TENTANDO DESCOBRIR
"Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em
uma hora de brincadeira, do que em um ano de conversa."
Platão
Capítulo 169
Mulder, com William nos braços, vai caminhando para fora da casa, em direção ao verde gramado lá fora.
Sua vista segue a direção da voz de uma criança sorridente, que encontra-se em frente do seu portão.
- Oi... - cumprimenta, alegremente, o garoto ao ver Mulder aproximar-se - ... tudo bem?
- Tudo certo. - ele sorri e olha para as casas ao redor - Em qual dessas casas você mora?
- Aquela ali... - o menino aponta - ... de portão verde.
- Ah, sei. - coloca seu filho no chão, cuidadoso, segurando-o firme, pela mão.
- É seu filho? - o menino abaixa-se junto ao bebê, que observa atentamente o visitante - Ele sabe jogar beisebol?
Mulder ri, com gosto.
- Não, ele ainda é um bebê; não sabe essas coisas. Que idade você tem?
- Oito anos.
- Muito bem. O nome do meu filho é William e o seu?
- George.
- Você conhece todos os vizinhos aqui?
- Conheço, sim! Quer que eu diga o nome de todos eles?
- E você sabe?
- Claro! - fala convicto, colocando as mãos nos bolsos.
Um homem está passando pela calçada oposta, olhando para Mulder e as crianças.
Mulder abaixa a voz e indica o transeunte.
- Como é o nome daquele ali?
- Ah, aquele eu não sei... não mora aqui.
Mulder coloca a mão sobre a cabeça loura do menino.
Ao fazer esse gesto, nota a ainda rala cabeleira de seu filhinho William, de fios castanhos, como os seus.
Em sua mente vem a lembrança de certo sonho que tivera em delírio, em uma cama de hospital, com a vida arriscada por uma intrincada e perigosa cirurgia que sofrera no cérebro, e nesse sonho estivera numa belíssima praia, cujas areias eram imaculadamente brancas; um homem estendia os braços para amparar os passos ainda incertos de um garotinho de tenra idade.
E agora Mulder sabe que o tal sonho significara um aviso a ele próprio, indicando que mais tarde poderia ter um filho. Nascera então William.
- Aquele homem não mora aqui, não! - está dizendo o garoto George, em voz alta.
Mulder desperta de suas divagações, ouvindo o que o garoto vizinho está lhe falando.
- Ah, não?! E onde, então? - pergunta.
- Eu não sei, mas ele está sempre aqui nesta rua.
Mulder sorri, com as palavras do esperto garoto.
- Eu já vou. - anuncia o menino.
- Nos veremos noutra hora. - fala Mulder.
O garoto afasta-se, correndo.
Mulder abaixa-se diante de seu filho e, estendendo os braços para que ele caminhe em sua direção, relembra as mesmas cenas que haviam vindo à sua mente minutos atrás.
Relembra, ainda, aquela criança do seu delírio, construindo um imenso disco voador nas brancas areias da praia deserta.
* * *
- Aaaaaah!!! - o grito de pavor ressoa dentre as paredes da casa.
Mulder, que acabara de entrar na varanda com William nos braços, corre em direção de onde viera o grito.
- Scully!! Scully!! - ele chama, alarmado.
Dana aparece à porta de seu quarto, pálida de susto.
Maggie, em passos rápidos, surge então, vindo da sala, com um vaso de flores nas mãos.
- Quem gritou, Scully? - pergunta Mulder.
- Ahn? - ela não sabe como responder.
Maggie, com as mãos crispadas agarradas ao vaso, está com ar apavorado.
- Foi você, senhora Scully?
- Eu?! Não... é... ah, meu Deus!
Dana a interrompe:
- Mulder... ahn... fui eu que gritei, porque acho que vi um rato!
Mulder a olha, sem entender.
- Eu nunca a vi gritar de modo tão apavorante, Scully! Parecia até ecoar, como vindo de algum...
- Desculpe, Mulder! Eu fiquei... ahn... apavorada mesmo!
Maggie, agora com as mãos apertando-se uma contra a outra, sentara-se numa cadeira.
- Mas o que é que está havendo, verdadeiramente? - ele olha, incessantemente para as duas mulheres - Scully, pelo que me consta, você nunca teve medo de coisa alguma, muito menos de um rato!
Dana está com o coração batendo descompassado. Nervosa.
- Eu sei... é que agora estou um pouco mais sensível...
- Dana, - começa Maggie - por que não fala...?
Imediatamente, e a fim de interromper-lhe as palavras, Dana retira William dos braços de seu pai e entrega-o à avó.
- Mamãe, cuide dele; ajeite-o, para sairmos um pouco, como eu havia falado antes.
- S... sim. - a mãe responde, titubeante.
- Vamos aonde, Scully? - Mulder quer saber.
- Lembra-se de que lhe falei outro dia que deveríamos conhecer aquele lago que vimos de passagem na estrada, quando viemos conhecer esta casa? Pois é lá que eu quero ir.
- Tá, Scully. Tudo bem, mas... - pára e fita-a.
Maggie retira-se da sala, levando o bebê.
Mulder segura Dana pelos ombros, fazendo-a voltar o olhar para ele.
- O que é, Mulder?
- Você está me escondendo algo.
- Eu?! Escondendo algo de você?! Imagine! - tenta sorrir, sem conseguir, porém.
Dana afasta-se, fingindo descontração. Retira-se para outro lugar da casa.
* * *
A mãe de Dana, sentada na beira da cama e olhando o neto engatinhando no chão, cercado por seus brinquedos, ergue os olhos ao ver sua filha entrar.
- Dana, esse grito agora há pouco, quase fez parar o meu coração! Não é exagero, não! Morri de susto! O que vamos fazer, filha?
- Não sei, mamãe. Ainda mais que Mulder sabe que adoro esta casa; ele deve ficar imaginando, então, que não pretendo sair dela tão cedo. Porém nas atuais circunstâncias, não sei, não... hum... - fica pensativa.
- O que é, filha?
- Estou pensando... acho que vou procurar o dono da casa...
- ... pra quê?
- Pra perguntar certas coisas.
Maggie segura um cubo plástico colorido, que seu neto está lhe entregando nesse instante.
- Filha, dentre outras coisas, você pode até perguntar se...
- O que, por exemplo?
Sua mãe demonstra estar sem graça. Abaixa a cabeça, pensativa.
- Bem, vou entrar em contato com o homem. Vou tentar descobrir alguma coisa.
Dana afirma isso e deixa o recinto, apressada.
Vai até seu quarto. Pega o telefone celular.
Ela e Mulder haviam decidido que, mesmo com a idéia de passarem somente uma temporada na casa, teriam que adquirir um telefone celular, cujo número não seria divulgado a nenhum daqueles que sabem que eles ainda permanecem vivos.
Por uma questão de segurança. Afinal, ainda estão sendo perseguidos por seus inimigos.
Dana toma o livreto onde há anotado o número do proprietário do imóvel. Em seguida digita-o. Alguém atende do outro lado.
Dana identifica-se.
- Senhor Mattock, eu estou ligando somente para perguntar-lhe uma coisa: esta casa, que o senhor alugou pra nós... ahn... ela... dentro dela houve algum acontecimento anormal ou... problema de assassinato, morte violenta ou coisa parecida?
- Como?! - ele fica espantado.
- Ah, desculpe-me, senhor Mattock, mas essa pergunta foi difícil de eu decidir-me a fazê-la, mas é imprescindivel que o senhor me responda.
- Não, senhora Mulder! Nunca! Esta casa pertence à minha família, desde os meus ascendentes!
- Sei... mas... diga, senhor Mattock, alguma tragédia aconteceu aqui dentro, mesmo em tempos remotos ou... bem... quem morou por último nesta casa?
- Eu com minha família, é que moramos aí, antes de eu alugá-la à senhora e seu marido. E eu saí daí somente porque tive a sorte de poder comprar uma casa de dois andares, bem mais confortável e moderna... mas por que está me fazendo essas perguntas? Está havendo algum problema?
- Problema? Ah, não, senhor Mattock! É por questão de uma dúvida aqui que eu e o Mulder tivemos e eu queria confirmar com o senhor. Não se preocupe. Está tudo bem. - faz uma pequena pausa - Ahn... senhor Mattock, então nunca aconteceu nada de extraordinário, não é mesmo?
- Não, nunca! Mas que tipo de acontecimento extraordinário?
Dana dá uma risadinha nervosa.
- Não se preocupe, Senhor, com essa minha pergunta. Eu acredito em suas palavras.
- E pode acreditar, com toda certeza, porque sou um homem que zela pelo que fala!
- Sei, sei, senhor Mattock. Obrigada e passar bem.
Dana desliga o aparelho e fica meditando nas palavras do homem.
Dentro de seu próprio espírito debatem-se sentimentos entre a mentira e a verdade das palavras que ouvira.
"Enquanto o Espírito Santo opera em nosso
interior, os anjos de Deus operam ao nosso redor."
Bispo Macedo
wanshipper@yahoo.com.br