ANTIGOS SONHOS

"Chegará o dia em que, talvez

as máquinas pensem, porém

elas nunca terão sonhos."

Theodor Heuss

Capítulo 161

Mulder, em pé, pernas afastadas. Braços cruzados. Atento. Aprecia o rapaz que está fazendo o corte do extenso gramado, à frente da casa.

Continuando a apreciar o trabalho de Mike, sua vista alcança um bando de pardais, que, ao perceber a grama sendo aparada, havia descido ao chão, a fim de catar sementinhas e insetos para comer.

O homem recosta-se à ponta do cabo da máquina aparadora de grama. Coça a cabeça.

Mulder faz um gesto, assentindo. Afasta-se dali. Entra na casa.

A porta, construída em quadradinhos de vidro, está brilhante, assim como todas as janelas.

A faxineira já havia deixado a casa uma perfeição em limpeza e higiene.

Mulder esboça um imperceptível sorriso. Está satisfeito.

Dispõe-se, em seguida, a caminhar pelos compartimentos vazios. Passeia o olhar pela ampla sala.

"Amanhã chegarão os poucos móveis, conforme Scully escolheu." - pensa ele.

Caminha pelo extenso corredor.

Duas suites. E mais dois quartos menores.

"Foi muito boa hora a que eu aluguei esta casa. Podemos morar mais tranquilos aqui, pelo menos... temporariamente."

Ele retorna à varanda.

Uma fina chuva, levada pelo vento forte que está soprando, espalha-se por sobre o local.

O rapaz continua seu trabalho, aparando o imenso tapete verde, preparado pela natureza.

Mulder dirige seus passos para o interior da casa, novamente.

Apesar da fina chuva, a temperatura está amena.

* * *

Na grande varanda, o sol morno da tarde fria penetra, infiltrando-se pelo meio dos vasos das plantas ornamentais, expostas sobre o parapeito de mármore da varanda.

Résteas da luz solar recobrem a face de Mulder, que, deitado na longa espreguiçadeira, tem Dana em seu colo, como a uma criança.

Ela fecha os olhos, enquanto ele a acarinha com suavidade.

Mulder aperta-a contra si, com sensualidade nas mãos, cujos dedos acariciam sua mulher com paixão. Fala baixo, na sua voz sussurrante:

Ela afasta o corpo do dele, rápida:

Mulder dirige a ela o seu espontâneo sorriso de menino.

Dana levanta-se do colo dele. Cruza os braços.

Ele agarra-a pela cintura, encostando a cabeça em seu peito.

Dana segura, com as duas mãos, sua cabeça e beija-lhe os cabelos. Fica por alguns instantes assim, nesse gesto amoroso.

Suas lembranças a levam até quando, certa vez, em seu escritório no FBI, usaram essa mesma atitude. Recorda as palavras:

"- Por que não vai pra casa dormir um pouquinho?"

Ela lhe havia dito naquela ocasião. Achegara-se a ele, que, sentado à mesa, recostou a cabeça em seu peito e ela afagou-o, suavemente, como a um menino.

Dana relembra que, naquele momento, já sentia o sentimento maior que pode existir entre um homem e uma mulher: o amor. E este já estava enraizado no seu coração, sutilmente, embriagando-a de prazer, mas que ela desprezava, fazendo Mulder entender que ela o considerava um bom colega e amigo, apenas.

Dana sorri e seu peito movimenta-se sob a roupa.

Mulder retira a cabeça de junto de seu corpo. Olha-a.

Dana fecha os olhos. Concentrada.

Mulder a observa, com um meio sorriso. Sopra-lhe nos ouvidos:

E ela continua concentrada.

Ele a sacode pelos ombros.

Mulder, agora, afasta-se de Dana. Meio amuado.

Ela abre os olhos. E o vê com semblante sério.

Dana estende os braços na direção dele.

Mulder pigarreia. Passa a mão nos cabelos. Finge estar interessado em algo que vê no gramado, que se estende diante de sua vista.

Ele a fita, fixamente:

Ele vira a cabeça para trás e dá uma risada.

Dana faz um muxoxo:

Repentinamente, Dana põe-se a correr na direção do verde gramado. Pára. Retira os sapatos baixos dos pés. Corre mais.

Mulder faz o mesmo, então. Corre, rapidamente, alcançando o lugar onde ela se encontra.

Dana joga-se na grama. De bruços.

Ele chega e deita-se ao seu lado. Olhando para o céu límpido, muito azul.

Ela vira a cabeça para olhar.

Um bando de pequenos pássaros faz ecoar seu pipilar, enquanto cata alguma coisa que encontra sob a grama recém-cortada.

Dana deita-se com os braços dobrados sob seu queixo, olhando as aves.

Os olhos de Mulder percorrem ao redor da cerca branca e baixa, que contorna o gramado.

Sua vida havia mudado, realmente, fazendo renascer nele um sentimento de paz. Sente que é muito bom estar nesse lugar, com a mulher que ama e o fruto desse amor.

"Tudo que é bom dura pouco, mas o

suficiente para se tornar inesquecível."

wanshipper@yahoo.com.br