CAMINHO DO MEDO

 

 

"Uma simples sombra causa medo aos inquietos."

Ovidio

 

Capítulo 107

Na noite silenciosa Dana caminha. Sente-se um tanto atordoada. O chão de pedras úmidas machuca seus pés. Aperta sobre o coração o seu bebê amado.

Continua a caminhada; agora depara-se numa longa, estreita e sinuosa estrada de areia clara. A luz da lua cai sobre ela e torna quase irreal aquela alva faixa de chão. E Dana o pisa, incomodada. Seus dedos dos pés esforçam-se para tocar naquele solo, pois parece arder-lhe como brasas nas plantas dos pés.

O bebê lhe oferece o seu sorriso inocente e puro. Ela o aperta mais contra si.

Logo, no entanto, amedrontada, vê que os arbustos ao longo do caminho, curvam-se à beira da estrada à sua passagem, arrastam-se pelo chão e, com as sombras formadas pela luz da lua, se retorcem como serpentes, lambendo-lhes os pés.

Dana, aterrorizada, prossegue em sua caminhada. Tem um objetivo: ir ao encontro de Mulder.

Este lhe acena, ansioso, à distância, aguardando o momento de encontrar-se junto a ela.

E o caminho de Dana continua terrivelmente amedrontante.

Agora, ponteagudos e negros seixos estendem-se ao longo do estreito caminho.

As águas de um regato banham-nos, num ponto, tornando-os lisos. Escorregadios. Lodosos.

Mas os pés de Dana, teimosos, perseverantes em atingir o seu objetivo, prosseguem na sua jornada, atravessando este empecilho.

De súbito, a criança parece-lhe pesar sobre seus braços de mãe e ela sente isso e o prende ainda mais contra si.

Já avista Mulder mais próximo.

A luz da lua transforma o corpo dele, alto e esguio em uma figura disforme, aterradora, que se alonga e encolhe à sua vista, como um ser sobrenatural.

O bebê chora.

Ela prossegue, teimosa, o caminho do medo, mas seus pés descalços escorregam, ferem-se sobre as escuras e lisas pedras.

Já estão próximos agora.

E ela tem que entregar-lhe a criança. É preciso protegê-la. Nos braços do seu pai. Que pode livrá-lo do perigo dos malditos assassinos.

Seu filho chora, ainda. Agora num choro de medo. Pavor.

E Dana o entrega a Mulder, que, de braços estendidos, anseia pelo momento culminante de segurar seu filho.

Uma grande fenda no solo rochoso se abre. Luz intensa, brilhante, ofuscante, sai de seu interior, serpenteando no ar.

E, como que sugado por uma língua brilhante, o pequeno ser, o bebê de Dana e Mulder, é levado por aquela estranha luz.

Os braços vazios do casal estendem-se para o alto, num só grito de dor.

Mulder senta-se, inopinadamente.

Dana chora, com o rosto entre as mãos crispadas.

Ela também senta-se e atira-se nos braços dele.

Ela levanta-se, desprendendo-se dele.

Ele levanta-se, também.

Saem da cabine e batem na porta seguinte, onde está Maggie e o bebê.

Mulder consulta o relógio de pulso: 3:45h da madrugada.

A porta da cabine continua fechada. Maggie ainda não viera atendê-los.

Dana está em suspense. Seu coração de mãe está aos pulos.

"A mulher é sempre mãe,

mesmo quando é virgem."

Paolo Mantegazza