INIMIGOS

"Os inimigos declarados são os menos perigosos."

Duchesne

 

Capítulo 118

 

Mulder galga com destreza a janela um tanto ampla do quarto. Segura-se na esquadria, olhando para baixo, calculando a altura em que se encontra.

Dana, ainda atônita, tenta conter o grito de aflição que está prestes a sair de sua garganta, tão apavorada está agora, vendo Mulder subir pela janela, arriscando-se a muitos metros do solo.

Mulder segura-se como pode pelas protuberâncias em colunas existentes nas paredes entre uma e outra janela.

Beirais de cimento ajudam-no a conseguir locomover-se, logo alcançando a janela seguinte.

Num rápido movimento, segurando-se com força nas paredes, consegue chutar o vidro da janela, que se parte em mil pedaços, caindo sobre o piso do aposento pegado ao qual estava ele junto com Dana.

Num pulo, joga o corpo para o interior do quarto da janela que alcançara.

O grito de uma mulher que surge apavorada com o ruído cristalino do vidro que havia se quebrado, o surpreende.

Mulder a acalma, com as mãos abertas.

"Como explicar à mulher?"- pensa, constrangido.

Assim falando e sem mais nada esperar, rapidamente dá largas passadas em direção da porta para sair do quarto no qual se encontra neste momento.

A mulher, ainda embasbacada, permanece boquiaberta, acompanhando, impassível, cada gesto de Mulder.

Os tiros disparados por Dana do outro quarto, são ouvidos partindo do corredor.

Mulder sai imediatamente do aposento.

Scully, já havia aberto a porta do seu quarto, a fim de enfrentar o intruso, mas só vê Mulder chegando, afobado, correndo pelo corredor.

Um vulto insinua-se, descendo a correr a estreita escada de madeira.

Mulder o segue, disparado.

Dana fica estática diante da cena. Quer gritar por Mulder, vê-lo, ainda.

"Deus, eu não posso ficar com ele o tempo que preciso! Por que? Por que tem que ser assim?" - pensa, aflita.

Num ímpeto, segue correndo o estreito corredor afora e desce as escadas, seguindo Mulder e o desconhecido atacante.

Chega à porta principal, sem, porém, encontra-los.

Um sentimento de agonia a abate.

"Agora Mulder vai ficar perseguindo essa criatura sem sucesso, porque ele jamais poderá ser dominado, a não ser..." - imagina ela, pensando na sugestão que havia dado a Mulder horas atrás.

* * *

Mulder persegue o homem por alguns minutos.

Em dado momento, porém, ele desaparece ante seus atentos olhos.

Ruelas com chão de barro e casas antigas estão em seu caminho. Mulder prossegue sorrateiramente, procurando não ficar muito exposto aos olhos malignos do inimigo. Ali, muitas árvores de grossos troncos facilitam às pessoas esconderem-se facilmente.

Mulder continua caminhando através da alameda formada pelas árvores frondosas.

Súbito, seu corpo parece receber um choque elétrico. Uma mão firme e dura segura-o pelo ombro, fazendo-o cair, rolando, pelo chão.

Ele vê tudo girando neste momento; sua cabeça, além de uma dor estalante, está zonza. Mas reúne suas últimas forças para jogá-las sobre o homem, usando seus pés. Consegue derrubá-lo, atirando-o para longe de si. Uma pedra ali no chão chama sua atenção. Pega-a e a atira sobre a cabeça da criatura que o atacara. Este vai ao chão.

Mulder levanta-se e, sem mais pensar, vai correndo em direção à estação de trem.

A chuva caindo forte sobre seu corpo o incomoda, quase o transtorna. Sangue e água misturam-se em seus lábios. Ele sente o sabor salgado do sangue junto ao insípido da água escorrendo em seu rosto, descendo por seu peito ensopando-lhe a camisa clara.

encontra-se um trem, aguardando para ligar suas máquinas para a partida.

Mulder, andando cambaleante, no meio da confusão de pessoas que por ali caminham, chega à primeira porta que enxerga com sua vista enevoada, disponível para dar acesso à entrada de passageiros.

Seu coração bate, disparado. Ele estaca, por segundos, seu gesto de subir no trem.

"Scully... minha Scully... não sei se ainda voltarei a vê-la...!" - pensa .

Sabe muito bem que aquela criatura que o havia atacado se recuperará em minutos e entrará em sua perseguição novamente, como exatamente um robô, comandado por seus sinistros inimigos.

Uma dor aguda e pesada na cabeça o faz levar a mão à testa e somente assim nota o quanto está ferido. Sente o sangue escorrer em seu rosto. Retira do bolso o lenço e enxuga a face.

Mal pronuncia essas últimas palavras e já o trem prepara-se para a partida.

"Ótimo." - pensa consigo.

Senta-se num dos bancos que encontra-se vazio e tenta distrair-se, olhando o local que vai passando diante de sua vista. Enxerga as imagens duplas nos seus olhos de visão dorida e ainda enevoada. A friagem que toma conta de seu corpo, vestido na roupa molhada, o faz sentir calafrios.

A mulher que o havia abordado, sentara-se próxima a ele e o olhava, condoída e, ao mesmo tempo, desconfiada.

A dor na cabeça que Mulder sente continua pesada, incomodativa. Mas a ele pouco importa. O que lhe importa nesse momento é pensar em Dana, sua amada. Sente-se terrivelmente só e sofrido. Novamente estará sem a sua companheira de todas as horas. Durante esses nove ininterruptos anos de convivência, aprendera a ter ciência de que sua vida sem ela não tem razão de ser.

"Razão é quando o cuidado aproveita

que a emoção está dormindo e assume

o mandato."

Mario Prata