UM SEGREDO A SETE CHAVES
"É mais fácil conservar na língua um
carvão em brasa do que um segredo."
Sócrates
Capítulo 145
Dana recebe do homem diante de sua porta, o envelope grande.
Agradece. Fecha a porta.
Observa o verso, onde está o remetente. Vê que é do advogado de Mulder.
Manuseia, com interesse, o envelope, tateando-o, curiosa, por ver que há ali diversos documentos. Num relance, sente desejos de abri-lo.
"Mas será que devo faze-lo? Mulder não iria se importar se eu o fizesse?" - a consciência lhe cobra explicações.
Dana tenta não dar atenção aos seus pensamentos. Pega o envelope pela beirada e vai rasgá-lo, quando, num último pensamento, sua consciência a acusa:
"Não, Dana! Não faça isso! Deve respeitar o espaço de Mulder, sempre! Isso é uma correspondência particular dele. Não lhe interessa os assuntos dele!"
Com essas palavras de admoestação na mente, Dana restringe-se a colocar o envelope sobre a mesa. Solta um suspiro de alívio.
"Nossa! Que bobagem eu ia fazer! O que pertence a Mulder eu devo respeitar, assim como ele o faz, também comigo." - pensa.
Neste preciso momento, ouve os passos pesados de Mulder, que já entrara.
Dana afasta-se para o outro compartimento.
Mulder aproxima-se da pequena mesa e vê o envelope a ele endereçado. Pega-o, rasgando-lhe a parte colada.
Abre, agitadamente, e com dedos ansiosos, a correspondência que havia recebido. Retira do envelope vários papéis.
"O advogado enviou todas as coisas necessárias para a retomada de William, que ele está providenciando." - fala, com seus botões e começa a ler a ficha que tem em suas mãos.
Documentos necessários
Mulder dá uma rápida revirada nos papéis. Continua lendo:
Título:
EXTINÇÃO DE ADOÇÃO
Pelo reconhecimento do adotado pelo pai natural
Mulder suspira. Parece sentir desprender-se um grande peso em seu interior.
Ouve Dana chamá-lo, no compartimento ao lado.
Rapidamente, trata de colocar os papéis dentro do envelope.
Mal conseguira concluir este ato, e logo Dana aparece.
Dana aceita, de forma natural, a resposta dele.
Anda até a mesa e ajeita nela duas taças que traz às mãos.
"Que alívio! - os pensamentos de Mulder retornam - Ainda bem que ela aceitou a resposta que lhe dei. Preciso guardar a sete chaves este segredo!"
Logo lembra de tocar num certo assunto.
Dana pára, pensativa, segurando uma colherzinha entre os dedos.
* * *
Os transeuntes na calçada, jamais poderiam adivinhar os sentimentos de receio de Dana, dentro da cabine telefônica, preparando-se para falar com a própria mãe.
Dana sente os dedos tremerem ao digitar o número do telefone. Consegue terminar.
Coloca, com hesitação, o aparelho no ouvido.
Dana não está conseguindo pronunciar uma palavra a mais, sequer. A garganta está embargada, o coração pulsando demasiado.
Alguns segundos se passam.
Dana conversa alguns minutos mais com Maggie.
Despedem-se, então, a seguir.
Dana recoloca na base o telefone e fica pensativa, mordendo os lábios e franzindo o cenho. Pensa o quanto fizera sua mãe sofrer, ao saber da renúncia ao seu filho. Nunca mais poder ver o netinho, tocá-lo, acariciá-lo, acompanhar o seu crescimento, o seu desenvolvimento.
Dana leva as duas mãos à cabeça, desejando, com este gesto, retirar de sua mente todos esses ruins pensamentos.
Dana recupera-se e mostra um semblante tranquilo.
Ele chega mais perto.
Ele nota o tom triste, com o qual ela lhe responde. Tenta reanimá-la.
Ela o encara, agora com um leve sorriso.
Ele balança a cabeça, negativamente.
Ele aproxima-se e toma-lhe a mão.
Começam a caminhar, em direção do motel.
Mulder examina o semblante de Dana, enquanto caminham.
Ela pára de caminhar, cruza os braços. Arqueia uma sobrancelha.
Entram no motel, que é a sua casa provisória.
Mulder abre a porta do quarto. Passa a mão no pescoço.
Mulder entra no banheiro. Arranca toda a roupa, num ímpeto.
Entra no box e abre o chuveiro.
Enquanto isso, Dana examina o conteúdo do pote que contém o sorvete.
"Ainda bem que ainda dá para esse gulosinho comer!" - pensa.
Dirige-se para outro recinto, a fim de retirar a roupa.
Num segundo, sente a mão de Mulder sobre suas ancas. Vira-se para olhá-lo.
"Os juramentos das mulheres ficam
gravados no ar e na superfície das ondas."
Catulo