VITÓRIA
"Vitória sem perigos é triunfo sem glória."
Sêneca
Capítulo 175
- O que significa isso? - pergunta Dana, curiosa com o achado.
O pequeno aparelho na mão espalmada de Mulder, dispõe em sua superfície de alguns botões marcados por letras, que formam códigos.
- Veja isso, Scully: esses botões significam siglas de diversos recursos. Naturalmente tem este botão vermelho aqui para ligar... POWER. Ahn... deixe-me ver... Scully, como é que as coisas aconteciam lá dentro...?
- Ventania, Mulder... batidas... gritos...
- É isso! E veja só: WI - de vento... BL - de sangue... GH - de fantasma... DO - de porta... PA - de panela... CH - de corrente... ST - de pancada ... CR - de grito. Entendeu o jogo, Scully? Não são esses os ruídos e sinais que vocês viram? O sujeito gostava de usar esse brinquedinho...
- Sim, sim! Mas como é que...?
- É isso que vou ver agora.
Ele diz isso e dirige-se em passos rápidos, para dentro da casa.
Ela o segue.
Entram e ele tranca a porta.
Sem mais esperar, Mulder apanha uma escada de abrir. Coloca-a junto à parede da sala.
- O que você vai procurar, Mulder?
- Espere e verá.
Mulder examina, atentamente, cada centímetro da sanca de gesso decorado disposta junto ao teto, ao longo da parede, observando-a em todos os detalhes.
Ele examina a primeira, a segunda, a terceira e a quarta lateral do teto do recinto.
Solta um suspiro sibilante, demonstrando desânimo.
- Nada, não é? - indaga Dana - Mulder... talvez nesta sala não haja nada. Ainda não aconteceu nenhuma dessas coisas aqui.
- Bem lembrado, Scully. É isso. Vamos pra outra.
O casal caminha para a outra sala. Mulder carregando a escada.
Ele começa examinando o primeiro lado do teto.
- Mulder, nesta sala nós vimos uma daquelas coisas... mas deste lado! - ela aponta a parede oposta de onde ele está.
Ele desce da escada e carrega-a para o outro lado. Sobe, em seguida, vagarosamente, degrau por degrau, de rosto voltado para cima, olhando fixamente para o teto. Examina a sanca, também, detidamente, centímetro a centímetro.
- Scully, achei!! - fala, em alta voz, após minutos.
- Onde, Mulder?
- Aqui - aponta o lugar - É um pequeno sensor, embutido aqui no gesso. Os enfeites da sanca permitem escondê-lo o suficiente de nossa vista, aí do chão.
- Vai ver nas outras paredes?
- Sim. - ele desce e carrega a escada para um dos quartos.
Dana o acompanha.
- Neste quarto já viram alguma coisa?
- Sim, Mulder. Nesta parede aqui. - aponta, já entusiasmada com a descoberta.
Nesse momento ela sai dali, seguindo para o quarto de William. A porta está trancada.
- Mamãe? - chama.
- Dana? Já vou! - Maggie abre a porta.
- Mamãe, acabaram-se as preocupações. As assombrações terminaram, finalmente.
- É verdade, filha? Descobriram mesmo alguma coisa?
- E você duvida, mamãe?
- Jamais, Dana! - seus olhos brilham com a esperança renovada.
- Tudo forjado, mamãe. Venha que lhe mostraremos.
- Dana, minha filha, estou certa que a vitória sempre acompanhou e acompanhará a vida de vocês.
Dana abaixa o olhar e suspira, pensando:
"Nem sempre, mamãe, nem sempre."
* * *
Mulder, do lado de fora, maneja os botões do controle remoto.
Maggie e Dana, do lado de dentro da casa, conferem a operação.
A cada botão que Mulder aciona, ouve-se o som correspondente e apavorante, pois ressoam no ambiente, de modo assustador.
- Mas que desgraçado o homem que fazia isso, hein, Dana?
- É um sujeito perverso.
Dana mostra a Mulder, que já vem entrando na casa:
- Mulder, esta marca de aparelho aqui é desconhecida pra mim.
- Que marca? - ele examina o nome que ela lhe mostra em letras brancas, na superfície do aparelho - Não é a marca de produção dos aparelhos, Scully. O cara apenas mandou fazer uma gravação. Este deve ser o nome dele.
- Você acha?
- Desde quando penso alguma coisa errada, Scully?
Ela o olha, num leve sorriso de mofa.
Mulder dá uma risada, com gosto.
- Por que está rindo?
- Porque vejo que o cara é bastante imbecil para fazer um negócio desses. Gostava tanto do brinquedinho, que acabou gravando o próprio nome!
* * *
O Sr. Mattock, sentado à frente de Mulder, não está acreditando no que ouve sobre a descoberta dos seus inquilinos.
- Mas como é possível tal coisa? Não tem sentido!!
- Engana-se, senhor Mattock. Para os malfeitores há sentido em tudo!
Dana chega perto deles, com o controle remoto na mão.
- Mas, falando em malfeitores, senhor Mattock, veja este nome aqui, gravado. É do referido sujeito; é o que eu e Mulder imaginamos.
Mattock observa o nome gravado na superfície escura do aparelho.
- Mathews Hytner!? Não é possível!! Não pode ser! Não pode ser!
- O que foi, senhor Mattock? - pergunta Dana.
- É algum conhecido seu? - quer saber Mulder.
- Esse cara é meu parente, senhor Mulder!
Mulder esboça um sorriso entre os lábios apertados. Levanta-se. Enfia os polegares no cós da calça. Olha para Dana.
Dana, por sua vez, cruza os braços. Uma sobrancelha levantada. Fita Mulder, num olhar de cumplicidade.
* * *
Na Delegacia, o Sr. Mattock presta declarações, incriminando seu parente Mathews Hytner.
- Senhor Mattock - fala o Delegado - esse seu parente está sendo acusado pelo senhor, tendo como base o quê?
- Senhor Delegado, eu possuo uma casa que, de um certo tempo para cá, era como se eu vivesse um filme de terror.
- Como assim?
O Sr. Mattock explica tudo o que Mulder lhe havia contado e mostrado.
* * *
- Mulder, o proprietário da casa já foi resolver o caso com a Polícia?
- Sim, Scully. O parente dele era justamente aquele homem que passava diariamente em frente à casa. Esse cara combinou com um especialista a instalação de sensores em todos os ambientes, visando causar espanto aos moradores, que, certamente, se afastariam, o mais rápido possível daqui.
- E qual o intuito disso?
- É porque esse parente do senhor Mattock afirma ter direito à posse da casa, como herdeiro.
- E o que diz o senhor Mattock?
- Bem, o que ele diz eu não quero saber, Scully. Eu é que não posso tomar parte nesse assunto entre os dois e a Justiça, já que não me é possível comparecer a uma Delegacia, por causa da minha condição de fugitivo... - ele faz uma pausa e baixa o tom da voz - ... humilhante para quem já foi um paladino da justiça.
Dana o abraça, carinhosa. Nem sabe que palavras usar para confortá-lo dessa frustração.
- Finalmente livre desse embaraço! - ela murmura.
Ele a fita.
- Scully, eu já estava preocupado se teríamos que ir embora daqui.
- Eu sei, Mulder. Eu também sentia isso. E mais por nosso filho, porque ele tem direito a ter uma infância num lugar de ar puro...
- ... e muita paz! - conclui ele.
Dana cala-se. Fica olhando para o vazio, absorta em seus pensamentos.
Mulder segura-lhe o queixo e fá-la voltar-se para ele.
Ela mantém o olhar abaixado.
- Scully... posso dizer-lhe em que está pensando?
Ela volta os olhos azuis, indagadores, na direção dele.
- No fundo, - ele continua - você está pensando se poderemos criar nosso filho em paz...
"A paz é a vitória da ordem sobre a desordem."
R. Guillou