CORAÇÃO ANSIOSO

"Ansiedade é quando sempre faltam

muitos minutos para o que quer que seja."

Mario Prata

 

Capítulo 115

 

Cada minuto, cada segundo naquela plataforma, é uma preciosidade.

Dana, enquanto denota segurança exteriormente, em seu interior a ansiedade a faz aniquilar-se, lentamente.

O trem, que à distância dera seu sinal, já pode ser avistado. E, aos poucos, aproxima-se da estação.

Ela leva as duas mãos à boca, nervosa, desejando gritar a todo pulmão o nome do seu amado.

Aos poucos o ruído do trem mostra que suas máquinas estão parando de funcionar.

O olhar aflito de Dana perscruta os vagões, portas, janelas, uma a uma, nervosamente. Caminha de um lugar para outro. Alguns viajantes que haviam deixado os vagões, transitam por ali, tomando seu rumo, passando por ela, apressados.

Um dos passantes a olha, compassivo, e continua seu caminho.

Dana anda de ponta a ponta da pequena estação, observando atenta às janelas e portas do trem. Nada. Nem sinal de Mulder

Ela sente-se frustrada. Aniquilada.

Resolve esperar, ainda, alguns minutos para ter a certeza de que Mulder não viera.

Desanima. Já dez minutos haviam se passado e ela ainda está ali, aguardando. Mas nem sabe o quê. Mulder não viera, conforme prometera. De seu peito sai um profundo e dobrado suspiro. Sente-se cansada. Debilitada.

Se tivesse um tapete mágico para carregá-la até um lugar distante, sem fim, sentir-se-ia feliz. Mas não tem. Seus pés terão que sustentar e carregar seu corpo pesado pelo fardo do desgosto. Nem sabe como tem forças para aguentar tanta amargura.

A tarde ainda está clara. Esparsas imaculadas nuvens espalham-se no céu azul, mostrando que o tempo está perfeito, sem sinais de chuvas.

Caminha olhando à sua frente, lançando, vez por outra, um olhar para os lados, a fim de fazer um reconhecimento de todo aquele trajeto que está percorrendo até o hotel.

Já avista o lugar onde está hospedada e, por alguns minutos pára, observando duas crianças a brincarem alegremente no chão de areia.

Elas levantam pequenas vasilhas que contém areia e as despejam, divertindo-se com a nuvem que se forma quando o vento a desfaz no ar.

Dana reflete, por instantes, porque seu filho não pode viver como aquelas duas crianças, livres, soltas, tão naturais, tão despojadas de algum sentimento de medo de perseguições ou coisas que o valha.

Volta a caminhar, tirando da cabeça essas idéias.

De que adianta pensar dessa maneira, se a verdade é que tanto ela, quanto Mulder, sofrem as agruras de uma vida complicadamente insegura?

De que adianta cismar, sonhar, refletir sobre situações amenas, se sua vida, seus caminhos lhe deixam sempre o coração ansioso? Sempre buscando encontrar soluções que, na certa, nunca encontrará somente neste nosso mundo?

De súbito, todos os seus pensamentos são interrompidos. Ela sente que alguém lhe segura por um braço.

Volta-se, imediatamente, bem assustada.

Ele a toma nos braços fortemente. Estão próximos a uma árvore de largo tronco, cuja copa sombreia boa parte do chão.

O abraço apertado e afetuoso faz com que os dois se calem, só emanando deles a sensação da doçura e do amor que os une.

Dana sorri. Mas ao mesmo tempo seus olhos enchem-se de lágrimas.

Agora caminham abraçados.

Mulder estaca os passos para aspirar-lhe o perfume dos cabelos e apertá-la mais fortemente contra si, por alguns segundos.

Recomeçam a caminhar.

Mulder sente desejo de carregar no colo aquela quase boneca que tanto lhe aguça os sentidos do desejo.

Entram no hotel. Sobem a escada.

No quarto, Mulder olha ao redor.

Ele não a deixa concluir.

Puxa-a para si; segura seu rosto entre as mãos; fita-a com olhos perscrutantes; aos poucos os lábios vão se aproximando, num só desejo de realizar o que seus corações almejam.

Por fim, boca sugando boca, numa só sensação de posse e gula voraz.

Dana o recebe com todo o ardor de seu desejo.

Ele afaga-lhe os cabelos.

Por longo momento manifestam o desejo vibrante de seus corpos nesse beijo.

As mãos de ambos agarram-se às costas, mutuamente. Aflitas. Nervosas. Desejosas. Ansiosas por vasculharem o corpo amado colado ao seu.

Ele pára de acaricia-la com os lábios para fitá-la.

Ele a prende, inopinadamente, contra si. Nada responde.

Ele enfia os dedos trêmulos de desejo entre os cabelos dela, penetrando o olhar verde transparente, agora quase acinzentado, no azul vibrante e molhado dos olhos da amada.

A interrogação saíra tão rápida do peito dela, que ele é tomado de surpresa.

Fita-a, intensamente.

Dana nada mais fala. Seu olhar diz todas as palavras do coração. Não é necessário pronuncia-las.

Os olhos enchem-se de lágrimas, que escorrem do canto de seus magoados olhos.

Ela meneia a cabeça, negativamente.

"Não é possível! - pensa - Eu não aguento mais ficar longe dele!"

Mulder aperta Dana contra si, carinhoso. A impetuosidade anterior dera lugar à ternura, à doçura.

Ele levanta-lhe o queixo, procurando os lábios desejados.

Umas batidas na porta os faz perder, imediatamente, suas sensações. Sua vontade, seus desejos. Com dificuldade.

Dana arqueia a sobrancelha. Enxuga os olhos com os dedos.

Mulder morde os lábios. Dirige-se para a porta e vai ver quem está querendo falar com eles, interrompendo-os num momento tão importante e tão íntimo.

 

"Vontade é um desejo que cisma

que você é a casa dele."

Mario Prata