INTELIGÊNCIA DESPERDIÇADA
"Não devemos descer nunca ao nível
da inteligência dos outros, mas
devemos facilitar-lhes o meio de
subirem ao nível da nossa."
Jacinto Benavente
Capítulo 189
Mulder, agachado junto ao corpo estendido no chão, examina somente com o olhar atento, aquele que ali encontra-se jogado como um simples boneco de pano, rodeado por uma grande mancha de sangue, em meio aos olhares curiosos de todos os que ali se encontram.
Levanta-se e fala em seguida para o homem que está a seu lado.
O ruído do murmúrio de todos que estão no local espalha-se pelo ambiente.
Johnson chama Mulder até um canto da sala.
O olhar de Mulder direciona o de Johnson para onde encontra-se o robô, desligado, encostado numa das paredes.
Mulder, com um gesto de cabeça, chama Johnson, que o acompanha.
Mostra-lhe o bastão de metal na mão do robô, arriado ao longo de seu corpo metálico.
Johnson aproxima-se bem para olhar.
Mulder distende os lábios apertados num leve sorriso.
Johnson, embasbacado com a esperta descoberta de seu amigo vizinho, encurva um pouco o corpo para prestar atenção no sangue que está acumulado numa das reentrâncias daquela espécie de cassetete de pesado metal e que cai, ininterruptamente, gota a gota sobre o piso.
Mulder deixa o local. Pára por instantes, a fim de estender o olhar ao seu redor.
"Por que esse cara preferiu esse tipo de vida?"
Ele deixa os pensamentos de lado. Recomeça a caminhar.
* * *
Dana, sentada no chão, acompanha, carinhosamente, os gestos do seu bebê.
Dana mostra figuras num livro.
Dana coloca o dedo sobre a figura de um cãozinho, mostrando-o a seu filho.
O olhar de Dana vai na direção da entrada.
Mulder, de pé, com as mãos apoiadas no umbral da porta, aprecia a bela cena da mãe brincando com o filho.
Ele sorri, levanta seu filho do chão e o agarra entre os braços, suspendendo-o para o alto, o que faz o menino dar vibrantes gargalhadas.
Após alguns minutos, coloca William no chão.
O garotinho anda, com seus passinhos inseguros em direção de um brinquedo.
Dana levanta-se rápida do chão.
Mulder permanece quieto por minutos.
Dana medita sobre o caso.
Dana abre um sorriso e meneia a cabeça, confirmando, fazendo balançar os longos e ruivos cabelos.
Mulder fica de joelhos no chão; em seguida coloca as mãos apoiadas no solo.
Dana vê a intenção dele. Toma William e o coloca sobre as costas do pai.
Mulder anda, como que engatinhando pelo chão, carregando nas costas seu filho, que diverte-se, a valer.
William, na sua linguagem, tenta imitar a fala de sua mãe.
* * *
O carro é estacionado na lateral da casa, no caminho de largas pedras de granito, entremeadas de grama.
Mulder abre a porta e sai do veículo, detendo-se a pegar, um a um, os inúmeros pacotes que estão no banco traseiro.
Dana, avistando da varanda sua chegada, presta atenção num detalhe inédito para ela.
Resolve aproximar-se de Mulder, para auxiliá-lo a carregar os embrulhos e, ao mesmo tempo, certificar-se do que seus olhos divisam neste momento.
Ela toma diversos pacotes de suas mãos e caminha rápido com eles para dentro da casa.
Mulder a segue.
Dana deposita rápido o conteúdo de suas mãos sobre a mesa. Volta-se, rápida, para vê-lo fazer o mesmo. Permanece calada. Cruza os braços.
Ele aproxima-se, segura-lhe o queixo.
Ele toma-lhe a mão e faz com que ela vá deslizando os dedos por sobre seu bigode, o qual prolonga-se, descendo para a face e o queixo, onde segue em forma de cavanhaque.
Ela faz um gesto negativo com a cabeça.
"É mais fácil criar um grande
amor do que destrui-lo."
Jacques Lelouch