Mulder abre os olhos. Cansado está de tanto tentar dormir.

Levanta-se. Vai até a janela. Até onde sua vista alcança, só enxerga mesmo a rede interminável de luzes nos edifícios próximos.

Cada ponto de luz representa uma janela; um apartamento; uma moradia; vidas em movimento, em cada um daqueles compartimentos.

Uns felizes; outros infelizes: uns pobres: outros ricos: uns altamente perturbados: outros completamente em paz.

Amor. Ódio. Paz. Guerra. Prazer. Solidão.

Uma infinidade de sentimentos que podem existir em cada lar, cuja janela aparece aos olhos marejados de Mulder.

Ele quer parar de pensar. Mas como pode isso conseguir? Sua mente divaga por intermináveis caminhos.

De onde está, do alto desse andar onde se encontra, tão distante do solo, nem pode ouvir com clareza o barulho de motores dos carros.

Ele sai da janela.

Senta-se na cama. Segura a cabeça entre as mãos. Está cansado. Esgotado. Só. Sem Dana.

O aparelho telefônico na mesinha de cabeceira é uma tentação. Mas contém-se. Tem o firme propósito de não telefonar. E Dana também não terá meios como achá-lo, já que não trouxe seu celular.

"Fox Mulder, ainda não está tudo perdido! Sua vida ainda terá uma miraculosa solução!".

Sua boca distende-se num riso amargo, com essas palavras em sua mente.

"Miraculosa solução... será...? Quero crer nisso! Algo tem que acontecer!"

Em segundos sua mente volta-se para o poster colocado na parede do seu antigo escritório, quando trabalhava no FBI.

Ele joga-se de costas na cama, olhos fechados. Morde uma unha, tentando passar o tempo.

Levanta-se, de súbito. Joga por sobre o corpo o sobretudo.

Sai, batendo a porta. No elevador consulta o relógio que está marcando uma hora e trinta e cinco minutos da madrugada.

O recepcionista do hotel, ao vê-lo sair àquela hora, olha-o de soslaio.

Mulder alcança a rua. O frio de enregelar os ossos, o faz colocar as mãos nos bolsos.

Reduz a velocidade dos seus passos. Para que correr... se anda sem destino? Se não sabe nem em que direção está caminhando...?

Um policial parado em uma esquina, examina-o, detidamente, com o olhar.

Mulder passa.

Um grande relógio numa torre lhe chama a atenção. Pára, olha-o por alguns instantes.

"O que Scully estará fazendo a esta hora? Tenho absoluta certeza de que não está dormindo ou não sei... talvez esteja... ela está cansada de um dia estafante. Voltou ao trabalho e o FBI não dá tempo de que ela pense num momento de relaxamento e lhe dá pouco tempo para ficar com William."

Recomeça seu caminhar.

Enquanto as solas dos sapatos batem nas pedras da calçada, relembra cenas.

Dana, vestida num robe de cetim olhava, fascinada, o seu bebê adormecido.

• Olha, Mulder, não é lindo?
• É algo simplesmente maravilhoso, Scully.
• Obrigada, Mulder.
• Do que?
• Por esse filho.
• Hum, hum. - cercou-a com os braços - Você já me agradeceu por ele, lembra?
• Ah, é verdade. - encostou a cabeça no peito dele - Mulder...?
• O que?
• Sempre nos amaremos?
• Que pergunta! - apertou-a mais contra si e procurou-lhe os lábios carnudos.

A boca de Dana sequiosa à espera da sua entreabriu-se, já saboreando o beijo que ia chegar.

Mulder resolveu adiar o beijo, numa brincadeira.

• O que você quer? - sussurrou, em voz cheia de calor.
• Huuuum... você sabe... - disse, com tom manhoso.
• Agora não! - deu uma leve palmada em sua nádega.
• Ah, é? Quer que eu consiga um beijo à força, né? Me aguarde!

Mulder já havia desvencilhado-se dela e estava andando rápido para a sala.

• Espera, Mulder!
• Não vou sair. Estou aqui. Vem! - estendeu os braços para ela.

Dana cruzou os braços, insatisfeita. Suspirou fundo.

• Está bem. Muito bom. Já que não quer me beijar, eu também não faço questão...!

Alguém, num lugar distante, havia ligado um som, que vinha pela janela adentro, numa música suave.

Ele aproximou-se dela:

• Scully, você sabe essa música...?
• ... qual?
• Está ouvindo?
• Sim. Você a conhece?
• Espera... vou cantar...

Amor, eu partirei sem lhe dizer adeus

eu viverei longe dos olhos teus..

• Por que canta isso? - ela quis saber.
• Nada... só um palpite. - suspirou, baixando a cabeça.

Dana perturbou-se com essas palavras. Aproximou-se dele, aflita.

• Mulder, o que está acontecendo? Que palpite é esse? - seus olhos já estavam molhados.

Mulder apenas apertou os maxilares, abraçou-a com ardor, sem dar a ela tempo de ver sua fisionomia pesada, preocupada com o que deveria acontecer dias depois.

Ele beijou-lhe a nuca, suspendendo-lhe os cabelos. Ainda com os lábios postos em sua pele morna, desabotoou-lhe os botões da blusa, procurando tocar nos botões de carne dos seus seios.

Colou a boca na de Dana, que a recebeu cheia de desejo.

E essas lembranças mostram a Mulder a verdadeira solidão e carência na qual se encontra agora.