COM MUITO INTERESSE

"Interesse é um ponto de exclamação

ou de interrogação no final do sentimento."

Mario Prata

Capítulo 187

O ex-agente do FBI, enquanto caminha com muita dificuldade, tenta prevenir-se de nova cilada que possa vir em sua direção.

O corredor pelo qual havia caminhado termina agora. Amplia-se, mostrando um salão repleto de maquinarias e aparelhos de alta sofisticação.

Ruídos intermináveis espalham-se pelo ar, no recinto sem janelas.

Mulder pára, a fim de examinar, com olhar atento e muito interesse, tudo ao seu redor. Achega-se a algumas das máquinas e não consegue atinar, instantaneamente, qual a função de cada uma delas.

Um grande painel está preso à uma das paredes. Cada um dos botões ali exibidos possui um código. Nesse painel inúmeros mostradores com visores digitais aparecem.

Ele prepara o dedo indicador para apertar um dos botões. Estaca, porém, o gesto no ar. Desistira do ato. Retrai o dedo e coloca-o sobre os lábios apertados. Pensa.

"Quem sabe o que poderia acontecer? Bom não arriscar."

Uma nova porta fechada chama-lhe a atenção. Para ela dirige-se, rapidamente. Força-a para abri-la e surpreende-se. A porta escancara-se, sem dificuldades.

Mulder vê que um novo ambiente delineia-se ante seus olhos surpresos. Agora uma sala clara, com muitas prateleiras, nas quais dezenas de frascos e tubos de ensaio em vários tamanhos estão colocados.

Ele toma nas mãos um dos frascos. Lê a etiqueta.

Cotton Grass

Essência

Choque ou trauma devido a um

acidente ou ferimento de qualquer tipo

Qualidades curadoras: ajuda a pessoa

a chegar a uma compreensão sobre as

questões centrais que causam o acidente

ou o ferimento, para que, desta forma, o

trauma mental, físico e emocional

associado, possa ser liberado.

NEBRAS

Essência

Mescla de rosas, oriundas da Alexandria,

Marrocos e Egito.

"Claro que já entendi, agora! Ele as usa para que as abelhas sejam atraídas pelos moradores e assim esses possam ser fotografados... lógico!" - completa em sua mente.

Fica pensativo.

"Mas como fomos fotografados eu e Scully, se não usamos as tais essências? Como ele faz isso? "

Miulder neste instante, vasculha com entusiasmo e atenção tudo que vê à sua frente.

Outra porta aparece diante de seus olhos. Ele a abre.

O característico som do zumbido de abelhas chega até seus ouvidos.

Um grande tanque de vidro, com ventilação artificial, está diante de sua visão estupefata.

Centenas de abelhas brilhantes voam para lá e para cá naquele seu limitado espaço.

Na parede clara, um painel expõe a figura detalhada de um dos insetos em tamanho gigante, e abaixo dele a legenda:

Seus olhos enxergam a longa distância.

Estão localizados nas partes laterais da cabeça;

são constituídos por milhares de matídeos,

formando um conjunto de olhos interligados

Existem 34.000 cavidades olfativas nas abelhas operárias.

Sobre uma vasta mesa, repleta de acessórios de todos os formatos, há uma grande e possante lupa, que logo chama a atenção de Mulder.

Ele a pega. Aproxima-se do tanque de vidro. Toma uma luva que ali está à disposição. Abre o pequeno orifício na parte lateral do tanque. Com certa dificuldade para capturá-lo, retira um dos insetos.

Cuidadosamente, ele o segura, evitando machucá-lo. Posiciona a lupa para examinar a abelha.

Uma micro, minúscula lente, certamente elaborada de um material de alta leveza está colocada entre as duas antenas da abelha.

Mulder consegue, com muito jeito, segurá-la para examiná-la bem, por mais alguns minutos.

Procura por sobre a grande mesa algo em que possa colocá-la para a guardar.

Acha um frasco pequeno entre uns tantos outros, com tampa. Recolhe o em seu bolso, com a abelha dentro. Também a grande lupa ele guarda em seu casaco. Já não precisa mais nada investigar. Está plenamente satisfeito.

Prepara-se para retirar-se da casa. Mas seus olhos deparam com uma outra porta. Ele a empurra, para a abrir.

Pilhas de jornais; o grande rolo de papel para usar na confecção dos mesmos. E a máquina aparelhada para a moderna elaboração do semanário lá está, a poucos metros de distância de sua vista.

"Tudo bem. - diz em sua mente - Agora não há mais dúvidas. O cara diverte-se com a infelicidade dos outros. E já que eu mesmo não poderei me expor, fazendo tal denúncia, entregarei o assunto para quem desejar faze-lo. E não vai faltar quem queira."

Mulder sai da casa, em passos ligeiros.

Já está no corredor, novamente.

O robô ainda está caído no chão, piscando as luzes de seu painel.

* * *

Mulder aproxima-se da cama.

Dana está deitada de lado. Olhos fechados. Quieta. Os cabelos ruivos e agora longos, estão jogados sobre o travesseiro.

Ele sente imenso carinho por essa companheira de todas as horas que já enfrentara com ele atormentados momentos em suas vidas agitadas, num trabalho insano.

No quarto, uma réstia de luz do fraco sol penetra suavemente pelo vidro, na parte de cima da janela.

Mulder retira o casaco, a calça jeans. Veste um pijama, sem a camisa. Deita-se, cuidadosamente, ao lado de Dana.

Ele senta-se.

Mulder dá uma risada.

Dana fica apreciando o seu sorriso, tal qual a de um menino quando ganha um presente. Isso a emociona, mas não vai deixar-se levar pelo sentimentalismo neste momento. Quer saber o que ele foi fazer àquela hora da madrugada, na rua.

Ele abraça-se a ela, com voz manhosa.

Com esse gesto dele, ela só consegue sorrir. E afaga-o, carinhosamente, em seus cabelos revoltos.

"Frio e insípido é o consolo quando

não vem indicando algum remédio."

Platão

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