RAIVA

"Raiva é quando o cachorro que

mora em você, mostra os dentes."

Mario Prata

Capítulo 164

O esplendor da bela manhã irradia a claridade extasiante, que circunda a casa.

Mulder acabara de despertar. Sua mão, automaticamente desliza para o lado, buscando encontrar o contato com o corpo de sua amada.

Dana não se encontra ali, deitada.

Ele retorna a mão e desliza-a sobre a parte do peito descoberta, sob o pijama.

Após alguns segundos, ele senta-se na cama. Ouve os passos de Dana, mesmo sob os seus macios chinelos.

Ela entra no quarto. Em silêncio. Sem olhá-lo.

Ela apenas faz um gesto com a cabeça, cumprimentando-o.

Ela esquiva-se da aproximação dele.

Ela levanta o olhar para fitá-lo. Esboça um leve sorriso.

Ele a abraça, rodeando o braço pela cintura dela.

Dana afasta-se um pouco dele.

Ela cala-se, por instantes. Por fim, aperta os lábios rosados e lança a pergunta:

Ele retira as mãos dela do rosto, suavemente. Aperta-a contra si.

Ambos suspiram. Estão sensíveis ao toque de seus corpos. Sentem o calor do aconchego no abraço.

Ele afasta do rosto dela alguns fios do cabelo ruivo.

Ele levanta-lhe o queixo. Vê seus olhos molhados, fazendo-os brilhar ainda mais o azul sereno deles.

Ele desliza os dedos polegares sobre as faces dela, enquanto as mantém entre suas mãos.

Ela tenta sorrir. Deixa que ele pouse, levemente, os lábios sobre os seus olhos.

Mulder afaga os quadris de Dana, enquanto continua deslizando os lábios sobre seu pescoço, procurando o recôndito do caminho do seus seios.

Dana suspira, arfante. Sente as carnes tremerem e sua intimidade pulsar de desejo. Consegue murmurar:

Dana sente que suas forças vão-se esvaindo aos poucos. Todo o seu ser necessita das carícias dele.

* * *

Mulder, jogado displicentemente, sobre os lençóis, observa o lustre de cristal no teto.

Dana acompanha a direção do olhar dele. Suspira profundamente. Vira-se de lado e coloca a cabeça sobre o peito de Mulder. Dá uma discreta risadinha.

Mulder acaricia-lhe as costas.

Dana acomoda-se melhor, com a cabeça e os braços aconchegados sobre o tórax macio de Mulder.

Ele cala-se, enquanto detém-se, ainda, a olhar para o teto.

* * *

Dana, sentada frente à mesa de seu parceiro, mantinha-se calada, refletindo sobre as palavras dele e sobre os acontecimentos das últimas horas.

Havia corrido risco de vida, enquanto estivera procurando ajudar o sujeito que lhe havia inspirado compaixão e ternura. Uma coisa, porém, jamais admitiria: que Mulder a censurasse pelo que fizesse ou deixasse de fazer! E por isso mantinha-o a certa distância, principalmente nesse nefasto acontecimento, tão complicado que enfrentara.

Levantou-se em passos firmes e decididos. Chegando à porta, deu uma última olhada para o parceiro, que, sem fitá-la, rabiscava qualquer coisa em um papel.

Dana subiu os degraus que a levariam ao elevador. Nervosamente, esperou que este chegasse. Nele entrou e teve, para mal grado seu, que cumprimentar rês pessoas que ali se encontravam.

Desceu à garagem. Pegou seu carro. Com as mãos sobre o volante, parou por alguns minutos, meditando sobre sua vida.

"Droga! Que acontecimento mais degradante! Com isso Mulder acredita que eu tive uma aventura com aquele homem...! Uma aventura...?! Mas... e se tivesse? O que ele tem com a minha vida? Sou dona do meu nariz... maior de idade... consciente... independente... só... - ela engoliu em seco - ... só... incomodamente só... e apaixonada...!"

Repentinamente, seus próprios pensamentos a fizeram voltar a si, com ímpeto, pela surpresa de suas emoções.

"Como... apaixonada?! Como eu poderia pensar nisso?"

* * *

Dana retorna à realidade. Havia, por minutos recordado cenas antigas.

Com um sutil movimento e com um sorriso nos lábios, olha o perfil bem delineado do homem que ama e que sempre amou, desde os idos tempos do trabalho nos Arquivos-X.

E sente-se recompensada. Sofrera horrores pela sua própria indecisão. tempos atrás, porém hoje tem ao seu lado aquele a quem entregara o coração, sem mais titubear.

"O coração tem olhos que o cérebro desconhece."

C. H. Parkhurst