NO ROTEIRO DE UMA VIDA

"Mulder sentia-se como um ator e o roteiro

que precisava já estava escrito nas estrelas,

eterno, sem limites e a sua própria vida

havia construído o texto."

Rosa Orofino

Capítulo 158

Dana contempla, embevecida, Mulder que toma o café, vagarosamente.

Ele segura-a por um braço e abre a boca para impedi-la de falar, mas ela coloca os dedos em seus lábios, decidida.

Ele a puxa por um braço. Deposita a caneca que tem na mão sobre uma mesa. Leva Dana até onde está a criança, a dormir.

Dana acarinha os tenros cabelos de seu filho, sorrindo, levemente. Abraça-se a Mulder, enquanto contempla o sono da criança.

Afasta-se logo e dobra os joelhos junto às duas poltronas unidas, que estão servindo de berço. Em silêncio, continua ali.

Pega as mãozinhas da criança, uma a uma, olha seus dedinhos pequenos e roliços. Passa a mão no corpinho do bebê vestido apenas numa curta camisa macia e fraldas.

O bebê estremece com seu toque. Mas continua no seu sono; os punhos fechados, as pernas dobradas despojadamente sobre os lençóis que cobrem as poltronas.

Dana continua ali, calada, a contemplá-lo.

Faz Dana erguer-se do chão.

Mulder a abraça.

Maggie, chega à porta do quarto e permanece ali, parada.

Mulder a vê.

Maggie aproxima-se, com ar feliz.

Mulder aperta o braço de Dana, fazendo-a entender que vai afastar-se.

Sai, deixando as duas a conversar.

Ele dirige-se ao outro aposento, onde está a cama de casal. Abre o armário, a fim de procurar uma roupa mais confortável para vestir e, enquanto faz isso, deixa-se levar pelos pensamentos que afluem em sua mente.

Sua vida já fôra toda como num filme, tal qual um drama, onde o desenrolar da trama era sua trajetória, numa infância triste e uma juventude atribulada.

E agora, na maturidade da vida, quando deveria estar com um pouco de paz, esta o esquece, pois o mundo sempre consegue colocar à sua frente o sofrimento, a preocupação.

Assim sendo, na sua passagem por este mundo, ele sente-se como um ator, desempenhando o seu difícil papel, no roteiro de sua própria vida.

A preocupação que toma conta do coração de Dana, também é sua; faz parte também do seu viver.

Mas ele fará com que a mulher amada, mãe de seu filho, seja feliz.

Com amor, compreensão, afeto e carinho, sua criança conseguirá sobrepujar todos os sentimentos negativos que porventura tentarem sobreviver em seu coração.

* * *

Mulder abre os olhos. Estende o braço para tocar o corpo de Dana. Está vazio o lugar. Ele senta-se na cama.

A madrugada está gelada lá fora.

Momentaneamente esquecera de que Dana agora tem algo mais a que se dedicar.

"Na certa está olhando o bebê." - pensa ele.

Levanta-se. Caminha na direção do outro quarto.

Lá está Dana. Ajoelhada. Quieta. Ante o filho adormecido.

Mulder chega perto e toca-a no ombro.

Ambos ficam parados, ali, diante do seu filho.

É Dana quem toma a iniciativa. Segura a mão de Mulder.

"Amar é mudar a alma de casa."

Mario Quintana

 

Nota : À minha grande amiga Rosa Orofino eu agradeço a colaboração de suas belas palavras no pensamento que faz parte deste Capítulo.