SENTINDO-SE CULPADO

"O culpado tem ouvidos

atentos a toda acusação.

"Henry Fielding

Capítulo 184

Mulder, com muita dor num dos tornozelos, tenta caminhar.

Nenhuma resposta.

Ele começa a preocupar-se.

Tenta levantar-se. O tornozelo torcido o impede.

Novamente o silêncio.

Arrastando-se, ele consegue chegar para trás, onde sabe que encontra-se Dana. Ele tateia pela escuridão. Seus dedos tocam em algo frio, como metal.

No fundo deseja que seus pés sintam, talvez, o corpo de Dana, que deve estar caído no chão.

Súbito, uma luz muito forte acende-se no local.

Como havia pensado, Dana está caída no chão. Um filete de sangue desliza em sua testa.

Mulder aproxima-se o máximo dela, arrastando, com esforço, a perna que não lhe quer obedecer.

Não a vê respirar.

Imediatamente começa uma respiração boca a boca. Durante segundos permanece agindo assim, ininterruptamente.

Para seu alívio, vê que os pulmões de Dana reagem ao seu esforço de fazê-la voltar a si. Neste momento, então, é que seu olhar volta-se para cima e pode ver algo se movendo.

Um robô, com uma espécie de bastão de aço na mão, sulcado por muitos frisos, move-se na sua direção.

Mulder, num gesto rápido, toma do chão um dos tubos metálicos que o haviam feito deslizar na queda e desfecha um golpe sobre o painel de botões que está exposto no peito do robô, tentando, com isso, desligar aquela máquina.

Um ruído de algo como raios elétricos, sai do homem-máquina e Mulder é acometido pelo choque que vem àquele toque no metal.

Ele é jogado ao chão. Mas não desiste. Levanta-se, sentindo mais ainda a dor em seu pé. Pega do chão mais um dos tubos e agora, com esforço, joga-o na direção do robô, que, novamente, lança o choque elétrico, sem atingir Mulder, já que este não havia deixado sua mão tocar no metal, em contato com aquela máquina, que age como um guardião, defensor do lugar.

Dana está ainda desacordada.

Mulder, cheio de ódio, toma em mãos mais um dos tubos no chão.

Percebe, neste instante, que o robô tem uma pequenina câmera em seu painel montado no peito, a qual movimenta-se imperceptivelmente.

"Certamente para transmitir imagens para algum lugar dentro desta casa." - pensa ele.

Mulder joga mais um dos tubos na direção do robô, que, desta vez, cambaleia.

Num esforço sobrehumano, Mulder agarra Dana e a ajeita em seus braços, para sairem ambos do estranho local.

Arrastando a perna, por não poder pisar firmemente no chão, ele começa sua caminhada pelo longo corredor, de volta para a porta de entrada.

O robô acompanha seus passos.

Mulder usa uma estratégia. Deixa Dana no solo, por um momento. Arruma os tubos metálicos que ainda restam próximos dele, unindo-os como uma esteira brilhante no chão e espera que a máquina os pise, para avançar em seu pesado caminhar.

No momento em que o robô o faz, Mulder empurra os tubos com toda a força e estes rolam no piso, levando consigo o homem-máquina, que é afastado totalmente, para bem longe do ex-agente, que consegue carregar em seus braços sua amada.

* * *

Maggie vê a cena que jamais imaginaria em sua mente.

Mulder, mancando penosamente, fisionomia atribulada, abatida, demonstrando muita dor, carregando em seus braços a desmaiada Dana.

* * *

Dana abre os olhos.

Com o semblante muito pálido, apática, inerte, como se completamente alheia ao que lhe cerca e nada existe à sua volta.

Mulder, sentado à beira da cama, contempla-a, com carinho, enquanto segura-lhe a mão pequena e fria.

Maggie, com os olhos lacrimosos, o neto nos braços, permanece muda, ansiosa e preocupada, a olhar a filha estirada no leito, sem nenhuma reação.

A mãe de Dana aperta os lábios, tristonha e chateada com a confissão do homem que sua filha ama de todo coração.

A mãe dela aproxima-se e pousa a mão sobre o ombro dele, apertando-o, suavemente, indicando assim que compartilha junto com ele a preocupação de ver Dana machucada, mas não o está condenando pelo acontecido.

Em seguida ela retira-se do quarto.

Mulder inclina-se até quase poder sentir a respiração de Dana.

Neste momento ela vira o olhar na direção dele, lentamente, mostrando que o está vendo ali. Move os lábios.

"Uma lágrima diz mais

que qualquer palavra."

Alfred de Musset