ABRAÇADOS E CALADOS

"Muitas vezes o que se cala faz

maior impacto do que o que se diz."

Píndaro

Capítulo 183

As folhas molhadas pelo orvalho da madrugada resvalam sobre a pele do rosto de Mulder, o que o incomoda, porém ele continua em sua tarefa de examinar, atentamente, cada galho do arbusto florido.

Com alegre surpresa, descobre algo brilhante sobre uma das folhas.

Ele a segura, firmemente, a fim de tentar agarrar o que lhe chama a atenção. Tenta, com cautela, toma-la na palma da mão.

Imediatamente, o inseto brilhante, cor de prata, desprende-se da folha, alçando vôo e distanciando-se em fração de segundos.

É Dana, aproximando-se dele.

Dana o fita. Nada diz, no entanto. Só dá a meia volta sobre os calcanhares, pronta para se afastar.

Ela não o quer ouvir. Prossegue seu caminhar.

Consegue segurá-la pela roupa às suas costas, travando-a em seu andar.

Ele toma o rosto dela entre as mãos.

Dana quer soltar-se dele, mas Mulder a segura firme. Coloca os braços ao redor de seu corpo esbelto.

Embora contrariada, Dana resolve deixar-se levar pela ternura e empolgação do homem que ama, que, por vezes é suave e terno e por outras brusco e sucinto. Mas que a ama. Disso não tem dúvida.

Por muitos minutos permanecem abraçados e calados.

Uma brisa suave mexe com as folhagens das pequenas árvores, fazendo-as farfalhar.

Dana está se sentindo reconfortada no aconchego acariciante dos braços quentes de Mulder.

Pronto. O encanto acabara de quebrar-se.

Dana olha espantada para Mulder, ante a exclamação dele.

Em poucos segundos ele a solta de seus braços. Em desabalada carreira vai seguindo o curso do vôo do inseto que acabara de ver sair do arbusto.

Dana o chama, sabendo, é claro, que para ele não importa o seu chamado naquele momento em que o seu interesse é descobrir ou conseguir capturar o tal inseto a quem ele tanto persegue.

E Mulder continua a correr. Seu olhar voltado para o alto, acompanha o vôo da abelha prateada. Com olho clínico ou olhar aguçado de uma águia, ele consegue ir vendo o inseto brilhante, que parece estar a tomar uma direção certa.

Em dado momento, Mulder percebe que o havia perdido de vista.

Estaca os passos, continuando a vasculhar o espaço com o olhar atento. Súbito, repara, para sua satisfação, que o inseto reaparece.

Mulder retoma seus passos, tentando seguir o incrível inseto.

Em dado momento, ao aproximar-se da parede uma casa, o inseto penetra em algum lugar, por onde desaparece.

Agora ele põe-se a examinar a casa, pelo lado de fora.

Paredes revestidas em pedras brancas brilham à luz do sol. Dois andares. Poucas e pequenas janelas estão nas paredes do alto.

O ex-agente procura a porta principal. Medita um pouco, enquanto pensa no que deve fazer. Chamar o morador ou penetrar, clandestinamente, no interior da casa?

Decide realizar a segunda hipótese.

Tenta forçar a porta ou alguma janela.

Ele volta-se, espantado.

Ele nem acredita.

Ele nem se dá o trabalho de ouvi-la. Continua tentando descobrir um meio de entrar na casa.

Ele pára por uns momentos, a fitá-la.

Mulder retoma sua pesquisa.

Neste mesmo instante, encontra uma porta de madeira, que parece ceder ao contato de sua mão.

Uma imensa escuridão desvenda-se diante de seus olhos.

O corredor completamente às escuras parece levá-los a algum túnel ou algo semelhante.

Prosseguem em seu caminhar.

Dana pisa em algo que a faz descer do rés do chão.

Ele retorna e, tateando na escuridão, ajuda-a a sair do chão que parece ter sido cavado.

Em dado momento, os pés de Mulder galgam algo roliço como tubos metálicos , o que o faz deslizar alguns metros, como se estivesse sobre patins.

Dana está parada, estática, aguardando que ele diga-lhe que está bem, mas sem a devida coragem para prosseguir seus passos naquele corredor tão escuro.

Ele, agora, por sua vez, não a ouve dar nenhuma resposta.

Silêncio.

Ele aguarda que ela lhe fale. Certamente tem que continuar sua caminhada com prudência.

"A prudência não consiste em fugir do mundo,

mas sim em fazer uso dele moderadamente."

Jules Simon