OLHOS, JANELAS DA ALMA

"Todas as nossas almas estão escritas nos nossos olhos."

Edmond Rosland

Capítulo 154

Mulder abre os olhos. Vê o relógio redondo na parede. Mostrador escuro, ponteiros brancos, bem visíveis. Está marcando 05:47 horas de um nascer do dia sem sol.

Seus olhos fitam a vidraça da janela. Que tem, na parte de baixo, venezianas.

Ele vagueia o olhar ao redor do ambiente. Cortinas. Cadeiras e uma pequena mesa. Uma cômoda com espelho.

Olha para os próprios pés nús, ainda na cama. Vê-se só de cuecas. Um lençol está dobrado num canto da cama estreita.

Num repente, seus sentidos despertam. Está em um lugar estranho.

Levanta-se rápido. Seu cérebro relembra, agilmente, sua situação.

"A senhora Scully, o advogado..."

Mulder pega da mesinha de cabeceira o relógio de pulso. Confere a hora ali marcada com o da parede. Tudo certo.

Apressado, vai até o pequeno banheiro, para arrumar-se.

* * *

O advogado cumprimenta Margareth e Mulder.

Maggie põe as duas mãos sobre o peito.

Prosseguem os três no veículo a conversa, enquanto rodam estrada afora, em busca do seu objetivo.

Logo a fachada de um amplo edifício cercado de grades e grande jardim, está diante de seus olhos.

Ele estaciona o veículo e dele descem.

Maggie caminha ao lado de Mulder, que, vendo-a um pouco titubeante, segura-lhe um braço, para ajuda-la a andar até a entrada do prédio.

Entram, finalmente.

O advogado afasta-se de Mulder e Maggie. Eles permanecem sentados em uma sala de espera.

Maggie olha para suas próprias mãos pousadas no colo, vendo-as trêmulas.

Mulder descansa os cotovelos nas coxas, enquanto segura a cabeça entre as mãos.

O silêncio é total. Nenhum dos dois atreve-se a pronunciar qualquer palavra.

Abre-se uma porta. E por ela entra o Dr. Scott.

Mulder sai de sua concentração, para atender o chamado.

No mesmo instante do chamado, uma mulher de feições serenas entra no recinto, tendo nos braços um bebê.

O advogado se antecipa:

A mulher pára e aguarda.

Maggie caminha até ela. Pára. Sorri, cobrindo a boca com as mãos. Os olhos estão marejados de lágrimas.

Maggie confirma, apenas com um meneio. Estende a mão e toca na face do bebê. Prepara os braços para pegá-lo ao colo e a mulher o entrega.

A mente de Mulder, imediatamente, capta o sonho que tivera certo dia. Quem sabe seja verdade o que lhe havia mostrado aquele sonho?

Um homem de cabelos grisalhos entra na sala, neste momento. Cumprimenta os visitantes.

Mulder, quase desorientado, não está prestando a devida atenção às explicações da mulher que lhe está falando. Ele olha para Margareth. Esta, com o bebê nos braços, chora, copiosamente, pela emoção incontida.

Mulder aproxima-se de Maggie. Faz um gesto de segurar seu filho, que, rapidamente, estende os bracinhos roliços para ele.

Maggie afrouxa seus braços e deixa que a criança se jogue para os braços do pai.

O Dr. Morgan mostra no semblante um sorriso enigmático, sob o curioso olhar do Dr. Scott.

Mulder segura seu filho nos braços. Prende o pequeno corpo do filho em seu peito, com ardor.

O menino, com os dedos diminutos, segura-lhe o queixo, olhando-o, com curiosidade.

Dos olhos de Mulder descem lágrimas e, enquanto chora silenciosamente, mantém o rosto escondido no corpo de William.

Margareth, com as duas mãos tapando a boca, o contempla com os olhos cheios de lágrimas.

Nos olhos de todos ali, as próprias almas afluem, demonstrando a emoção.

Maggie apenas faz um meneio, agradecendo emocionada.

* * *

Margareth, ajudada pela Sra. Stegall, entra na sala, carregando uma pesada bolsa e com William nos braços.

Mulder achega-se, para ajudá-la.

Despedem-se da Sra. Stegall e encaminham-se para a saída.

O Dr. Scott já os espera no estacionamento.

Entram no carro, a seguir.

Maggie, com William no colo, tem os olhos brilhantes pela emoção.

Mulder, sentado no banco do carona, vira o corpo para trás, a fim de poder ver o filho.

Maggie ajeita a criança em seus braços.

Com o leve embalo do carro, logo o bebê começa a bater as pestanas, levemente.

Mulder o contempla.

O bebê, vendo que aquele rosto estranho o observa tanto, abre os lábios, no seu doce e inocente sorriso, mostrando dois pontos brancos na gengiva.

Todos riem, animados e emocionados.

"A criança é alegria, como o raio do

sol; é estímulo, como a esperança."

Coelho Neto