DIFICULDADES

"As dificuldades, quando as vemos de longe são montanhas, mas como

as montanhas, abaixam-se à medida que delas nos aproximamos."

Capítulo 138

Mulder retorna da janela, para deitar-se ao lado de Dana, já adormecida.

Após algum tempo deixar-se levar pela imaginação, por fim rende-se ao sono que lhe faz pesar as pálpebras.

Nota, que Dana, no entanto, está entregue aos seus sonhos, num dormir um tanto perturbado.

Ele vê o semblante dela, mesmo dormindo, parecendo ansioso por alguma coisa. Um pesadelo, talvez, a atormenta neste momento.

Mulder senta-se à beira do leito a observá-la, atento, somente à luz dos raios suaves da lua, que entram pela janela.

Lá fora, o ruído de pássaros noturnos quebra o pesado silêncio.

Ali não é como na cidade em que moravam: burburinho, buzinas, motores ressoando entre a grande floresta de cimento armado.

Mulder suspira. Vê, mais uma vez, que Dana treme, ligeiramente, as mãos.

Ele sente dó de sua amada. Acha que não deve permitir que ela continue com esse pesadelo infeliz a fustigar-lhe a alma, enquanto dorme. Necessita desperta-la.

Mulder pigarreia alto.

Nada. Dana continua dormindo.

"Amanhã vou levá-la um pouco a passear, pra ver se distrai-se. É preciso que ela saia daqui de dentro. Estamos fugidos, mas não somos encarcerados e aqui nesta cidade ninguém nos conhece."

Ele tenta animar-se com esses últimos pensamentos. Força a mente, para pensar coisas agradáveis. Só que não consegue.

Mulder debruça-se levemente sobre Dana, para fazê-la despertar.

Os globos oculares dela revolvem-se dentro das pálpebras fechadas.

Mulder a toca, suavemente, no rosto.

Mulder lhe sorri.

Ela não sorri com as palavras dele.

Ele levanta-se.

Mulder retorna à cama. Deita-se e enlaça-lhe o corpo.

* * *

As montanhas avermelhadas e quase nuas de vegetação parecem brilhar com a luz do sol forte e extremo calor.

Continuam caminhando, pisando a terra ressecada do chão.

Pessoas passam apressadas e parecem nem vê-los ali, apesar de seus trajes bem diferentes dos usados no lugar.

Logo, uma balbúrdia. Vozes estridentes de crianças se fazem ouvir.

Dana pára, a fim de escutar com mais atenção.

O ruído se intensifica e logo um bando de crianças de idades variadas enche de animação o local.

Os olhos atentos de Mulder detém-se a apreciar o ruidoso grupo, que está sendo monitorado por duas mulheres, que parecem ser professoras.

Ele continua como que hipnotizado, apreciando as irrequietas crianças.

Repentinamente, como que saindo de um transe, ele volta-se para Dana.

Os olhos dela, marejados de lágrimas, deixam-se enlevar pela visão daquelas crianças.

E enquanto caminham, tomando outra direção, a mente de Mulder remói os pensamentos que ultimamente o atordoam, sem cessar.

"Eu e Scully estamos sofrendo muito com a ausência do nosso filho..."

* * *

Depois de haver deixado Dana no motel, está agora de volta à rua.

Toma o aparelho do telefônico público nas mãos.

O ruído ao seu redor o atrapalha na ligação. Gostaria muito de estar num lugar ermo, usando seu próprio celular. Mas não pode fazer isso.

Todos os seus gestos têm que ser muito bem pensados. Sabe que não deve haver nenhuma falha de sua parte, embora necessite dar esse telefonema.

"A maior parte das nossas falhas é mais perdoável

do que os meios que usamos para disfarçá-las."

La Rochefoucauld