Dana caminha apressada. Quer logo terminar as compras e rumar para casa. Sente-se cansada e enjoada com a montoeira de barulho e movimento das pessoas que se encontram na rua nesta momento.
Distraidamente, vislumbra um restaurante em seu caminho, cujas paredes totalmente envidraçadas permitem-lhe ver que poucas pessoas estão sentadas às mesas em seu interior.
"Puxa vida! Até que eu poderia fazer uma pausa nas minhas compras e tomar um lanche... qualquer coisa... porque vou demorar a chegar em casa."- pensa.
Súbito, seu olhar detecta algo que a surpreende.
- Mulder! - exclama, para si mesma - Não sabia que ele viria hoje aqui... não é possível... mas... é ele, sim!
Ela entra no restaurante; dirige-se logo à mesa na qual avistara Mulder.
Ele está calmamente mastigando pequenos pedaços de uma sobremesa, que retira com um garfo pequeno. Uma pequena xícara de café está ao seu lado, na mesa.
Ele levanta o olhar para ver de quem saíra a chamada. Imediatamente põe-se de pé, a fim de responder ao cumprimento, em tom meio vacilante.
Dana o fita, surpresa.
- Não pensei em encontrá-lo aqui.
- Bem... - ele sorri, com um ar gentil.
- Você já estava saindo ou vai fazer a refeição, ainda?
- Ah, - ele parece sem jeito - devo sair em poucos minutos.
- Tá ok. - ela senta-se e o olha intrigada com seu modo esquisito; parece-lhe estar com um ar distante.
- Eu não sabia que você estava vestido hoje com sua jaqueta de couro, porque eu a vi guardada no armário!
- É... eu gosto bastante dela...
Ele continua de pé.
- Não vai perguntar o que vou querer comer? - ela quer saber, percebendo-o extremamente diferente - Mulder... você está esperando a chegada de alguém?
- O quê? Como disse? - agora é explícito o seu modo diferente de ser.
Dana nota a indecisão tomando conta dele. Logo em seguida ele lhe dirige um breve sorriso; parece relaxar e senta-se.
- Eu acho que está havendo um engano. - ele fala, titubeante, com sua característica voz, onde bolinhas de gude deslizam-se-lhe na garganta.
- Ah, Mulder, pára com isso! - ela sorri e coloca na cadeira vazia ao lado, os pacotes que tem nas mãos.
- Bem... você... - ele começa.
- Eu não estou entendendo a brincadeira Mulder, mas pode pedir um sorvete pra mim? Estou com sede e faminta!
Ele não espera mais um segundo. Chama o garçom até a mesa e pede o sorvete.
O atendente retira-se.
Ele cruza as mãos. Coloca os cotovelos na mesa. Encosta nas mãos cruzados o queixo. Fita-a, com ar de curiosidade.
Dana fica sem ação.
- Ainda não entendi o porquê, mas o estou achando muito estranho.
Ele continua na mesma posição. Sorri.
- Sei que acha que me conhece de algum lugar.
- Como é que é?! - ela fica atônita - Você está passando bem, Mulder?
- Desculpe... eu não sou essa pessoa que você acredita que eu seja.
- Mas que negócio é esse? - ela já está com as narinas infladas, aborrecida.
- Meu nome não é Mulder, senhora.
Dana levanta-se, de súbito.
- Não?! Está de brincadeira comigo?!
Ele levanta-se também.
- Desculpe, mas não sou quem você imagina que eu seja.
- Você está querendo dizer que estou biruta?
Ele faz um sinal com as mãos espalmadas.
- Por favor, acredite... eu não seria capaz...
Dana sente necessidade de sair andando neste momento. Subitamente tem outra reação.
- Eu devo estar vendo coisas... mas não vou me deixar abater... pode me esclarecer que conversa idiota é essa?
- O quê? Que conversa?
Ela usa um tom de voz baixa. Está muito aborrecida. Irada.
- Quer parar com esse teatrinho, Mulder?
- Bem... posso até lhe dizer que ainda não fiz teatro... e meu nome não é Mulder.
Dana coloca as mãos à cintura. Está indignada. Não consegue entender porque ele está agindo dessa forma.
Ele, por sua vez, sente-se um pouco incomodado.
- Olhe, quando chegou até minha mesa, já tinha idéia de quem eu era, certo? - ele pergunta, até mal humorado.
- Eu ainda não estou louca. De repente você está e tenta convencer-me de que eu também estou ficando louca!
- Por favor, acalme-se. Nem fomos apresentados, ainda!
- Ah, não! Mas que palhaçada é essa? Onde que você quer chegar? O que está acontecendo?
Ele tenta acalmá-la.
- Olha, vamos conversar com calma. As pessoas aí em volta vão notar essa sua atitude nervosa e... não fica bem.
Dana aperta os lábios, irritada.
- Eu não estou aguentando mais essa palhaçada: Não sei qual é a sua intenção fazendo isso comigo... não sei...!
Nesse instante seus belos olhos azuis inundam-se de lágrimas.
Ele segura-a pelo braço e ajuda-a a sentar-se.
Demonstra estar penalizado com a emoção de Dana.
- Olha, eu não tenho a menor intenção de ofendê-la, nem de fazê-la de tola. Por favor, não pense isso.
- Mas é justamente o que você está querendo fazer comigo! E eu não sei porquê... eu não entendo...! - a voz fica embargada pelo choro.
Ele coloca sua mão sobre a dela, que está pousada na mesa.
- Eu pensei que você vinha somente a mim pra pedir um autógrafo. Não imaginava que esse encontro iria transtornar tanto a sua vida... e a minha!
Agora Dana, tentando restabelecer a calma, ouve-o, com atenção. Alguma coisa diferente lhe chama a atenção, mas não sabe distinguir o quê. Decide, por fim, mas calma, abrir seu coração.
- Olha... - a voz sai entrecortada pela emoção - ... se depois de todo esse tempo pretende acabar tudo, eu até posso entender, Mulder. Só não consigo, não posso entender, o significado disso tudo... esse seu modo de agir insensível... só sei que estou sofrendo... - chora, agora - ... e William... o que será dele?
- William...?
- Sim, o nosso filho! - olha-o, com espanto; leva as mãos ao rosto - Depois de tudo que fez para recuperá-lo, por que está agindo assim comigo, Mulder... por quê?
Ele nem sabe como agir; está sem jeito com a situação criada involuntariamente.
- Por favor... por favor, não chore... eu... - pega um lenço no bolso e entrega-o a ela - ... perdão fazê-la ficar nesse estado, mas não sou quem você pensa. - mete a mão no bolso novamente e dele retira uma carteira - Quero lhe mostrar isso. - exibe para ela um documento.
Entre a nuvem espessa de lágrimas que brota de seus olhos, Dana lê o documento que está à sua frente. Arregala os olhos, estupefata.
"As lágrimas são as válvulas
de segurança do coração."
Albert Smith