CONSCIÊNCIA PESADA
"O castigo mais importante do culpado
é nunca ser absolvido pelo tribunal de
sua própria consciência."
Juvenal
Capítulo 157
Dana continua extasiada, mantendo seu filho nos braços, enquanto o beija e o acaricia.
O bebê faz um ar de choro.
- O que será que ele tem, Scully? - pergunta Mulder.
Dana observa William, atentamente. Dirige a palavra à mãe, sem tirar os olhos do bebê em seus braços.
- Mamãe... a que horas ele se alimentou?
- Não se preocupe, Dana. Há uma hora, somente. - sorri - Ele já está comendo sopinhas.
Mulder sorri, também, ouvindo isso.
Dana levanta-se com o bebê no colo e anda pelo aposento.
- O que o meu nenê quer, hein? - sussurra para ele, em voz melosa.
A criança torna-se mais agitada. E choraminga.
Maggie aproxima-se.
- Dana, a senhora Stegall disse que à tarde, a essa hora, ele costuma dormir...
- E hoje está agitado, com tanta novidade... - fala Mulder.
- É verdade, Fox. - confirma Maggie.
Com essas palavras, Dana passa a caminhar com o bebê em seus braços.
E conforme caminha, aperta a criança contra seu peito, enquanto de seus olhos escorrem lágrimas.
Mulder, de pé, apertando olhos com os dedos, medita em quão grande é a emoção de sua amada Scully.
Maggie havia sentado na poltrona, e acompanha, com olhar feliz, os passos da filha dentro do aposento.
- Daqui a pouco tempo você nem mais vai poder carregá-lo no colo, Scully. - comenta Mulder.
Dana pára. Sorri. Olha para Mulder e para sua mãe.
- Mamãe... Mulder... eu estou muito feliz...!
- Sim, filha, eu sei. - ela levanta-se - Dana, sabia que vou ser sua vizinha por algum tempo?
- Sim, mamãe.
- Verdade? Você já sabia?
- Mulder já me havia contado que você viria pra perto de nós, por um tempo e espero que esse tempo seja longo.
- E o que achou da idéia?
- Maravilhosa, mamãe!
- Obrigada, filha.
- Mamãe... ahn... o casal que estava com William... você o viu?
- Não, Scully. - antecipa-se Mulder.
- Bem... eu... pensei que...
- Não, filha. Recebemos William já das mãos da senhora Nancy Stegall, lá da Instituição.
- Entendo.
- Mas posso dizer-lhe uma coisa, Scully. - acrescenta Mulder.
- O quê, Mulder?
- O nosso filho chorava muito quando estava com eles. Na verdade ainda não tinha se adaptado a uma nova família, embora tenha levado todos esses meses .
- É verdade, Mulder? - está ansiosa.
- É verdade, Dana. - confirma Maggie - A senhora Stegall nos contou essa queixa do casal.
- Estranho, não?
- Nem tanto, Scully. - Mulder fica junto de Dana, afagando a cabecinha de seu filho - William sentiu a diferença da verdadeira mãe para a outra e ...
- Oh, meu Deus! - ela fala chorosa - Eu fiz nosso filho sofrer! - aperta a criança entre os braços - Eu o fiz sofrer, Mulder!
- Não, não se culpe, Scully!
- Como não? Cometi uma perversidade com meu filho! - ela já derrama lágrimas aflitas.
- Não diga isso, Scully!
- Mas eu sei, tenho minha consciência pesada, Mulder! Por que eu fiz isso, meu Deus?!
Margareth, vendo a aflição da filha, aproxima-se:
- Não diga isso, Dana! Nada aconteceu, filha! Ele está bem! Saudável, bem cuidado...!
- Não... ele não está bem! Aliás está bem agora... e depois... mais tarde... isso vai influenciar na vida dele, - volta-se para Mulder - Não é verdade, Mulder?
Dana o interroga com o olhar angustiado.
Mulder não responde.
- Me diz, Mulder... não é verdade o que eu acabo de dizer?
- Mas, por que se martiriza, pensando nisso, Scully?
- Como deixar de pensar nessa frustração que vou causar a meu filho?
Mulder abraça-a, juntamente com o bebê.
- Você tem é que pensar agora que está com William em seus braços e que nunca... nada ou ninguém o tirará de você, nunca mais! E que tudo faremos para compensar na mente e coração dele, que há muito amor em nós e que tudo fizemos para tê-lo de volta.
Dana soluça. William chora.
Maggie pega a criança dos braços de sua mãe, que agora chora, sem cessar.
Mulder procura acalmá-la.
Aos poucos, Dana deixa que o calmo afagar e ternura de Mulder amenizem sua dor e, o choro vai cedendo lugar a uma grande paz.
- Mulder...
- Fala.
- Temos que providenciar umas coisas...
- Sim, já pensei nisso.
- Sabe do que estou falando?
- Sim, Scully. Berço para o William e certas coisas para o uso dele.
Maggie interrompe, para dizer em voz baixa:
- Não se preocupem com roupa. Está tudo aqui, comigo.
- Não, mamãe! - diz Dana - Não quero que ele use mais essas roupas. - volta-se para Mulder - Por favor, me ajuda a comprar outras.
Mulder olha para Maggie. Ambos sorriem. Sabem da necessidade que Dana sente de querer fazer tudo pelo seu filho.
Maggie faz um gesto para Dana e Mulder se aproximarem.
Eles chegam até ela e vêem o semblante inocente de seu filho, adormecido.
- Dorme como um anjo...! - diz Maggie.
Dana agacha-se junto à poltrona onde está sentada sua mãe, com o neto adormecido nos braços.
Mulder afasta-se e vai para o outro quarto.
Dana acaricia, levemente, a face de seu filho, enquanto lhe beija os pequenos pés calçados em meias.
- Mamãe...?
- Sim, Dana?
- Ele já calça sapatinhos de couro?
- É... só de solinha fina. Pra acostumar o pezinho, mas ainda não sabe andar.
Dana coloca a cabeça deitada sobre as pernas de seu filhinho e permanece nessa posição.
Faz-lhe bem aquele aconchego. Sentir a terna quentura da pele tenra de seu filho.
Sai dessa posição e estende os braços para Maggie.
- Mamãe, dê-me ele. Vou levá-lo para a cama.
- Sim, minha filha, claro! Mas olhe aqui o jeito destas poltronas. Elas encostadas uma na outra, improvisam uma boa cama para William. E os braços ajudam para que ele não caia.
- Que idéia boa, mamãe!
- Viu como sei inventar, Dana? É a experiência.
Dana vai até o interruptor de luz e deixa somente acesas as luzes dos apliques nas paredes.
* * *
Mulder está encostado à janela, pensativo. Tem uma caneca de café na mão.
Dana aproxima-se dele, silenciosa. Vagarosamente, vai até ele e abraça-o pela cintura.
- Oi?
- Oi, Scully. Está feliz?
- Ah, Mulder... - nem termina a frase, com emoção na voz.
- Foi uma espera de alguns meses, Scully, mas que valeu a pena... vencemos!
Ela não responde. Suas respostas são pequenas e leves carícias que ela faz no pescoço e peito de Mulder. Isso é uma forma de agradecimento, já que as palavras são incapazes de transmitir toda sua imensa emoção. E essa emoção fôra causada por um grande segredo de Mulder para consigo.
Na verdade, ela até cometera uma falta, que perdoa de todo coração, ainda mais com essa alegria infinda que pode sentir agora.
"Escreve na areia as faltas do teu amigo."
Pitágoras