VIDAS EM PERIGO

"Não acrescente dias à sua

vida, mas vida aos seus dias."

Harry Benjamin

Capítulo 149

Mesmo sob o ruído discreto da moto em funcionamento, Mulder pode perceber que, trafegando à sua traseira, a certa distância, segue um veículo escuro; nota que não é um carro de passeio.

Mulder observa pelo espelho retrovisor, notando que o veículo não pretende ultrapassá-lo. Sua aguda intuição avisa-o de que parece estar sendo seguido.

Mulder dá, subitamente, uma inesperada guinada, de um lado para outro, fazendo a moto andar em zigue-zague pela larga pista.

Dana sente-se tensa.

Seus pensamentos entram num turbilhão de horrores. Imagina que podem morrer os dois, ali, tolamente. E tudo devido a um capricho de Mulder, que desejou sair estrada afora, em busca de aventuras, colocando suas vidas em perigo.

Ao mesmo tempo, ela recrimina-se, dizendo a si mesma, que não deve pensar assim. Mulder só quis, como ela mesma, espairecer um pouco. Ver coisas diferentes. Parar de pensar. Esfriar a cabeça.

Mulder pisa com mais força o acelerador. Vê que a velocidade está intensa.

O carro atrás deles continua acelerando, então, em sua perseguição.

De um lado da larga estrada, um precipício se vê. Apenas lá ao longe, mais abaixo, se pode distinguir vários outros cumes de montanhas.

Num lance de idéia rápido, Mulder busca uma solução.

"E se eu os fizesse rolar precipício abaixo?" - pensa ele.

Neste mesmo instante um tiro ressoa no espaço, fazendo eco no lado onde estão as montanhas.

Um segundo disparo é ouvido, não os atingindo, porém.

Um terceiro tiro ressoa, novamente, fazendo eco nas montanhas, causando um rasgão na manga do casaco de couro de Mulder.

Ela não se faz de rogada.

Prende, firmemente, um braço na cintura de Mulder. Gira o corpo para trás e mira a arma.

Dana atira.

O projétil disparado por sua arma atinge, exatamente, o alvo.

O carro dos seus perseguidores desgoverna e vai, derrapando, em direção ao precipício e lá se projeta, rolando despenhadeiro abaixo.

Mulder diminui a velocidade da moto. Pára, por fim.

Mulder desce da moto. Dana faz o mesmo.

Súbito, ele pára o seu gesto.

O carro tombado havia tido sua queda interrompida por um barranco, no despenhadeiro.

Em seguida retorna e ambos deixam o lugar.

* * *

Já no carro que havia deixado no estacionamento ao alugar a moto, o casal viaja, sentindo-se menos tenso.

Dana, com a cabeça recostada no ombro de Mulder, fixa a pista que o veículo vai engolindo, sem cessar.

Ela desencosta-se dele, num relance. Adivinha seu pensamento.

Mas ele prossegue, fingindo não escutar os protestos dela.

Ele tem um desejo enorme de abrir a boca e por para fora todo aquele segredo que está guardando por esse tempo. O retorno do filho.

"Mas e se alguma coisa atrapalhar a decisão do Juiz, para entrega da criança? E se algo ocorrer, de modo que não possamos ter William de volta? Não. Eu tenho que manter o silêncio sobre isso. Até que tudo se resolva."

Pensa ele, confuso.

* * *

Mulder joga a mochila num canto; arranca os tênis dos pés. Dá um longo assobio. Aliviado.

Dana o olha e sorri. Também está aliviada. Mas sente cansaço. Foram muitas horas de viagem ora amenas, ora em tensão.

Ela acerca-se dele. Com carinho.

Ele assente, sem falar.

Abraçam-se. Precisam recompor as próprias forças. A amargura logo procura encontrar guarida em seus corações e isso não irão permitir. Nunca mais.

Por vários minutos ficam abraçados.

Ali mesmo, Dana retira os pés dos sapatos, sem soltar-se dos braços de Mulder.

Ele começa a deslizar a mão sobre o corpo dela.

Mulder vai, aos poucos, abrindo os botões da blusa que ela veste. Rebusca, com avidez, porém mansamente, as reentrâncias do corpo pequeno de sua amada.

Ela, por sua vez, vai fazendo-o livrar-se de sua roupa.

Ambos tocam-se, intimamente, já com avidez e ansiedade.

Há entrosamento perfeito entre o desejo de ambos. Se querem. Se curtem. Se amam, enfim.

Mulder beija-a nos cabelos, no pescoço e no alvo colo, pousando os lábios com doçura, como se estivesse entrando em contato com uma peça frágil e de inestimável valor.

Dana deixa-se acarinhar. Sente seu coração aos pulos. Há uma felicidade intensa por estar ali, junto a esse homem que tanto ama.

Encontram-se as bocas, necessitando uma de sentir a intimidade da outra.

Dana sabe que sua vida está entregue, inteiramente, a esse homem que a faz entrar em êxtase neste instante de paixão e prazer.

E está nas mãos de Mulder fazer permanecer esse amor, sem nenhum temor e para sempre, até que a morte venha a separá-los.

"Temer o amor é temer a vida e os que

temem a vida já estão meio mortos."

Bertrand Russell

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