NÃO MAIS LÁGRIMAS

 

"No amor, nada seca tão rapidamente

uma lágrima, como um beijo."

A Ricard

 

 

Capítulo 12

Ele olha pela janela.

Lá em baixo, a milhares de metros, já se pode divisar a cidade.

Não vai demorar muito para a aeronave aterrissar.

Mulder fecha os olhos, imaginando o reencontro. Não avisara a Scully o dia de sua volta. Seria uma surpresa. Ele sente o coração palpitar de ansiedade. As mãos estão frias.

Há quanto tempo não vê a dona do seu coração. Como ela estará? Não têm sido freqüentes suas conversas ao telefone, pois as ligações têm sido bem difíceis, ou melhor, quase impossíveis.

Um profundo suspiro exala de seu peito.

Abaixa a cabeça e fica olhando para o próprio peito.

Sob a camisa vê o palpitar incessante do seu coração.

A ingrata temporada de uma missão tão prolongada o deixara esgotado, sem contar a imensa saudade que o permitia mitigá-la somente por raras vezes em fugidias conversas ao telefone.

 

Os passageiros do avião fazem os preparativos para descer.

Antes que qualquer um deles decidisse sair em primeiro lugar, Mulder antecipara-se.

Está apressado e ansioso.

Consulta o relógio de pulso e vê que falta apenas uma hora e meia para o Diretor Assistente Walter Skinner sair de seu expediente no Bureau.

E Mulder ainda tem que apresentar-se a ele na sua chegada da missão a que fôra designado.

X x x x x X

Sente-se agora até um pouco feliz.

E preparando o coração para o tão esperado reencontro.

Toma em sua mão o embrulho que deve levar para entregar à Dana. É um presente. Flores.

Decerto ela gostará, pois é uma mulher sensível.

Arruma-se, olhando-se diante do espelho.

Já havia feito a barba.

O rosto demonstra sinais de cansaço, que o deixa com aspecto abatido, porem o corpo ele sente cheio de vigor. Só necessita agora revigorar o espírito, defrontando-se com a mulher que toma inteiramente os seus pensamentos.

Ajeita mais o casaco sobre a camisa polo que veste.

Segue em direção da porta de saída.

X x x x x X

 

 

 

 

Dana chegara cansada.

Mesmo estando trabalhando nesses dias em serviços mais amenos por determinação de Skinner, sente-se por demais esgotada. As lágrimas e a saudade a haviam deixado extenuada.

Não se acha capaz sequer, de ir até a casa de sua mãe, conforme deveria.

Um banho a havia reconfortado um pouco.

Não iria preparar nada para jantar; está sem a mínima vontade de comer.

O toque da campainha a faz encaminhar-se para a porta.

" Engraçado!" - pensa, olhando pelo olho mágico - " Não vejo ninguém!"

Dana via somente as flores à frente do olho mágico da porta.

"Flores para mim?" - acha estranho.

Achega-se a um móvel onde está sua arma e a empunha.

Olha mais uma vez através do orifício da porta.

Acha suspeito. A pessoa não quer aparecer.

Dana destranca a porta mui vagarosamente, girando com cuidado o cilindro da fechadura, sem causar nenhum ruído.

Afasta-se da porta e fala em voz alta:

Inopinadamente abre a porta diante de quem ali se encontra aguardando sua aparição.

De arma em punho. Muito atenta.

Mas perde a voz.

Somente um breve gemido pode sair de seu peito. Está estática.

Dana sentira que a saudade havia tomado conta tanto tempo do seu coração, que agora quase não há espaço para surpresas ou alegrias inesperadas.

O entrelaçamento dos olhos, dos braços, dos corpos, torna-se de forma intensa.

Enquanto Dana encontra-se ali, dentro dos braços quentes e vibrantes de Mulder, do seu peito sensível sai um gemido de prazer e alegria.

Ele está com o queixo encostado junto aos cabelos perfumados de Dana, deixando a boca sentir os fios macios a encostarem-se-lhe à sua face.

Cada vez mais ele aperta-a entre os braços, como que desejando tê-la absorvida em seu ser.

Em ambos as lágrimas aparecem, fazendo brilhar, tremeluzindo, os coloridos do fundo de seus olhos.

Dana sorri, solta-se do seu abraço e leva-o pela mão para dentro de casa. Fecha a porta. Todo o seu corpo está fremente.

Toda a sua vida resume-se na presença deste que está à sua frente; vibra com o calor do corpo dele; vibra com seus lábios tocando-lhe a face, a testa; vibra com suas mãos que seguram-lhe o corpo; mãos gentis, porem ansiosas.

Ele faz um trejeito engraçado em sua direção:

Como resposta à sua brincadeira, Scully joga-se novamente em seus braços, feliz.

Ele toma-lhe o queixo com as mãos e procura-lhe a boca e encosta nela suavemente os lábios.

Dana permanece quieta; fecha os olhos e entreabre seus lábios.

Este é o amor de sua vida, que ela tanto espera.

E ele está aqui e quer senti-la ... num beijo.

Deixa que ele invada a intimidade do interior de sua boca.

Sente o desejo dele unir-se aos seus próprios anseios e entrega-se àquele beijo doce e suave a princípio, mas voluptuoso com o passar dos segundos.

Arfante, mas feliz, com as mãos sobre o peito de Mulder, afasta-o carinhosamente de si.

Ele percebe o seu gesto e diminui a intensidade de seu abraço naquele corpo que deseja.

Olham-se profundamente.

As lágrimas brilham no interior dos olhos de Mulder, enquanto nos de Dana elas saem livremente, escorrendo em suas faces.

Mulder, delicada e suavemente, enxuga-lhe as lágrimas com os dedos, em seguida beijando-lhe as faces com ternura.

As flores que jaziam abandonadas sobre uma cadeira, são apanhadas por Dana, que leva-as à frente de seu rosto, para sentir-lhes o perfume.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sorriem, ambos olhando-se com ternura.

Ela dirige-se para uma jarra, a fim de arruma-las dentro dela.

Mulder retira o casaco e joga-se no sofá. O seu semblante, apesar de estar mostrando o cansaço, o brilho da felicidade e do amor nele aparece.

Abraçados, ainda, chegam até a janela.

No céu o tremeluzir das estrelas faz lembrar milhões de diamantes dentro de um estojo de veludo negro. Uma brisa benfazeja sopra suavemente, revolvendo suavemente os cabelos de Dana.

O silêncio lá fora deixa perceber somente o ruído da respiração de cada um.

E eles fitam-se um ao outro.

Estão felizes pelo reencontro.

No seu íntimo sentem-se gratos ao Criador por conceder-lhes estarem juntos na vida, mais uma vez.

E esperando que no futuro possam usufruir dessa felicidade e desse amor.

Embora seja verdade que...

"O futuro é invisível para os olhos e intangível para as mãos."

Paolo Mantegazza.

CONTINUA...

26.05.00