Mulder continua deitado na grama, olhando as nuvens brancas desenhando-se no céu de intenso azul.
- Scully, naquela hora, em que você estava pensando?
- Que hora?
- Quando você falou nos antigos sonhos... era sobre nós, mesmo?
- Ah, Mulder! - ela desliza a mão sobre a grama - Por que acha que eu iria enganá-lo? - deita de lado, virando-se para ele - Eu fico lembrando momentos que tivemos em que eu bem poderia ter-me entregue toda a você, sem titubear. No entanto...
- No entanto, você não acreditava nas palavras de amor que eu lhe falava, Scully.
Dana parece não ouvir. Está concentrada em pensamentos, para dizer:
- Olha, houve certas ocasiões, em que eu tive vontade esganar alguém.
- Quem? - ele dá uma risada.
- Aquela mulher da Scotland Yard, que você estava beijando no jardim daquela mansão...
Mulder rola na grama, empolgado.
- Lindinha, você já sentia ciúmes de mim, naquela ocasião?
- Devo confessar que sim, Mulder, embora eu não me desse conta disso.
- Talvez mais por uma questão de posse, isto é, você poderia estar querendo impedir que ela lhe roubasse o parceiro. - ele a observa, lançando sobre ela o seu olhar perscrutador.
- É... até poderia ter sido... mas tem também aquela outra vez...
- Outra?! Qual? - demonstra interesse.
- Aquela sua ex, toda insinuante, segurando suas mãos...
- Segurando minhas mãos?! Quem?
- A... Fowley.
- Quando foi isso?
- No hospital em que estava internado o menino Gibson.
- Ah...!
- Morri de raiva, Mulder! Eu passei pelo corredor olhando vocês e retornei, com uma tremenda aflição dentro de mim, um desgosto cruel; senti-me frustrada.
- Aaah... frustrada!
- Não, não era bem isso! Era ciúme mesmo! Corroendo-me as entranhas!
Mulder joga-se sobre ela. Fala junto ao seu rosto, em voz murmurante:
- Lindinha, por que teve que me fazer esperar tanto... hum? - beija-a nos lábios.
- Porque eu não tinha uma certeza de que você me amava, realmente. Poderia ser apenas um sentimento de aventura.
- Aventura? - beija-a, novamente - Scully, o que você achava dos meus sentimentos ao ver você de amores com aquele tal corretor?
- O quê?! Com quem?
- Aquele cara...
- Ah, sei... Ed Jerse.
- Sim, esse!
- De amores, não!
- Isso foi um modo de falar. Na realidade, você fez o papel de uma aventureira.
- Mulder!! - protesta, ainda sob o poder dos braços dele.
- Desculpe, Scully... foi assim que eu pensei.
- Como pôde pensar que eu...
Ele volta a deitar-se, olhando para o céu.
- Esquece o que eu disse. - faz uma pausa - Scully..., preciso arrumar um jeito de fazer alguma coisa.
- ...
- Está me ouvindo, Scully.
- Sim.
- E o que acha?
- Não sei.
- Ficou zangada?
- O que você acha?
- Acho é que, sendo a mãe de um filho tão lindo quanto o William, não deve preocupar-se com as bobagens que eu falo. Além do mais, nós estávamos rememorando fatos e comentando nossas opiniões, certo?
Ela permanece calada.
Dana sorri. Rapidamente levanta-se.
Um choro se ouve, vindo do interior da casa.
- O que será? - indaga Mulder.
Dana já se afastara dele, correndo.
Entra na varanda e alcança a sala, apressadamente.
Maggie está com William nos braços, consolando-o.
- O que aconteceu, mamãe?
- Nada demais, filha. Dois dos balões de gás estouraram e ele assustou-se.
Dana segura o bebê em seus braços.
- Nossa! Pensei que tivesse sido algum acidente!
Maggie dá uma risada:
- As mães de primeira viagem por qualquer coisa fazem tempestade num copo d'água. Depois do segundo e do terceiro filho, tudo muda.
- Segundo e terceiro?! Nem pensar!
- Não diga tolices, Dana! De repente vocês resolvem aí e vão tratar de aumentar a família.
- De jeito algum mamãe!
- Não vamos discutir esse assunto, por enquanto. - retira o avental de sobre o vestido.
Maggie afasta-se.
Dana, com seu filho nos braços, sente que, na verdade, ela já começa a ficar pesado.
William olha fixamente para a mãe e seus lábios começam a movimentar-se.
Ele parece exercitar-se, movendo a boca, algo como palavras. E as sílabas se podem ouvir.
Dana abre os imensos olhos azuis, extasiada. Nem está acreditando no que vê.
- Mulder!! - grita a plenos pulmões.
O grito excitado de Dana chega até os ouvidos de Mulder, que levanta da grama e sai correndo, para a direção de onde vem o seu chamado.
Esbaforido, chega até o recinto onde ela se encontra segurando William nos braços, de olhos arregalados.
Ele aproxima-se, intrigado.
- Mas o que está acontecendo?
- Olha, Mulder... nosso filho... - e não consegue pronunciar mais palavras; a emoção embarga-lhe a garganta.
Vendo-a nesse estado, Mulder toma o bebê em seus braços.
- Fala pra mim, Scully... o que aconteceu? Ele me parece estar bem...!
- Nosso filho está ótimo, Mulder! Eu é que sou uma mãe exagerada mesmo! - começa a sacudir os braços do seu bebê, incentivando-o - Vamos filhinho, fala ma... mãe!
A criança, no colo do pai, reinicia:
Mulder, num ímpeto, aperta-o contra seu corpo, carinhoso.
- Coisa bonita do papai! - ergue o pequeno até o alto, fazendo-o dar risadas, desbragadamente.
- Não é lindo, Mulder, ouvi-lo falar as primeiras palavras?
- Emocionante, Scully.
Dana aconchega-se junto ao corpo de Mulder, que enlaça o seu com um braço, enquanto que com o outro segura seu filho. Ele também encontra-se emocionado com o fato de William estar balbuciando as primeiras sílabas de seu ainda titubeante vocabulário.
Mulder prende mais o bebê contra seu peito, enquanto faz o mesmo com Dana. Fecha os olhos e, num minuto de reflexão, pensa em quão feliz é, nesse momento.
"Uma família... e completa, agora. Neste momento sinto uma grande paz dentro de mim.
Nem sei até quando vou poder me sentir assim leve, sem desesperos, nem aflições. De repente tudo poderá mudar e acabar toda essa felicidade que estamos sentindo agora, mas precisamos aproveitar esses momentos."
Após esses segundos de divagações, ele descerra as pálpebras e percebe que Dana o olha, com admiração.
- Por que me olha assim, Scully?
- É o contentamento de vê-lo assim, com esse ar absorto, feliz...
- Dá pra notar?
- E como!
- Nem preciso perguntar se você está sentindo esse mesmo sentimento.
- Sim, Mulder, não precisa.
"O amor nada é sem sentimento e o
sentimento é menos ainda sem amor."
Sterne