REMORSO
"O remorso é a única dor da alma que o tempo
e a ponderação não conseguem nunca acalmar."
Madame de Stael
Capítulo 137
Continuam junto à janela, olhando para o céu escuro.
Ele não a interrompe, para indagar o porquê dessas palavras. Prefere deixar que ela desabafe o que está dentro de sua alma.
Mulder, com um meneio, agora pretende fazê-la desistir de continuar a narrativa.
Ele a mantém presa ao seu peito, enquanto continua fitando o espaço através da janela.
Mulder fecha os olhos, sofrido.
Ele afasta-a de seu peito para olhá-la intensamente, vasculhando, com seu olhar esquadrinhador, o que se passa nesse instante com sua amada.
Ela balança a cabeça, negativamente.
Mulder afaga-a nas costas, enquanto Dana chora.
Chora por dois motivos: a emoção de estar contando um fato dantesco como o que acabara de narrar e o fato de sentir uma saudade tão intensa de seu bebê em seus braços, que o vazio dentro do seu coração lhe traz uma absurda dor.
É como se lhe tivessem arrancado parte de suas entranhas.
Ela sente-se arfante, inconformada, angustiada, atormentada.
Um grito está aflorando em sua garganta e ele geme alto.
Mulder ampara-a, com carinho.
Beija-a nos cabelos, passando os dedos entre eles.
"Por que tinha que ser tudo assim? - pensa - Poderíamos ser felizes... nós três... uma família... nós não podíamos perdê-lo assim! Scully sente-se culpada... e eu preciso ajudá-la... afinal a culpa em parte foi minha..."
Os soluços de Dana sacodem-lhe o corpo franzino.
Mulder toma-a nos braços e carrega-a para a cama.
Ela agora derrama lágrimas num choro manso e silencioso, enquanto Mulder a havia colocado deitada e afastara-se para ir até a pequena geladeira, a fim de pegar um copo d'água.
Ele aproxima-se com o copo na mão. Toca-a na face.
Ela senta-se e, lentamente, tenta engolir a água.
Ela toma mais alguns goles. Dá um longo e entrecortado suspiro.
Ela deita-se, procurando deixar que o sono a leve para um mundo fantástico do "nada", onde nada pudesse lhe acontecer, nada a fizesse sofrer, nada a fizesse sentir tanta saudade e tanto remorso.
Mulder ergue-se e chega até a janela. Pensa no filho.
Será que ele estaria mesmo num lugar assim como havia visto em seu sonho? Será que a criança realmente sentiria falta da mãe?
Será que seu futuro não o iria fazer sofrer, ao saber-se rejeitado um dia?
Será... será ... será?
Mulder passa a mão pela testa úmida de suor, pelos pensamentos nervosos. Deseja arrancar essas perturbadoras idéias da mente. Deseja que dentro do seu ser fique somente a esperança e as promessas de um dia poderem ser felizes... os três.
"Prometemos segundo nossas esperanças
e cumprimos segundo nossos temores. "
La Rochefoucauld