SENTIDO À VIDA
"Olhando para enormes cadeias de montanhas...
fortalezas de força, segurança e poder, que se
estendem ao horizonte, não posso deixar de
pensar que somente uma lembrança, a fé ou
a esperança de estar na presença de outro ser
humano, conforta o coração e dá sentido à vida
do homem."
Jennifer Fearnsaille
Capítulo 147
Essas palavras correm céleres pela mente de Mulder, enquanto ele aprecia, junto a Dana, a corrente verde diante de seus olhos embasbacados pelo esplendor da natureza.
- Que vista esplendorosa, Scully! - diz ele, por fim, saindo de sua concentração.
- Hãn? - ela está distraída.
- Que tal está achando?
- Mulder, - ela empertiga o tórax, enquanto aperta mais as mãos ao redor da cintura dele - sem dúvida que a natureza nos oferece paisagens fantásticas, como a que está diante dos nossos olhos, mas vou dizer a você: esta posição aqui, na carona da moto está um tanto desconfortável; ainda mais tendo que enfiar a cabeça neste capacete...! - sacode o equipamento nas mãos, enquanto fala.
- Ah, tá bem Scully, mas isso é obrigatório usar, para nossa segurança.
- Você não acha que devemos esticar as pernas?
- Desculpa, Scully. - desce da moto, enquanto a ajuda a fazer o mesmo - Na minha empolgação, esqueci que você não é dada a essas coisas.
- Ah Mulder, não se queixa! Eu só quero descansar um pouco!
- Claro, claro! - ele afaga-a na face.
Dana suspira, enfadada. Passa a mão várias vezes pelos cabelos.
Mulder estica os braços para cima, espreguiçando-se.
Ambos atém-se a apreciar a paisagem à sua volta. Respiram fundo. De prazer.
- Huuuum... às vezes ponho-me a pensar no quanto deve ser divertida a vida de quem pode viajar sempre, por toda parte do mundo.
- Não acredito nisso...
- Por que não? - olha-a incrédulo.
- É uma vida vazia, Mulder, sem um objetivo concreto...
- ... engraçado... - interrompe-a - ... você não muda mesmo, Scully, após tantos anos de convivência comigo. Isso me faz lembrar aquela vez em que nos dirigíamos para a Área Cinquenta e Um e você começou a dissertar sobre ter um lar aconchegante... etc.
- Sei Mulder; nunca mudarei meu modo de pensar.
Imediatamente, como que tomado por súbito pânico, ele pousa as mãos sobre os ombros dela. Usa um tom de queixa.
- Scully, eu só trouxe a infelicidade pra você...!
- Mulder, pára! - protesta, horrorizada - Não fala isso comigo!
Joga-se nos braços dele. Ele a beija ternamente, nos cabelos.
Permanecem assim, nesta atitude. Calados. Colados.
Mulder embala, suavemente, o corpo dela grudado ao seu.
- Eu sou um fracasso, Scully! - murmura.
- Eu não quero que fale isso! - pede, fervorosa - Não quero! Não aceito! Não gosto, Mulder!
Ficam, ainda, assim, num doce abraço.
O peito de Dana expande-se para suspirar, entrecortadamente.
- Eu não quero que fale isso comigo, Mulder, nunca mais...
- ...
- Promete! - suplica, amuada.
- ...
- Mulder? - afasta a cabeça do peito dele, para olhá-lo.
- Prometo. - diz e com a mão, faz com que a cabeça dela retorne ao recosto do seu peito.
Ainda ficam assim por vários minutos.
Dana quebra o silêncio.
- Para que lugar estamos nos dirigindo, agora?
Ele a solta de seus braços. Mete a mão no bolso do casaco de couro. Olha os prospectos que tem às mãos.
- Nossa próxima meta... Ruidoso Downs! - fala, com entusiasmo.
- Demora muito a chegar?
- A poucos quilômetros daqui, Scully. É uma cidadezinha do interior.
- Ainda bem.
Mulder espreguiça-se, erguendo os braços mais uma vez.
Dana dá uma volta, rodeando com o olhar a paisagem que se lhe apresenta dali da larga e sinuosa estrada.
- Vamos embora? - ele propõe.
- Sim, vamos.
Mulder monta na moto. Prepara-se para aguardar Dana se acomodar também. Liga a ignição. Pisa os pedais para dar início à partida.
- Ruidoso Downs! Lá vamos nós!!
* * *
O pequeno, mas asseado bar, está com poucos clientes no momento.
As modestas mesas com alvas toalhas, exibem sobre sua superfície, belos e discretos vasos com flores naturais, típicas da região.
Mulder e Dana, sentados à uma dessas mesas, refestelam-se com as iguarias do local.
- Puxa, Scully... eu estava com fome!
- Pra mim não há muita opção para o meu apetite...
- ... requintado! - completa ele.
- Por que fala isso?
- Aqui você não encontra aquele seu gelado de arroz integral sem gordura... argh! - faz caretas.
Ela ri.
- Pára, Mulder! Em compensação, você não pode comer aquelas refeições tiradas da geladeira e comidas na mesma hora, que são de sua preferência.
- Ah, nem tanto, Scully... nem tanto! Eu era um homem só!
Ele mete a mão no bolso do casaco. Tira um pacotinho cheio de sementes.
- O que é isso? Não diga que é... que são...
- ... as minhas preferidas!
- Não acredito! Você trouxe as suas sementes de girassol?
- Por que se admira? Há bastante tempo que não as como, notou?
- Sim. - ela ri, novamente.
Mulder aponta algo na rua, defronte ao bar.
- Está vendo ali, Scully?
- Sim... parece uma pequena casa de espetáculos.
- É bem mais modesta que isso. Mas é interessante. Nós vamos lá.
Dana limpa os lábios num guardanapo.
Mulder levanta-se. Ela faz o mesmo.
Dirigem-se à casa em frente ao bar.
- Isso ali é um museu, Scully.
- Museu, é?
- Venha. Você vai gostar.
Mulder dirige-se ao guichê.
- Duas entradas, por favor.
- Cinco dólares cada, senhor. - responde a moça, dentro do guichê.
Ele paga e recebe as entradas.
Logo ao entrarem no recinto, seus olhos deslumbram-se com o inédito do lugar. Tudo ali fôra feito para homenagear um dos animais mais úteis ao homem: o cavalo.
Ali expostos estão esculturas de cavalos das mais variadas raças, quadros, fotos, souvenirs.
O casal aprecia todas as coisas ali exibidas.
- Que lugar mais interessante, Mulder! - ela tem os olhos brilhantes de curiosidade.
Ele a olha e sorri.
Seu pensamento o relembra:
"É muito bom manter Scully entretida com coisas novas em sua vida, para que seu pensamento não fique voltado somente para o nosso sofrimento... a ausência de William... o nosso filho . Mas, com toda certeza, em nosso caminho encontraremos a felicidade, que retornará às nossas mãos."
"Não há uma estrada real para a felicidade;
há muitos caminhos diferentes."
Pirandello
Nota: À minha amiga Eliete Aquino, mais uma vez agradeço pelas "Pérolas" que me enviou e que fazem parte deste e de outros capítulos dos Devaneios.
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