Mulder continua reclinado junto à Dana. Vez em quando toca, de leve a face dela, que continua a fitá-lo.
- Mulder... - balbucia - ... Mulder... o que houve? Eu... - corre a vista pelo espaço do quarto - ... você está chorando... Mulder... - olha mais uma vez para os lados - ... meu filho... onde está ele... mamãe...?
E ele prossegue afagando-lhe o rosto abatido.
- Scully... me perdoa! - pede baixinho.
Dana leva a mão até o rosto dele, para tocá-lo, com carinho.
- E William... e mamãe?
- Eles estão bem, Scully.
- Mulder... eu também estou... bem... só vejo ainda tudo a rodar...
Ele inclina-se mais para ela e coloca a cabeça encostada em seu peito.
- Me perdoa, lindinha...!
- Mulder... não fala isso de novo... - respira profundamente, fazendo um gesto de dor - ... não tenho nada a te perdoar... você não teve culpa... eu quis ir com você...
Ela segura-lhe a cabeça contra seu peito.
Mulder soluça, quietamente.
- Mulder... - as lágrimas deslizam pelo rosto dela - ... não fica assim...!
Em silêncio, por minutos, continuam acariciando-se, mutuamente.
- Mulder... quero saber...
- O quê, Scully? - ele fala ainda com a face encostada no peito dela.
- Como foi isso que... aconteceu comigo?
- Depois te conto tudo. O médico disse que você deve repousar o máximo possível.
Ela enxuga com os dedos a face dele, molhada pelas lágrimas.
- Vamos, durma um pouquinho... - ele pede.
- Não estou... com sono... - ela resiste.
- Está sim. - quer convencê-la.
Mulder desliza os dedos pelos cabelos ruivos de sua amada, acarinhando-a.
- Você vai dormir, Scully... pra acordar bem melhor.
- Você... quer me hipnotizar? - ela sorri, levemente.
- Sim, eu vou te hipnotizar! Olhe para os meus olhos.
- Estou olhando...
- Agora durma.
- Bobo! - ela xinga, em fraca voz - Você não possui a técnica de pôr uma pessoa em estado de transe por meio de sugestão... a ... sugestionabilidade varia grandemente... de uma pessoa para outra... e...
- Chega, doutora Scully! Você, neste momento é apenas mulher e mãe! Mais nada, além disso. Esqueça tudo! - ele finge semblante severo - Apenas continue olhando pra mim!
- Não adianta comigo, Mulder... não funciona.
Ele ri. Passa o dorso da mão sobre a face dela.
- Você é forte, lindinha. Não é a toa que trabalhou todos aqueles anos ao meu lado, naquela vida louca, enfrentando tanta coisa terrível!
Ela faz menção de levantar-se.
- Nem pensar! - ele a impede.
- Já me sinto bem, Mulder!
- Tá. Sei que você não é fácil, mas espera aí. - levanta-se e apanha na mesinha de cabeceira um comprimido; olha o relógio de pulso - Está na hora de tomar este remédio. Pronto. Pegue aqui. - entrega o medicamento e o copo com água.
Dana toma o medicamento.
Neste instante Maggie entra no quarto.
- Ah, já está dando o remédio, não é, Fox? Eu estava lembrando também.
- Venha, senhora Scully. Fique com ela.
Mulder fala isso e sai
Maggie aproxima-se mais de Dana.
- Está se sentindo como, minha filha?
- Estou bem... mamãe...? E meu filho?
- Está dormindo, como um anjinho, Dana.
- Mamãe...?
- O quê, filha?
- O Mulder estava chorando.
- Eu sei, Dana. Eu vi no semblante dele.
- Eu não vou ... deixar... que ele se sinta culpado...
- Sei que você não vai permitir que ele sinta isso, Dana. Foi um acidente!
- Ele lhe contou como aconteceu?
- Sim. Disse que quando viu as luzes acenderem, um boneco mecânico, quase do tamanho de uma pessoa... sei lá... a tinha atacado e você estava no chão.
- Um... robô?!
- Foi o que ele disse.
Dana olha para o teto do quarto de paredes claras. Fita o lustre pendente nele. Está calada, enquanto pensa:
"Um robô... um boneco mecânico... aquele homem é um cientista frustrado... assim comentam os vizinhos. Talvez seja ele..."
- Dana, você quer tomar um chá agora ou faço um mingau pra você? - pergunta sua mãe.
Tendo seus pensamentos interrompidos pela mãe, olha-a, com atenção.
- Não, mamãe; agora não. Ainda estou muito tonta!
Maggie abraça a filha, carinhosa.
- Dana, acho que vocês dois nasceram para envolverem-se em encrencas - sorri e dá um beijo na filha; sai do quarto.
Dana fecha os olhos e volta a refletir em seus pensamentos anteriores.
"Sim... eu e Mulder, realmente nascemos para nos meter em encrencas, mesmo que não queiramos.
Bem... na verdade aquele homem em cuja casa nós estivemos... seria capaz de... espera! Se ele é um cientista e pode construir algo tão sofisticado como um robô..."
A voz de Mulder chamando-a, interrompe os seus pensamentos.
- Pensei que você tivesse saído, Mulder!
- Não agora. Daqui a pouco.
- Não!! - ela o agarra pela mão - Não saia de perto de mim!
- Mas você está bem, lindinha!
- Não! - amansa a voz - Não estou... eu preciso de você perto de mim...
Mulder joga-se ao lado dela, na cama. Deita de bruços, cotovelos apoiados no colchão, contemplando-a.
- Se tivesse acontecido alguma coisa grave com você... - murmura.
- Mas não aconteceu, Mulder!
- Sei... mas havia uma probabilidade...!
Ela tenta sorrir, para animá-lo. Segura-lhe a mão e coloca-a em seu peito.
- Mulder... olha... estive pensando numa coisa...
- Huuum... já consegue pensar. Isso é bom!
Ela faz um gesto negativo com a cabeça, repreendendo-o.