RECEIO DE AMAR

 

 

"A medrosa e vã apreensão dos males que podem

vir, aflige e enegrece toda a beleza e serenidade

da alma."

Charron

 

Capítulo 14

 

 

O quarto é acolhedor. Somente a suave luz do abajur o ilumina brandamente.

Mulder e Scully entram nele.

Não se olham. Nem se falam. Somente uma grande emoção existe neste momento.

Dentro do coração de Scully interpõe-se entre todos os outros sentimentos o receio de amar. Tem a certeza de que ama Mulder verdadeiramente, porem aquele sentimento quase doentio, o receio, a dúvida, a timidez pairam sobre seu coração, deixando-a abalada.

É um conflito de extremo sofrimento o que se está passando neste momento.

A luta contra si mesma, mas ama Mulder e deseja-lhe sempre o melhor.

Sabe que sempre fará tudo por ele. Só precisa de forças no seu interior para agir como é necessário.

Scully pára e fita-o nos olhos, intensamente.

Ele nada comenta. Apenas assente.

Ele observa ao seu redor o ambiente agasalhador.

"Na realidade não podia ser de outra maneira." - pensa Mulder.

Mulder resolve continuar:

Ele segura-a por um braço:

Scully levanta os braços, indicando que se dá por vencida.

Mulder avista um álbum de fotografias sobre uma cômoda.

Mulder começa a folhear o álbum, interessado.

Sentam-se os dois na beira da cama.

Os olhos de Mulder ficam parados, olhando o espaço, o nada, pensativo.

Scully toma-lhe a mão.

Ele continua folheando o álbum.

Mulder segura-lhe o queixo com ternura.

Àquele toque Scully sente necessidade de algo mais que acaba de despontar no seu íntimo.

Ela abaixa a cabeça. Seu rosto se contrai. Sente desejo de chorar.

Chorar, sim, sentindo desvanecer-se nos seus sentimentos o desejo incrivelmente perigoso de abandonar sua capacidade de estar sempre alerta às necessidades que a vida lhe obriga a sentir e deixar para trás sua racionalidade, sua seriedade de mulher de pulso forte e coração imune às coisas sentimentais.

Mulder toma seu rosto entre as mãos.

Dana percebe que é aquele toque das mãos dele que ela precisa. Sente que é a necessidade de senti-lo intimamente que a faz ter desejos de jogar para o alto a sua racionalidade.

Afinal, de que valeria a vida, se não houvesse o amor?

Essa troca recíproca de carinhos que se sente pelo ser amado?

O álbum de fotografias desliza para o chão.

Mulder percebe que Scully está vulnerável.

Ela não faz nenhum gesto de resistência a seus carinhos.

Experimenta a boca; ela entreabre os lábios e ele deposita neles toda a sua ansiedade amorosa num beijo suave.

Mulder desliza os lábios pelo pescoço de Scully, achando gostosa aquela morna sensação a lhe fazer vibrar o corpo de desejo.

- Eu sempre te disse... - sussurra ele.

Tenta apartar-se dela, agora.

Dana sente nos ouvidos o soar das palavras sussurrantes como apelos ansiosos, de Mulder.

Há uma pausa de longos minutos.

"Pronto! - pensa - Finalmente, consegui! É isso exatamente o que eu necessitava dizer a ele de uma vez por todas!"

- Tem certeza? - ele diz e fita-a com seus olhos esquadrinhadores, como que querendo ler a verdade de suas palavras encravadas na mente; acha-se um tanto receoso de ter entendido mal.

E a sua sempre cuidadosa insistência pelas coisas corretas? Seria plausível de explicação o que o corpo lhe exige agora? Não, não há uma científica explanação ao que se passa dentro de si, neste momento!

Agora só deseja mesmo perder toda aquela impávida pose de mulher cientista e culta! Quer somente amar! Quer somente ser de Mulder! Inteiramente! Ele é a sua vida! E há quanto tempo o ama e o deseja!

Nota que ele está arfante de desejo e ansiedade.

Vibra com todas as fibras de seu corpo com as emoções por sentir que ele, voluptuosamente, lhe toca em suas carnes frementes de desejo.

Sente que os dedos dele a querem explorar, mas estão nervosos, tateantes e além de tudo, tímidos.

Ela percebe que necessita facilitar e estimular os impulsos dele e abre os botões da blusa que veste.

Abraçados, lentamente deixam-se cair no leito.

"Os mais enamorados da vida são os tímidos

e para auxiliá-los, nada melhor que amá-los."

Anatole France

CONTINUA