OBSTÁCULOS DA VIDA

 

 

"O rio atinge os seus objetivos porque

aprendeu a contornar os obstáculos."

André Luiz

 

Capítulo 108

Um dos homens que trabalha no interior do trem, acorre prestimosamente.

O homem pára por segundos e continua sua caminhada ao longo do corredor.

Dana insiste e bate na porta mais apressadamente.

Ouvem o ruído do trinco.

Dana dirige-se rapidamente para onde está seu filho, num sono tranquilo.

Dana, ouvindo a frase, aproxima-se dos dois.

* * *

No carro de aluguel Mulder dirige, enquanto Dana encontra-se no banco do carona. Maggie, com seu neto nos braços, está no banco traseiro.

Os olhos miúdos, mas atentos de Mulder detectam algo que lhe chama a atenção.

Dana nota sua preocupação, denotada pelos lábios apertados dele.

Adiante, uma placa anuncia uma bifurcação na estrada. Nessa direção Mulder gira o volante, dando uma inesperada guinada para aquele lado.

Mulder continua calado e atento ao carro que os segue, pois o mesmo havia também entrado na estrada lateral, atrás deles.

Mete a mão no bolso do casaco, buscando a arma. Discretamente, para que Maggie não perceba, ele a coloca no compartimento da porta.

Resolve pisar mais fundo no acelerador.

Dana engole em seco. Arqueia a sobrancelha, intrigada, aguardando os acontecimentos.

Uma ruga de preocupação aparece na testa de Maggie, vendo a velocidade marcada no velocímetro do painel.

Uma nova bifurcação Mulder vê à distância.

Aguarda, reduzindo um pouco a velocidade, para ver o movimento do veículo que o está seguindo há vários minutos.

Quase próximo à bifurcação, Mulder resolve acelerar mais ainda e seguir em frente.

Ele leva a cabeça para trás; seu peito enche-se de ar e o solta com um ruído nos lábios, fazendo um bico.

Dana olha através do pára-brisa. Para sua surpresa e alívio, vê o veículo que estivera bem próximo do seu por tantos minutos, entrando na estrada à esquerda da bifurcação e distanciando-se, visivelmente.

Fecha os olhos e agradece a Deus, com o pensamento numa oração.

Mulder diminui a aceleração da marcha. Sente desejo de assobiar, cantar até!

Fôra tudo um mero engano!

Maggie ouve o diálogo preocupada. Sempre foi seu desejo ver sua filha feliz, livre de problemas e mais ainda... de perseguições.

Dana, mais uma vez, engole em seco, incomodada. Já sabe o significado das palavras dele. E teme ao pensar na chegada do dia em que a segurança de vida de seu filho depende do desaparecimento do pai dele.

Por dentro do peito um agudo sofrimento a deixa com desejo de chorar.

Mulder olha-a ligeiramente, adivinhando o seu estado de espírito.

Em seu interior também existe um profundo pesar pela injustiça de seus destinos. Pergunta-se porque nunca pudera sentir um pouco de felicidade e paz. E isso desde a sua tão sofrida infância, junto aos errados pais e à sua irmã Samantha, que teve tão trágico fim.

* * *

O apartamento está na penumbra.

Apesar da familiaridade com que o habitam em sua vida diária, este agora lhes parece inóspito. Algo pesa sobre o ambiente. Algo impalpável, mas que lhes traz para junto de si o ar da desgraça.

Mulder esboça um leve sorriso.

Dana o olha de soslaio e nota o semblante dele num ar triste.

Sabe que ele jamais pudera ter maiores intimidades nem aconchegos com sua mãe. E sente-se triste por ele. E essa tristeza aumenta ao lembrar que, além de todas as incertezas que ela e Mulder têm no decorrer de suas vidas, existe, ainda, não abstrata, porém real e cruel a certeza de que, mais dia, menos dia, o destino irá separá-los.

E nem Dana nem Mulder podem ver com indiferença essa terrível possibilidade.

"A indiferença ante os problemas morais

é uma das doenças da sociedade."

Amiel