ANGÚSTIA NA MADRUGADA

"Angústia é um nó muito apertado no meio do sossego."

Mario Prata

 

Capítulo 113

Dana olha o mostrador do relógio digital: 2:35 da manhã.

Sente os olhos pesando-lhe nas pálpebras. Estão inchados pela insônia. Afinal, como conseguir dormir bem com toda essa reviravolta na sua vida? A infelicidade parece não querer jamais deixar de fazer parte da sua existência.

Levanta-se um pouco, para olhar seu filho. Para sua surpresa, ele está acordado, erguendo os bracinhos para tocar no móbile de estrelas brancas acima do seu berço.

O coração dela aflige-se em imaginar que, aquele simples brinquedo possa mover-se sozinho, como da outra vez. Nem gosta de lembrar esse fato que lhe perturba tanto, desde aquele dia em que até sua colega, Agente Reyes, o havia presenciado.

Já meses passaram-se da saída de Mulder e ela ainda tem na mente as palavras daquele homem das sombras:

"Queremos a vida de Mulder ou a de seu filho."

"Mulder... meu filho....! Nenhum dos dois eu posso perder! Eles são parte de mim! Hoje sinto-me cansada, esgotada, sem ação, devido aos dias de angústia e desespero que já tive por todo esse tempo! E perdi Mulder... por tão pouco naquele dia ! Ele esteve tão perto de mim...!"

Dana vai até o móvel, retira da gaveta o e-mail impresso que Mulder lhe havia enviado há algum tempo atrás .

"Tenho que enviar outra mensagem pra ele." - pensa, ansiosa.

Abre o papel dobrado, lê o seu conteúdo e o encosta no coração, apaixonadamente. Um suspiro profundo sai do âmago de seu peito.

Ela retorna o olhar para seu filho.

"Tirar meu filho de mim? Matá-lo? Somente aqueles seres sem coração, sem entranhas, aquelas criaturas são capazes de tanta crueldade! - leva os dedos à boca, como que querendo evitar um grito que lhe quer sair do fundo de sua alma.

A criancinha lança um murmúrio, como se quisesse falar, olhando-a e movimentando os braços em sua direção.

O toque do telefone a distrai.

O sonoro tilintar ressoa somente duas vezes e logo é desligado.

O cérebro de Dana logo imagina quem poderia ser.

"Mulder? Será possível que ele esteja tentando falar comigo? - leva a mão ao peito - Mas... e eles... aqueles miseráveis que monitoram minha vida? Eu poderia pedir ajuda à Monica ou... à minha mãe... sim! É isso! Mamãe! Ela pode me ajudar!"

Aproxima-se mais do berço da criança. Toma-a nos braços.

Caminha com seu filho apertado contra o peito, andando devagar, por toda a extensão do quarto. Cantarola baixinho uma música infantil, ninando o seu bebê.

A princípio os olhos curiosos e cheios de amor do bebê fitam sua bela mãe, emitindo sons que dão impressão de que deseja falar.

Aos poucos, porém, vai colocando os diminutos dedos no queixo de sua mãe, tocando-a, como que para senti-la.

E nesse movimento, lentamente, seus olhinhos vão fechando; a mão já não se ergue até a face de sua mãe e ele, enfim, adormece.

Dana aconchega-o a si e o beija, com ternura.

Coloca-o no berço.

Prepara-se para também tentar dormir. Senta-se na cama, fecha os olhos, faz uma oração a Deus, pedindo pela vida de Mulder e seu filho.

Com um longo e profundo suspiro, deita-se.

Acompanha, com o olhar, o movimento ondulante da cortina na janela. O céu está claro pela luz da lua e as cintilantes estrelas no infinito piscam, sem parar. Os grilos fazem ecoar o seu cri-cri incessante.

Embora fechando os olhos, a mente não pára de perturbá-la com inúmeros pensamentos. Dentro do coração muita angústia. Angústia esta que está a consumir-lhe as forças e o ânimo nessa madrugada fria.

"Eu preciso tanto de Mulder! Ele poderia estar aqui do meu lado...! Sofro muito, meu Deus, com a ausência dele. Tem momentos que me sinto fraca e impotente para continuar lutando.

Doggett e Monica fazem tudo pra me ajudar, claro... mas isso não basta! Isso não basta! Mulder faz muito falta... no seu discernimento, sua desenvoltura para resolver o que precisa, sua intrepidez, sua astúcia, sua coragem para enfrentar a tudo e todos...!"

Grossas lágrimas deslizam-lhe sobre a face e molham o travesseiro.

Sente-se perdida. Só. Ela somente e uma indefesa criancinha.

As pupilas azuis nadam nas lágrimas e refletem a luz fraca do abajur aceso.

* * *

Dana abre a porta para Maggie.

Maggie olha o rosto tristonho da filha.

A filha esboça um sorriso, apenas:

Dana a segura por um braço.

A mãe atende o pedido.

Dana afirma com um meneio.

Dana, com rapidez escreve num papel as palavras e os endereços que sua mãe tem que usar. Tem a certeza de que sua estratégia para comunicar-se com Mulder através de sua mãe, dará resultado.

"Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára."

Mario Prata

Wanshipper@yahoo.com.br