- Scully, sou eu! - a voz vem pelo telefone.
- Mulder...!?
- Como você está?
- ...
- Scully...?
- Mulder... - só um fio de voz.
- O que houve, Scully?
- Mulder... eu quase nem posso falar.
Ele percebe que é a emoção.
- Scully, quanta saudade!
- Mulder... eu já não aguento mais de tanta saudade! - de seus olhos duas grossas lágrimas descem, lentamente.
- Eu queria estar aí com você.
- Mas por que não...?
- Não me faça essa pergunta, se já sabe a resposta!
- Desculpe. - pede em tênue voz.
- Não fale assim, Scully... não há nada a ser desculpado. - suspira - Bem... como está o Will?
- Está bom... com saudade do pai.
Ele dá uma risadinha.
- Sinto falta de você, Scully.
- E eu de você, Mulder... - enxuga os olhos - ... olha... o nosso filho já está comendo as primeiras papinhas.
- Verdade?
- Sim... é uma graça.
- E tem bom apetite?
- Exatamente como o papai dele. Come tudo, rapidinho.
- Isso é bom! - pausa - Outro dia parei em frente a uma loja de artigos para crianças e lembrei tanto de você...!
- Por que?
- Lembrando quando nós compramos as coisas para o Will, quando ele ia nascer.
- Mulder...?
- O que?
- Quanto tempo isso vai durar?
- Creio que não por muito tempo.
- O que? - engole em seco, tão nervosa está.
- Quero te ver.
- Mas como?!
- Por que a dúvida?
- Não sei... eu...
- Nós já nos encontramos, não?
- Sim, mas... foi tão...
- Eu sei, Scully, mas tentemos novamente.
- E quando?
- Eu aviso.
- Se eu precisar ligar pra você, como posso fazer?
- Não pode.
- Mas Mulder...!
- Escute Scully, não convém. Nós estamos sendo monitorados, você sabe.
- Mulder, eu não me importo mais! - ela chora.
- Eu sei, lindinha, mas temos que ter cuidado, porque é a vida do nosso filho que está em jogo.
Mulder ouve que ela está chorando.
- Scully, por favor, não chore!
- Eu... vou... me esforçar... - ela suspira, angustiada - ... Mulder?
- O que?
- O que você está fazendo aí?
- Pra me sustentar?
- Sim.
- Preparo alunos para suas provas na Faculdade de Psicologia, mas...
- ... o que?
- ... em aulas particulares; não posso me expor.
- Eu sei.
- Scully, quando penso em você...
- Sente saudade?
- Muita... e fico daquele jeito que você sabe. Mal dá pra aguentar!
Dana sente um arrepio de prazer percorrer-lhe o corpo por inteiro, só em pensar nas carícias das mãos do homem amado. Sente seu corpo palpitar. O coração dispara.
- Mulder... vem logo! - geme.
- Scully, eu te amo.
- Eu também te amo, Mulder. - ela chora.
- Quisera poder estar aí agora.
- E quando você vem?
- Eu aviso; pode deixar... mas não demora.
- Eu vou esperar ansiosa... contar os minutos, segundos... Mulder...?
- Sim, Scully.
- Não dá pra ficar assim, distante um do outro. Necessito de você perto de mim, poder compartilhar as alegrias e as dores, com esperança de dias melhores.
- Eu sei, Scully, eu entendo. Também desejo isso.
- Olha, eu quase não estou trabalhando.
- Não? Por que?
- A maior parte das investigações fica com o Agente Doggett e a Agente Reyes.
- E você aceita bem isso?
- Claro... tenho o Will.
- Certo, Scully. Muitos casos acontecendo?
- Uma infinidade, Mulder e cada um mais dantesco que o outro.
- Por exemplo...?
- Ah, não! Não quero conversar sobre isso.
- Está certo, não devemos mesmo. Só sei que estou louco pra te ver... Scully?
- O que?
- Tenho que desligar.
- Por que?
- Não dá pra explicar. Tchau, Scully.
- Mulder...!
- Um beijo.
Ela só ouve o clique do telefone do outro lado. Insiste mesmo assim.
- Mulder? Mulder! Ah, meu Deus! Por que?
Pousa o telefone na base e põe-se pensativa.
Sente-se infeliz. A sua única felicidade é o seu filho amado, que, neste momento, está em paz em seu berço, brincando com as estrelinhas brancas do móbile pendurado diante de seus olhos.
"A paz da alma é a chave do mundo."
Charles Wagner