DE HOMEM PARA HOMEM
"Todo homem deveria
ser aquilo que parece."
Shakespeare
Capítulo 150
Mulder, com o jornal dobrado às mãos, caminha entre as pessoas na rua.
Havia lido a notícia do acidente fatal, acontecido na rodovia onde estivera com Dana. Ficara impressionado. Em toda a sua vida de Agente Federal nunca, na verdade, se acostumara com a morte, como uma coisa natural, aceitável. Tudo ligado à morte, de qualquer forma, referente a bandidos ou não, o deixava abalado.
Duas pessoas haviam perdido a vida atoa, numa perigosa aventura, sem sentido. E Mulder sabe que, com certeza, o ricaço do Cortez tem algo a ver com essas mortes e o atentado a ele e Scully.
Mulder chega até o motel. Entra e toma a direção do pequeno apartamento. Gira as chaves na fechadura.
Dá a volta pelos dois aposentos e o banheiro e nota que Dana não está ali.
Solta um longo suspiro, conformado. Arranca do corpo a camisa suada. Vai até a geladeira e bebe um pouco d'água. Olha o relógio no pulso.
Vai em direção da cama, senta-se nela. Coloca o copo no chão. Deita de costas, jogando-se nela e olhando para o teto.
"Engraçado! Scully não me falou que ia à rua hoje!"- pensa.
* * *
Mulder abre os olhos.
Ele levanta-se, imediatamente, preocupado.
Ela ainda ali não se encontra. O recinto está vazio.
Mulder olha o relógio de pulso:
"Nunca Scully saiu sem mim, por tantas horas neste lugar desconhecido."- pensa.
Mulder resolve sair . Dirige-se ao rapaz da recepção e pergunta se havia visto Dana.
Mulder imediatamente condena-se, mais uma vez, por permitir que a vida de Dana seja colocada em perigo.
A mente já perturbada de Mulder, entra em confusão.
"Isso tem algo a ver com o atentado que sofremos ontem. Tenho certeza disso."
Com passos largos e decididos, toma a direção da rua.
* * *
A imensa e bela mansão, à beira de um lago artificial é cercada por grades.
"E, por certo, - pensa Mulder - é vigiada por vários seguranças."
Ele estaciona o carro à distância da casa.
O bosque que ladeia a mansão é o que Mulder utiliza para aproximar-se do local. E o faz, sorrateiramente.
O muro é bastante alto. Ele tenta colocar, com firmeza, os pés sobre algumas protuberâncias que existem no muro, a fim de galgá-lo. E consegue. Num dado momento, fere a palma da mão, ao esforçar-se para alcançar o topo do paredão. Cerra os dentes, sentindo a dor do machucado. Continua na sua tentativa para chegar ao topo do alto muro.
A voz soara, desagradavelmente, aos ouvidos de Mulder.
Olha para baixo.
Um dos seguranças aponta-lhe uma arma.
Mulder levanta as sobrancelhas. Aperta os lábios.
Está sendo rendido pelo sujeito armado. Nada mais tem a fazer, a não ser descer.
A arma continua apontada para ele.
Mulder solta as mãos e pula, na direção do solo.
Levanta-se, após o pulo, dá uma sacudidela na roupa e faz um ar de pobre coitado, enquanto o homem o revista, detidamente.
O segurança o olha com ódio.
O homem faz Mulder caminhar diante dele, apontando-lhe a arma.
Um outro segurança abre o grande e pesado portão de ferro e dá-lhes passagem.
Mulder é escoltado pelos dois homens até um grande salão.
Os homens nada retrucam. Nem o olham.
Os dois fazem Mulder ficar parado no lugar, apontando-lhe as armas.
Uma porta no salão abre-se e Cortez aparece.
Mulder apenas o olha. Nada responde.
Mulder leva o dedo indicador sob o nariz. Olha para o homem, de soslaio.
Cortez aparenta nervosismo e incômodo. Parece não estar entendendo as acusações de Mulder. Sacode o corpo, demonstrando ansiedade.
O homem começa a rir. Uma gargalhada irritante. Incomodativa.
Mulder aperta os olhos miúdos, fitando-o, atentamente.
O ricaço vai cessando a gargalhada, aos poucos. Faz um sinal para seus seguranças se afastarem de Mulder. Por fim, cessa as risadas. Franze o cenho. Fita Mulder com atenção.
Cortez abaixa a cabeça, parecendo admitir.
Mulder faz um gesto de que deseja avançar sobre Cortez, mas os seguranças, atentos, o impedem.
Cortez espalma a mão, na direção dos seguranças. Em seguida faz um gesto para que eles aproximem-se de Mulder.
Mulder aperta os lábios. Acompanha os homens, que agora não lhe estão apontando as armas.
Mulder põe a mente a trabalhar, sem cessar.
"Que mancada! Onde está minha intuição? Ou será que aquele cara está me enganando? Mas não! Eu aprendi a ver nos olhos das pessoas quando mentem!"
* * *
Num ato intuitivo, tinha voltado para o motel, onde está morando com Dana.
Entra, rápido, e, logo está em frente à porta do apartamento.
Ansioso, gira a chave na fechadura e abre a porta.
Dana está às voltas com alguns pacotes que estão no chão, desatando os nós dos barbantes, descolando os durex que fecham os embrulhos.
Ela levanta a cabeça e o olha, assustada.
Então ele a observa. Os longos e lisos cabelos ruivos agora têm ondulações nas pontas. E estão mais brilhantes.
Ela continua a falar:
Mulder caminha de um lado para outro. Sente-se nervoso e chateado. Está ciente de que, neste dia, tinha perdido todo o seu bom humor.
"O bom humor é essencial, o que nos salva.
No minuto em que surge, toda a nossa
irritação e ressentimento somem, cedendo
lugar a um espírito radiante.
Mark Twain