PURO LUXO

" O luxo deslumbra os parvos e

não produz um só prazer verdadeiro."

Madame de Genlis

Capítulo 193A

Ele apenas balbucia, mais preocupado em recomeçar suas carícias.

Ela agora afasta o rosto do peito dele.

Ele leva a mão à cabeça.

Ela o abraça, carinhosa.

Dana permanece alguns minutos ali, encostada a ele, a face bem encostada em seu peito perfumado, meditando.

"Sim! É claro que é o meu Mulder! Eu poderia, no momento em que me beijou, saber se o gosto era dele ou não. E é claro que é o meu amor!"

Ele, agindo rapidamente, afasta-a de si e põe o carro em movimento.

Ele sorri.

A tarde fresca e clara é um convite a momentos agradáveis.

Enquanto ele dirige, ela recosta a cabeça no encosto do banco; fecha os olhos. Acha deliciosa a brisa suave acarinhar-lhe o rosto, revolvendo-lhe os cabelos ruivos.

Ele olha-a a seu lado.

Linda. Pele alva. Terna como a brisa que lhe toca o rosto. E entrega-se ele, também, aos pensamentos.

"Não sei porque estou tão fascinado por ela... aliás, sei sim. Ela tem os mesmos olhos lindíssimos da Gillian, a mesma boca, o mesmo corpo pequeno e excitante, as mesmas pernas... ela encheu-me de desejo e fez-me lembrar aquela grande paixão, interrompida pelo destino, talvez."

A ultrapassagem inesperada de um veículo à sua direita, chama-lhe a atenção, fazendo-o voltar à realidade.

Por vários minutos prossegue dirigindo num certo ponto da cidade; contorna uma grande praça, estacionando, em seguida, diante de um hotel.

O porteiro uniformizado, logo vai solicitamente, atendê-los à saída do carro.

Dana ao entrar no saguão, fica deslumbrada, com a elegante decoração do recinto.

Candelabros de cristal pendem do teto, belíssimas poltronas espalhadas pelo amplo salão, que é circundado por pilastras de mármore.

Em várias mesinhas de canto abajures de alabastro as decoram.

Ele aproxima-se da recepção. Conversa por alguns minutos .

Dana observa que o recepcionista do hotel o está atendendo com gentileza e amabilidade fora do normal e as pessoas ali à volta, olham, com certa curiosidade, para o casa recém-chegado.

No semblante dessas pessoas há demonstração de que conhecem o acompanhante dela. Isso a faz sentir-se novamente preocupada.

"Por que ele parece ser conhecido neste lugar tão refinado? Será que já esteve aqui... e com... alguém? A negócios não teria sido, porque me teria contado sem problemas. Mas... será que o teria mesmo? E se veio aqui em companhia de uma mulher... então é que não teria me falado; é óbvio. Mas... ele seria capaz disso? E eu? Estou me deixando enganar assim, tão pacificamente?"

Dana está segurando as sacolas onde havia colocado os pacotes de suas compras realizadas nesse dia.

Ele retorna até ela, sorridente.

Ela nada reclama.

Esperam o elevador, que os deixa na entrada de uma suite extraordinariamente luxuosa.

Ela reluta em acertar tal explicação..

Ela coloca as sacolas sobre uma mesa. Três embrulhos deslizam pela beira do móvel e vão ao chão.

Como Dana nem havia notado isso, ele corre a apanhar os pacotes.

Sua visão é chamada a atenção para o conteúdo de um deles:

SUNFLOWER SEEDS

Ele o pega, joga-o discretamente duas vezes para o alto, brincando de fazê-lo cair na palma de sua mão.

Dana pára o que está fazendo, a fim de fitá-lo, com ar severo. Já vai abrir a boca e lançar-lhe uma boa censura, mas resolve engolir as palavras. Cruza os braços. Respira fundo. Controlada.

Ele faz um gesto animado.

Agora ele a abraça.

Dana está pasma com as palavras dele: dá a parecer que no entender dele, devem comemorar esse encontro. Mas... por quê?

Na realidade, ela já havia notado nessas últimas horas em que estão juntos, que o corpo, a voz, o olhar, o cheiro, seu caminhar, seu modo de sentar, falar, tudo é de Mulder, mas ele está dizendo coisas diferentes do seu modo de ser, que às vezes lhe dão a sensação de que Mulder mantém-se o máximo afastado dela; não há aquela intimidade especial, normal existente entre ambos. Parece ser somente uma excitação da carne, não do coração.

Agora ele a está agarrando com mais força. Faz com que ela volte-se totalmente para ele. Fita-a, como que examinando uma peça rara.

Dana afasta o corpo um pouco do dele.

Ele apenas ri e a acaricia, deslizando os dedos pelas laterais de seu corpo, desenhando os contornos de sua figura esbelta.

Começa a beijá-la em todo o rosto, avidamente; procura-lhe a boca, vorazmente.

E ela corresponde, com todo o seu amor de mulher apaixonada.

"Quanto mais se agrada, geralmente

menos profundamente se agrada."

Stendhal