ERGUE-SE MAIS A DÚVIDA

"O espírito em dúvida é como

o pêndulo que oscila entre

o verdadeiro e o falso."

Constancio C. Vigil

Capítulo 193

Dana percebe que está cada vez mais entregue à emoção das carícias dele.

"Só Mulder é capaz de me excitar assim. Só ele... mais ninguém...!"

Ele agora passa um braço pelas costas dela, a fim de prende-la pelos ombros, aconchegando-a a seu corpo.

Dana quer, neste momento, livrar-se desse abraço. Quer encerrar essa conversa insana dele, recordando os prazeres que tivera com outra mulher. Ela não quer mais ouvir isso... mas os sentidos não a querem permitir.

Dentro do seu ser ergue-se mais a dúvida.

"Mas o que é isso que está acontecendo comigo? Eu desejo intensamente os carinhos dele e ao mesmo tempo quero evitá-los? O que é isso, afinal? É um sonho? Ele diz que não é Mulder! Mas... mas... oh, meu Deus, essa voz murmurando aos meus ouvidos... a mesma voz que atrai os meus sentidos..."

Súbito, um desejo imperioso de revoltar-se com as palavras enganosas dele, a faz vibrar de raiva. Desprende-se agilmente dos seus braços, aflita.

Ele, surpreso com essa reação, afasta-se dela. Recoloca as mãos sobre o volante.

Ela o olha de soslaio. Nem deseja encará-lo. Pensa não ter forças para tal. Mas nota que ele, segurando o volante com mãos crispadas, dirige para ela o olhar que penetra-lhe a alma, desejoso de desvendar o mais íntimo dos seus pensamentos.

Agora ela o fita, quase temerosa de suas próprias emoções.

Seus olhares cruzam-se. Por segundos que parecem séculos, contemplam-se.

"Deus! É como se eu voltasse ao tempo... naquela ocasião em que estava com ele naquela noite de vigília, há quase dez anos atrás, no carro, esperando aquele assassino.

Em sua mente vêm, em perfeita audição, as palavras que haviam trocado:

"- Se tiver trazido chá gelado aí, pode ser amor." - ele lhe dissera.

"- Cerveja sem álcool, pode ser destino." - retrucara ela, por sua vez.

Dana desaba as costas no encosto do banco.

Ele dá, com o punho fechado, um leve soco sobre o volante. Está irritado.

Ele liga a chave na ignição. Dá o arranque no motor.

Dana volta-se, imediatamente, agoniada, com essas frias e mentirosas palavras.

Ele balança a cabeça, negativamente.

Ele faz um ar de enfado. Suspira, inquieto.

Dana está sentindo pontadas agudas na cabeça. O nervosismo está à flor da pele.

Ele pigarreia. Aperta os lábios. Fita-a.

Os dois permanecem calados.

Ele, olhando para o painel do carro, vendo os mostradores luminosos da quilometragem, da velocidade, da hora, mas os pensamentos fumegando no desejo de continuar a estar com aquela mulher ali, que o atrai grandemente. E há o desejo intenso e quase irresistivel de apertá-la contra si.

Ela, por sua vez, olhos fixos nas mãos inertes que estão em seu regaço, chorosa, atribulada, sentindo-se infeliz.

Ele resolve olhar para ela. A vê tão infeliz, tão sentida, que seu coração contrai-se em amargura e compaixão.

Ele levanta as sobrancelhas.

Dana aperta bem os olhos fechando-os, cheia de ira.

Ele volta-se inteiramente no banco do carro para olhá-la nos olhos.

Agora ela parece estar mais descontraída.

Ela o fita, levantando uma sobrancelha, intrigada.

Agora Dana sente compaixão dele. Um enternecimento toma conta de seu ser, ao vê-lo tão confuso.

"Meu Deus, serão ainda resquícios daquele velho problema que ele sofreu, ao lhe fazerem uma cirurgia no cérebro, tempos atrás? Ou retornará à vida dele algum problema ainda, resultante de sua morte e retorno à vida, naquele tempo?" - pergunta-se, preocupada.

Aconchega-se um pouco a ele.

Ele lhe examina a face. Os olhos. O nariz. A boca.

Sutil e docemente segura-a pelo queixo e aproxima-o de seus lábios. E procura os dela, que se entreabrem e ela se entrega à ternura inicial, que, logo após, traz a voluptuosidade àquele ato de amor.

E Dana entrega-se à essa ternura, em êxtase.

E os lábios sensuais dele exploram dela a intimidade de seus seios.

E retorna a colocar os lábios na boca entreaberta que se lhe oferece e o espera com ânsia.

O desejo aumenta a cada segundo. Separam os lábios.

Ele pára. Segura-a junto a si, para sussurrar-lhe, com tremor.

Ele ouve a cada vez ela chamá-lo assim, por esse nome estranho para ele, mas pouco se lhe dá. Não vai mais prestar atenção nesse detalhe. Ela o fascina. Faz-lhe lembrar os tempos em que estava com a sua excitante Gillian, que lhe havia naquela época lhe causado tantas emoções e desejos.

Ele agora prende Dana em seu peito. Impede-a de deixa-la olhar para seu semblante. Murmura com suavidade.

"O presente é a soma total

do que tivemos no passado."

Carlyle

 

Nota: Presto uma homenagem às amigas Ana Lucia, Therezinha e Helena, que solicitaram o prolongamento da narrativa iniciada no Capítulo 191 - Sofrendo, a qual seria concluida neste Cap. 193, mas vai continuar por mais alguns extras. Espero que gostem.

wanshipper@yahoo.com.br