UM BELO DIA... SE MORRE!
"Morrer é tão simples e lógico como nascer."
Anatole France
Capítulo 176
William engatinha na grama verdejante, divertindo-se em perseguir a grande bola de gomos coloridos diante dele. Pára por segundos, para dar grandes risadas. Logo após, retorna ao seu objetivo.
Dana sorri com ele, também feliz por vê-lo tão satisfeito.
Maggie, varrendo o piso da varanda, aprecia mãe e filho, que formam linda cena diante de seus olhos.
Ele pára. Olha-a, com o inocente sorriso de dois dentinhos à mostra. Junta as mãozinhas, batendo palmas, entusiasmado.
Dana também bate palmas, imitando-o.
Maggie termina o que estivera fazendo. Aproxima-se do portão de saída da varanda.
O ruído do motor de um carro ouve-se, chegando na rua.
Dana presta atenção.
O taxi estaciona. A porta abre-se.
É Mulder.
O pequeno, ao ver a figura do pai, acelera o engatinhar em sua direção, no intuito de encontrá-lo.
Mulder, carregado de sacolas de compras, depõe as mesmas no piso de pedras e corre para o gramado. Toma seu filho nos braços.
Beija-o nos cabelos, amorosamente.
Dana pega os brinquedos espalhados que estão pelo chão e os leva para dentro.
Mulder carrega William também para dentro de casa.
Ele passa por Dana, carregando o seu filhinho no colo e essa cena a faz lembrar-se de algo que aconteceu em sua vida, há tempos atrás:
Emily, a filhinha que não pudera conceber em seu ventre.
Naquela ocasião, a menina, muito doente, havia comovido o coração de Mulder. Ele a tomara em seus braços, para que fosse levada ao hospital e o zelo e o cuidado com que ele a carregara, havia emocionado Dana.
Ele tratara a garotinha como se fôra sua própria filha! - ela havia notado.
Uma tristeza corre pelos olhos azuis de Dana e uma lágrima furtiva tremeluz dentro deles.
* * *
Dana dá uma risada.
Mulder balança a cabeça, num gesto de pouco caso, por suas palavras jocosas.
Saem do quarto de William; ele envolvendo os ombros dela, com carinho.
* * *
Mulder, com sua voz sussurrante, murmura aos ouvidos de Dana:
Ela sorri, mostrando para ele os rubros lábios bem contornados, também sussurrando.
Ele suspira. Leva a cabeça para trás.
Ela afasta de si as mãos dele que a agarram pela cintura.
Ela achega-se a ele; murmura bem junto de seu rosto.
Ele, novamente, leva a cabeça para trás, dando uma risada. Fica assim, por alguns instantes.
O rico e o pobre são duas pessoas
O soldado protege os dois
O operário trabalha pelos três
O vagabundo come pelos quatro
O advogado defende os cinco
O juiz condena os seis
O médico cura os sete
O coveiro enterra os oito
O diabo carrega os nove
E a mulher engana os dez.
Ele, realmente, permanece estático, pensativo.
Aproxima-se do aparelho de som portátil, que se encontra sobre um móvel.
Observa a diversidade de botões e aperta um. Senta-se, relaxadamente, num sofá, estirado, com os pés colocados num dos braços do móvel.
Logo um fundo musical, em doce melodia, é iniciado.
Uma voz masculina suave, narra pausadamente, as palavras, que se misturam ao fundo musical:
Dana havia prestado atenção às palavras da narrativa radiofônica.
Achega-se a Mulder, senta-se ao seu lado. Deixa a cabeça derreada sobre o peito dele.
Aquelas palavras haviam lhe tocado o coração, assim como o de Mulder.
Volta-se para Dana. Gentilmente, afasta uma mecha de cabelos de seu rosto.
Ela afasta a cabeça do peito dele.
Ele levanta-se, puxa-a com determinação para junto de seu corpo.
Procura-lhe a boca, ávido e sequioso por sentir as sensações que lhe causam o corpo pequeno, vibrante e frágil de sua amada e bela Scully.
"Será que o belo consiste em evitar o feio?"
Krichnamurte