UMAS IDÉIAS

"Quem conduz e arrasta o mundo

não são as máquinas, mas as idéias."

Victor Hugo

Capítulo 179

A mulher vai passando pela calçada, quando vê Maggie, com seu netinho nos braços, no portão baixo do jardim.

A vizinha faz um muxoxo, com ar chateado, meneando negativamente a cabeça.

Susan rodeia o local com a vista.

A mãe de Dana levanta as sobrancelhas.

Esta, é claro, não falaria à mulher que seu genro e sua filha são ex-agentes do FBI, mas faz questão de deixá-los a par dos acontecimentos.

A vizinha faz um sinal de que vai embora.

A mulher afasta-se.

Maggie entra, carregando William no colo, enquanto ele faz o possível para que suas mãos e o corpo dobrado o ajudem a pegar o jornal na mão da avó.

A tardinha já vai chegando na localidade.

Maggie olha a tímida lua que já começa a esboçar seus contornos transparentes no céu.

Ela entra em casa.

Mulder, deitado no sofá, com os pés apoiados num dos braços do confortável assento e a cabeça no outro, braços cruzados sobre o peito, olha o noticiário na TV.

Ele vira o rosto para olhá-la.

Mulder examina a foto.

Uma mulher, ao lado de um homem de cabelos grisalhos, mostra-se sorridente, enquanto o homem a envolve pela cintura, com um braço.

Mulder a olha, com um meio sorriso. Senta-se no sofá.

Maggie abre um sorriso, satisfeita, vendo a reação dele, enquanto coloca William no chão, o qual se agarra às pernas do pai, mantendo-se em pé, dando gritinhos agudos.

Maggie dá de ombros e deixa o local.

Mulder toma seu filho, coloca-o em cima do sofá e vai lhe beijando a barriguinha, o que o faz dar gostosas risadas.

Porém, enquanto brinca com a criança, Mulder tem um pensamento martelando-lhe a cabeça:

"É... interessante... fotos e mais fotos delatoras num jornal clandestino e não se sabe de ninguém que tenha estado por aqui usando câmeras... muito interessante... caso digno de ... uma investigação."

E enquanto surge em sua mente uma série de idéias, ele continua sua brincadeira com William, que expande toda a sua alegria infantil ao lado do pai.

* * *

O sol já está começando a pôr-se no horizonte. Seus raios vermelhos parecem uma pintura da Mão Divina, para extasiar os olhos humanos.

Mulder está andando, observando arbusto por arbusto, daqueles que rodeiam o jardim gramado da casa. Quer encontrar algo que denuncie de onde vêm, todos os dias, o enxame de abelhas perturbar o sossego dos moradores da casa.

Nada encontra de anormal. Na sua mente, deveria haver por perto uma pequena colmeia, de onde pudessem partir as abelhas para sua pesquisa diário sobre as flores.

Ele dirige o olhar para as árvores altas, que existem ao longo da rua. Repentinamente, sua vista detecta algo que lhe chama a atenção.

Uma construção ovalada, grande, escura, pendurada num dos galhos da alta árvore.

Ele ouve a voz, às suas costas.

É Dana, que havia chegado, sem que ele o notasse.

Mulder passa o braço em volta dos ombros dela e afasta-a do lugar.

Param, num momento.

Ele a fita, esquadrinhando-lhe até a alma, no seu característico olhar ardente.

Ela aconchega-se ao corpo dele, sentindo um frisson a percorrer-lhe as entranhas, de prazer.

* * *

Dana vem saindo do banheiro. Na camisola longa e transparente, seu corpo esbelto e pequeno tem a silhueta marcada, transparecendo sob o diáfano tecido. Ela deita-se ao lado de Mulder.

Ele a agarra, puxando-a para grudar-se ao seu corpo.

Ela beija, suavemente, a face dele, murmurando:

Ele a aperta com força. Dá um profundo suspiro.

Ambos ficam em silêncio.

Após momentos de um pleno e extasiante amor, suas mentes e corpos pedem repouso.

Nesse silêncio total, Dana, com a cabeça repousando sobre o peito quente dele, ouve o pulsar do coração de seu amado.

Olha para os seus lábios bem delineados na boca sensual, os olhos de transparente verde, fechados. Ouve um leve ressonar.

Ela fecha os olhos e deixa-se levar pela languidez do sono e do sentimento de felicidade e paz que a invade neste momento.

* * *

O dia amanhecera esplendoroso. O sol já começa a despontar no horizonte, iluminando tudo que está à superfície da terra.

As florezinhas, de variadas cores, que enfeitam os verdes e viçosos arbustos dispostos ao redor da casa, parecem brilhar à luminosidade do astro-rei.

Mas, antes mesmo do aparecimento do sol de agora, Mulder, uma hora antes, já havia providenciado uma comprida escada de madeira e, munido dela, escala-a, para alcançar os galhos de uma alta árvore perto da casa.

Um dos moradores da rua o vê subindo a escada.

O interpelado olha para baixo, vendo o outro que lhe cumprimentara.

Mas o aviso do vizinho chegara tarde.

Mulder já havia tocado com uma vareta o grande ninho pendurado diante de seus olhos, que tanto o havia atraído, deixando-o certo de que descobrira o local certo da morada das abelhas.

Mulder não entendera bem o espanto do seu conhecido. E está estático diante do susto dele.

Mulder quase nem consegue concatenar as idéias e descer degrau por degrau, a comprida escada.

A nuvem de insetos já o cerca com violência, prontos a darem suas terríveis ferroadas, defendendo seu território suspenso no galho da alta árvore.

"Não se faz nada bom nem definitivo

por meio da violência e da brutalidade. "

R. Goblet