de rogado. Sorri. No seu sorriso aberto e olhar matreiro.

Dana faz um trejeito, com ar indiferente.

Mulder segura-lhe a mão, num rápido gesto.

Mas Mulder, enquanto dialoga, vai continuando a acessar diversas áreas do computador.

Com indisfarçável pânico ela o vê checando a sua caixa-postal.

E assim dizendo, a faz sentar-se diante da tela do aparelho.

Ele manuseia e digita com destreza, abrindo a correspondência virtual.

O pânico de Dana já havia se transformado em desistência de lutar por uma causa que não era justa.

Afinal para que entrar em desespero, se não tinha culpa de coisa alguma, nem havia alimentado o assédio de nenhum homem! Está livre de qualquer erro!

E as mensagens vão aparecendo e o coração de Dana palpitando de ansiedade.

"O maior erro que podemos cometer é

estarmos receando constantemente

cometer algum erro."

Albert Hubbard