PERSISTÊNCIA

"A persistência é irmã da excelência. Uma é

questão de qualidade; a outra, questão de tempo."

Marabel Morgan

Capítulo 160

Mulder surge à porta com o grande embrulho em seus braços.

Ao entrar, o pequeno William lança seu olhar de admiração sobre ele e o enorme pacote. Agita os braços, em sinal de satisfação.

Dana, que lhe ajeita a fralda, ergue o olhar também em sua direção.

Mulder aproxima-se, deposita o grande embrulho no chão e faz menção, com as mãos, de que vai pegá-lo no colo.

O pequeno agita, mais uma vez os braços, num murmúrio ininteligível, o qual significa que ele deseja comunicar-se com seu pai.

Mulder toma-o nos braços. Encaminha-se para a direção do grande pacote em papel brilhante. Coloca o bebê no chão, agacha-se a seu lado e começa a desmanchar o embrulho.

Dana presta atenção no que ele está fazendo.

Mulder arranca, com ímpeto e impacientemente, o papel que envolve algo que tem a cor amarela.

Um enorme, fofo e chamativo cachorro, de grandes orelhas e olhos vivos, aparece diante dos três.

Os olhos de Mulder estão brilhantes.

Os de Dana abrem-se. Admirados e surpresos.

Os olhos do pequeno William apertam-se e, num gesto que faz com a boca, vem acompanhando um longo e alto ruído de choro. E ele abre a boca, chorando, num movimento repulsivo contra o que aparece diante de si. Procura alcançar os braços da mãe.

Dana ri e toma William nos braços.

Dana e Mulder voltam-se para olhar para Maggie, que fala essa frase, entrando no recinto.

Dana está rindo, ainda. Afaga o bebê, carinhosamente.

Mulder passa a mão nos cabelos. Faz um bico com os lábios.

Dana entrega William à sua mãe. Dirige-se até à fofa poltroninha.

Dana fica brincando, alisando as patas do cachorro, que fazem os braços da poltrona.

Maggie vai andando em direção do brinquedo.

William chora mais. Grita. Agarra-se no pescoço da avó.

Mulder senta-se numa cadeira. Cruza os braços sob a nuca, jogando a cabeça para trás.

Dana está de pé, mãos cruzadas sob o queixo. Cabeça baixa. Pensativa.

Ele levanta-se rápido. Caminha em sua direção. Agarra-a pela cintura.

Abraça-o pelo pescoço, fazendo-o abaixar-se um pouco para alcançar sua estatura.

* * *

Mulder, deitado no chão, deixa que o filho, engatinhando, passe por cima de sua barriga.

Ele ri. O bebê ri mais. Acha por demais divertido atravessar para lá e para cá, sobre o corpo do pai.

Dana, junto dele, deitada de lado, um braço segurando a cabeça, aprecia as peripécias de pai e filho.

Dentro de seu ser, sente uma infinita alegria, felicidade; realização.

"Deus é infinitamente misericordioso. - pensa ela - Quanto desespero eu senti... por quanto sofrimento tive que passar, pela ausência de meu filho e agora aqui está ele, junto de nós e para sempre! Obrigada, meu Deus! Eu estou muito feliz. E tudo isso o fruto de uma inigualável persistência por parte do homem que amo!"

William engatinhara até o cachorro-poltrona. Está parado diante dele. Toca-o com os dedinhos. Parece querer ver a reação que aquele bicharoco pode tomar.

Ele tenta novamente tocá-lo. O cachorro continua lá. Parado. Enormes orelhas caídas. Olhos vivos. Fitando-o .

O bebê resolve tocá-lo com o pé.

Sem reação aquele grande bicho.

William achega-se mais.

Encosta, novamente, com as pequeninas mãos ainda sem coordenação motora, o grande brinquedo diante de si. Olha-o, de alto a baixo, como que examinando-o . Desvia o olhar para os embevecidos pais, que acompanham cada gesto seu. O pequeno solta uma risada. Aperta as mãozinhas, nervoso. Engatinha, novamente. Encosta mais e mais no cachorrão amarelo.

Enfim, para extrema alegria de Mulder e satisfação de William, este galga a pequena altura da fofa poltrona. E refestela-se nela, sorridente.

Dana quer correr até o filho, cheia de contentamento.

Mulder segura seu braço, impedindo-a .

* * *

Dana pega a xícara que a mãe tem à mão.

Maggie abaixa a cabeça, pensativa.

Dana percebe.

Dana sorri. Mas lá no fundo do olhar tem um ar entristecido.

Maggie esboça um sorriso, distendendo os lábios. Com um meneio declara que concorda.

Maggie sai e bate a porta.

Dana dirige-se ao quarto onde está o berço de William, que dorme tranquilo. Ela aproxima-se. Beija com carinho a pequenina mão do filho, jogada sobre o colchão. Ajeita-lhe as roupinhas. Vai para o outro quarto.

Mulder, deitado na cama, está lendo um livro.

Ela senta-se na beira do colchão, quieta.

Ele deixa o livro cair sobre o peito.

Ele estica o braço para tocá-la.

Ela beija-lhe a pele quente.

Ela sorri e retira a roupa. Veste a camisola.

Sob os olhares cobiçosos de Mulder. Que coloca o livro sobre a mesinha ao lado da cama.

Dana apaga a luz central e deixa somente ligado o aplique na parede. Deita-se ao lado dele.

Mulder a aperta nos braços e a aconchega mais contra si.

Mulder toma conta dos lábios e da língua que lhe falam as fascinantes palavras de amor.

E enquanto unem suas bocas num beijo sem fim, as mãos dele passeiam, deslizando docemente sobre o corpo pequeno e frágil que o fascina, que o enche de desejo e que o domina nesse momento de prazer.

Os quadradinhos das vidraças da janela brilham com o reflexo do luar.

O silêncio só é quebrado pelos murmúrios e gemidos do casal no seu ato de amor.

As folhas dos galhos das grandes árvores lá fora, fazem movimentarem-se sombras que, como o luar, se refletem nas vidraças.

Aqui e acolá o piado de um pássaro noturno pode-se ouvir, fazendo eco no espaço.

Sobre a mesinha de cabeceira, o livro aberto, exibe suas páginas, iluminadas pelo aplique na parede.

"Um livro é um pássaro com mais de cem asas para voar."

Ramon Gomez de La Serna