OBEDIÊNCIA

Capítulo 192

"O amor torna a obediência fácil e suave."

De Gerando

Ela leva a mão à boca. Relê o que ele lhe mostra.

Ele dá um leve sorriso. Guarda o documento.

Dana fecha os olhos, desesperada Sente que não merece tanto sofrimento ao ser vilipendiada pelo homem que ama. É demais para ela. Balbucia, então, somente:

Porém, mesmo diante da consternação dela, ele a está fitando, intensamente.

Dana faz um gesto de enfado.

Ela insiste em voltar-se para deixar o local, mas ele continua a impedi-la do gesto.

Começam a dar os primeiros passos para deixar o restaurante.

Algumas das poucas pessoas presentes, olham a cena com certo interesse.

Esse fato não passa despercebido a Dana, que não consegue entender o motivo de os estarem observando com tanta atenção e um ar até de incredulidade em seus semblantes.

Dana está, neste momento, estática. Martela em seu cérebro uma indagação:

"E se, na verdade, não for Mulder? Que coisa estranha é essa? Quem é, na verdade, esse homem? Ou será que estou louca? Mas... mas ele é Mulder... o homem que eu amo! Que sempre acompanhei nessa nossa vida atribulada, sofrendo horrores e decepções, mas sempre o amando... meu Deus... mas é ele... os mesmos cabelos castanhos de fios pesados e lisos sempre revoltos, os olhos da cor de uma campina verdejante em dias de sol, a boca sensual que me encanta, fascina, me deixa em êxtase...o sinal do lado direito da face... o peito levemente aveludado pelos poucos pelos na pele morena... as mãos... ah... as mãos que... claro! Não pode haver duas pessoas tão iguais! Não assim!"

Dana sente que o toque dele em sua pele a faz vibrar, da mesma forma como quando ele lhe acarinha o corpo, nos seus momentos de amor.

Mas nem sabe o porquê. Mesmo com a tremenda decepção que ele está lhe causando, nem consegue concatenar a idéia de que está cedendo às emoções com o toque dele, mesmo assim com maneiras tão estranhas, e o que está lhe fazendo sentir neste momento.

Verdadeira emoção. O tremor do prazer. O desejo de abraçar-se a ele.

"Por que a dúvida? Claro que é Mulder! O que está acontecendo comigo, oh Deus? Só Mulder, só o toque das suas mãos são capazes de me enlevar os sentidos da maneira que está acontecendo agora!"

Dana está seguindo os passos dele. E nem sabe o motivo dessa obediência.

Sente o corpo etéreo. Sem matéria. Até sem sentidos.

"Mas sem sentidos?! Não! Eu estou é louca que ele me tome em seus braços, me encha de prazer e me mostre que é o dono de mim, da minha vida... acabe com esse falso e absurdo procedimento de uma vez!"

Continuam caminhando.

Já na calçada ele a leva na direção de um carro estacionado no meio fio.

Ela estaca os passos, a fim de fitá-lo.

Ele lança para ela o seu olhar esquadrinhador, perscrutador, nas pálpebras apertadas e um vago sorriso nos lábios bem desenhados.

E ela sente o corpo arrepiar-se de prazer ao poder desse olhar.

"Sempre foi assim. Desde que o conheci. Ele tem o poder de me dominar com esse olhar."

"O eterno e incomparável sorriso de menino que me fascina."

Ele abre a porta do carro e a faz entrar nele.

Dana retém o passo por alguns instantes. Parece estar em dúvida de como vai agir.

"Raramente Mulder preocupa-se com esse gesto cavalheiresco de abrir o carro para que eu entre primeiro..."

Ela nota esse gesto dele. Mas essa observação não a impede de prosseguir no que está fazendo. Senta-se no banco do carona.

Ele dá a volta à frente do carro e entra também.

Coloca ambas as mãos no volante. Olha para a frente. Aperta os lábios.

Dana fecha os olhos, angustiada e intranquila. Suspira profundamente. Engole em seco.

Ela o fita, irada. As narinas infladas.

Ela cobre o rosto com as mãos, desesperada. Agora um soluço vem do âmago do seu peito sofrido.

Ele a olha, perplexo.

Dana sente os dedos dele, macios, leves e quentes tocando seu braço.

Parece que dentro do seu ser uma fogueira está prestes a deixar expelir suas labaredas pela força do prazer que sente àquele toque.

E continua a soluçar, com o rosto entre as mãos.

Ela sente a respiração dele junto ao seu ouvido. E percebe aquele perfume que recende de dentro da camisa entreaberta dele. Sabe que ele exala aquele mesmo odor excitante que a faz sentir-se entregue às delícias de sua carne vibrante e quente.

E ela, navegando nas ondas prazerosas da emoção do momento, só tem forças para responder, num murmúrio:

Ele toca levemente os lábios carnudos e sensuais na pele alva dela, atrás de sua orelha, sussurrando, ainda:

E as carícias continuam, sutilmente. Enlevantes. Emocionantes. Quentes. Excitantes.

O caminho das lágrimas descendo em seu rosto agora está sendo trilhado pelos lábios voluptuosos dele, enquanto com mãos tateantes mas desejosas, acaricia os seus longos cabelos ruivos.

Dana sente que está no fim de sua resistência.

"No fim, tudo dá certo. Se não dá

certo, é porque não está no fim."

Fernando Sabino

wanshipper@yahoo.com.br