UMA CARTA

 

"A carta é a continuação de uma presença."

Elisabeth Bibesco

Capítulo 148

Os olhos atentos de Mulder rebuscam na tela o que está sendo exibido num dos museus da cidade, onde se encontram neste momento.

Ele não responde. Limita-se a ler o que está na tela. Na foto aparece uma nave arredondada, num campo de pouso. Uma legenda explica a fotografia.

"Após um teste de vôo em 1972, a sonda espacial

Vicking aguarda resgate em White Sands"

Alguns sites na Web divulgam esta imagem

como sendo de um OVNI."

Dana sente-se incomodada com o interesse de Mulder por essa imagem.

Ele a atende.

Mulder lança para ela o seu sorriso de menino.

* * *

Chegam à nova cidade, que está em seu itinerário.

Saem do estacionamento de mãos dadas.

Ele ri; aperta-a contra si.

Começa o casal a passear devagar, apreciando os objetos ali expostos.

Algo chama a atenção de Scully. Ela cessa de caminhar.

Imediatamente Mulder arrepende-se por ter usado a última palavra. Ele sorri, pega a peça em sua mão, examina-a e vai coloca-la sobre a mesa de exposição novamente, quando Dana o impede.

Ela toma a estatueta das mãos de Mulder, retira dinheiro da bolsa a tiracolo para pagá-la. Agradece à vendedora. Vai até as costas de Mulder, abre a mochila que ele carrega às costas e guarda a peça, não sem antes examiná-la por alguns segundos. Sente-se comovida com o belo trabalho artesanal.

A peça representa uma mulher ajoelhada, tendo ao seu colo um bebê voltado para ela, que o acaricia.

Mulder leva o dedo indicador acima do lábio superior, fica pensativo e nada fala.

* * *

No banco do imenso jardim florido, Mulder está recostado, relaxadamente. Pernas esticadas. Cruzadas à frente. Cabeça recostada no espaldar do banco. Olhos fechados. Um dos braços agarrado à cintura de Dana.

Ela, por sua vez, grudada a Mulder. Corpo encostado ao dele. Uma das mãos repousada em seu peito.

O canto mavioso de mil pássaros pousados nas árvores vem até seus ouvidos, tal qual um acalanto.

Borboletas multicores sobrevoam céleres por sobre florezinhas que enfeitam os arbustos.

Ele lhe procura a boca, segurando-lhe o rosto.

Conversam em voz muito baixa. Num murmúrio.

Dana ri mais, ainda, divertindo-se com o jeito dele.

Mas Mulder não prossegue. Num momento, muda seu modo de pensar.

Dois pequenos pássaros volteiam um local no galho. Um deles pousa. Parece estar atarefado, fazendo alguma coisa ali. O outro pássaro voa por alguns metros e retorna até onde está o companheiro.

Mulder, de súbito, arrepende-se de ter feito tal comentário. Sente-se mal por ter relembrado o que tanto Dana tenta esquecer.

Ela nada comenta. Apenas continua olhando fixamente a atitude do pequeno e ágil pássaro.

Mulder a afaga, ternamente.

Ela afasta-se dele para fitá-lo nos olhos, novamente.

Mulder joga a cabeça para trás, numa risada.

Ele a agarra, inopinadamente:

Ele olha o relógio de pulso.

" Ninguém é tão feliz,

nem tão infeliz como crê."

La Rochefoucauld