ABELHAS
"O que não é conveniente para a colmeia,
também não o é para a abelha."
Marco Aurélio
Capítulo 180
O inchaço encaroçado nas pernas e braços obriga Mulder a permanecer deitado, sofrendo as dores provenientes das ferroadas que havia recebido dos maribondos.
Dana dá uma risada.
Dana cruza os braços, fitando-o incrédula:
A mãe de Dana aparece à porta do quarto.
Mulder recebe o noticiário. Começa a desfolhar as poucas páginas.
Mulder lê, em seguida, o restante do texto.
Porém, nesse momento, desviando o olhar em outra direção, ele depara com algo que lhe chama a atenção. Levanta-se imediatamente, largando o jornal.
William, sentado no chão, satisfeito e risonho, ladeado por variados brinquedos, diverte-se, pegando um a um, batendo-os no solo, para ouvir o ruído proveniente das pancadas.
Sobre um dos brinquedos coloridos, uma abelha está pousada.
O seu brilho chamara a atenção de Mulder, que agora, procura chegar bem próximo, a fim de examinar o estranho inseto.
No mesmo momento este voa, desaparecendo no espaço, em direção aos arbustos ao redor da casa.
Mulder corre nessa direção.
Dana, que estivera distraída, surpreende-se com a determinação do pai de seu filho.
Ele não responde. Alcança logo os arbustos floridos, dispostos ao redor da casa. Examina, atentamente, cada galho diante de sua vista ansiosa em encontrar o brilhante inseto. Continua na sua pesquisa, sem sucesso, no entanto.
Uma chuva de folhas desaba da pequena árvore, cobrindo de verde o chão de pedras.
Ele retorna para junto de Dana e seu filho.
Alheio ao comentário de Dana, ela pára e olha, novamente, na direção das pequenas árvores. Sua vista detecta, sob a luz do sol, o brilho da abelha no espaço. E acompanha com a visão o seu vôo.
Dana está próxima dele, com o filho nos braços.
Mulder está posicionado para a rua, de mãos presas à cintura, atento ao que vê.
Neste instante é que ele parece notar a presença dela.
William estica os bracinhos, querendo o colo do seu pai.
Mulder o segura. Toma-o no colo.
Dana dá uma risada.
Mulder volta o olhar para ela.
Diz isso e afasta-se, caminhando devagar, para dentro da casa.
* * *
Mulder está deitado na cama, relaxadamente, olhando, distraído, para a TV presa num suporte, suspensa na parede.
Pernas espalhadas, braços sob a cabeça, usando dois grandes travesseiros, que o estão ajudando a aumentar o nível do colchão, para poder ter melhor visão da tela luminosa.
Dana está rodeando a cama, ajeitando o grande cobertor, jogando-o sobre o corpo dele, que se remexe, achando gostoso o aquecimento do grosso abrigo sobre sua pele.
Dana ajeita-se sob o cobertor.
Ele olha-a e ri.
Mulder vira-se de lado. Pousa a cabeça junto ao ombro de Dana.
Ela afaga seus cabelos, como a um menino.
* * *
Maggie ajeita carinhosamente seu neto nas suas roupinhas de lã.
William já dorme um sono profundo.
Ela arruma-o mais um pouco, com atenção. Acaricia, mansamente, os cabelos lisos e castanhos do menino, como os do pai. Afasta-se do berço.
Vai para seu quarto, deixando aberta a porta do quarto do netinho, para o caso de precisar vir até ele.
* * *
Dana joga sobre o tórax de Mulder um imenso xale de lã, cujas franjas fazem cócegas em seu rosto.
Ele apenas sorri, levemente.
Ela afasta-se, bruscamente, procurando ficar no seu devido lugar, na cama.
Mulder agarra-a, fazendo-a retornar para o lugar onde estava. E, novamente, ele repousa a cabeça em seu ombro de pele alva.
Ela quer pronunciar alguma palavra e ele a impede, tapando-lhe os lábios.
"O tempo é muito lento para quem espera, muito
longo para quem sofre, muito rápido para quem
aproveita. Mas o tempo não existe para quem ama."