MARIDO?!

"A mulher é para seu marido o

que o marido fez dela mesmo."

Honoré de Balzac

Capítulo 193-B

Sob os lençóis finíssimos, Dana, que havia mantido os olhos fechados, os abre agora. Está esplendorosamente feliz. Sente alegria por sua vida, por seu filho, pelo pai de seu filho, por sua mãe, por existir...

Reflete, por momentos, vendo todo o luxo ao seu redor naquele quarto de mobiliário e decoração sofisticados.

"Eu bem preferia estar no meu modesto lar, na minha confortável cama."- pensa.

Revolve-se na cama e olha bem quieto ao seu lado o seu amor.

Não sabe bem o porquê, mas hoje nota algo diferente no seu modo de deitar, aconchegar-se ao leito. Talvez, imagina ela, a excitação demais o tenha feito agir de modo incomum.

Ela faz deslizar os dedos docemente sobre os cabelos castanhos dele.

Ele a olha como a uma estranha.

Ele a está olhando perplexo, curioso, surpreso, com sua sabedoria no assunto.

Ela levanta-se um pouco abatida.

Ele continua fitando-a, mas agora, ardentemente, com seu olhar esquadrinhador.

Ele acha este gesto sensual, o que o faz atirar-se sobre ela, cobrindo-a de voluptuosos beijos.

Suga com ardor seu lábios, a pele do corpo, os seios tremulantes.

E ela entrega-se a ele, total e completamente, desvairada de amor e deslumbramento.

E seus corpos deleitam-se na sensualidade e no prazer de sua tórrida paixão.

* * *

Os dois arfantes e esgotados, deixam-se ficar jogados sobre os lençóis. Olhos fechados. Corações pulsando forte.

Dana estende a mão, procurando o peito dele, como o faz sempre. Logo em seguida, deixa a cabeça repousar ali naquela pele quente.

Está cansada e havia sido uma tarde de amor das mais fascinantes de sua vida com Mulder.

Sente, no entanto, no mesmo instante, que as mãos dele, gentilmente, retiram sua cabeça do lugar onde está e que ela acha sempre tão docemente confortável ficar, após extenuados por fazer amor.

Uma sineta de alerta toca, retinida, no cérebro de Dana.

"Como assim?! - pensa ela - Mulder jamais faria isso! Pelo contrário, ele me impediria, se eu quisesse retirar minha cabeça do peito dele! Ele faz questão que eu fique assim, quando fazemos amor! Ou mesmo em momentos em que desejamos ficar mais aconchegados um ao outro. Que estranho!"

Ela senta-se na cama. Está um pouco nervosa, agora.

"O que está acontecendo com ele? O que é isso, afinal?"

Ele já está deitado de lado, virado para o lado oposto, de costas para ela.

"Satisfez o seu corpo, aliviou o seu instinto sexual, agora só quer descansar... de preferência distante do meu contato. - ela começa a remoer esses pensamentos, que a estão aniquilando - E tem mais... não sei se por causa do ambiente assim excitante, ele não deixou-se levar primeiro por um prelúdio amoroso... querendo ir direto ao ato sexual. Eu.. eu não sei o que está se passando na minha cabeça... será que sou eu que estou mudando, exigindo demais dele?"

Dana nota que ele adormecera, verdadeiramente.

"Que coisa! Ele nunca fez isso comigo!"

Levanta-se.

Aquele luxo todo ao seu redor a incomoda. Vai até o banheiro. Entra no confortável box. Abre o chuveiro e deixa que a água tépida caia sobre sua pele.

"Ele disse que está calor... que calor, que nada! Está frio! Não queria é me sentir mais junto dele após... - quer parar de pensar; aperta as mãos sobre a boca, pensativa, enquanto a água derrama-se sobre seu corpo - Ele está diferente comigo; eu sinto isso... eu sinto isso...!"

Encerra o banho. Enxuga-se. Veste sua roupa simples, com a qual ali chegara.

"Quero ir embora! Quer ir pra casa! - lamuria-se, intimamente - Não estou gostando nada deste lugar!"

Sai do banheiro.

No amplo quarto, onde outro recinto está ligado, existem outros confortáveis móveis.

Dana vê certos objetos que ele deixara sobre a mesa.

Neste mesmo momento, uma musiquinha suave inunda o ambiente.

Ela volteia o olhar para saber de onde vem aquele som.

Pega o aparelho. Examina-o primeiro. Nada de anormal.

"Pode ser mamãe ligando pra nós." - imagina ela e o liga.

Vê o número do telefone que está chamando. Estranho. Não o conhece. Mas resolve atender.

No momento seguinte o telefone recomeça sua chamada musical.

Dana imediatamente desliga a tecla para bloquear uma nova chamada.

"Téa?! Téa?! O que essa mulher quer? Bem, naturalmente que é um engano, pois ela queria falar com o marido... marido?! Que coisa! Hoje tudo de estranho está acontecendo comigo!"

Repentinamente, vem à mente de Dana uma idéia singular.

"Interessante! Agora é que eu notei! A chamada do celular está diferente! Nunca Mulder usou esse tipo que chama por música! Será que ele trocou o aparelho?"

Ela retorna ao outro quarto.

Ele está sentado na beira da cama, voltado para a janela. Ao ouvir o ruído de Dana chegando, vira-se para olhá-la.

Ela senta-se na beira oposta da cama.

Ele a examina. Nota que está arrumada.

Ele levanta para olhar lá fora. Chega à janela.

Em seguida dirige-se ao banheiro.

Enquanto ela fica escutando a água cair dentro do box, pois a porta do banheiro está aberta, remexe em sua bolsa.

Penteia os cabelos. Passa o batom nos lábios, olhando-se num espelho da parede decorada.

Logo ele sai do banheiro.

Dana o olha, sem acreditar em como ele está presunçoso. Incrível vê-lo falar assim.

Ele dirige-se agora para uma jarra que contém belíssimas flores, colocada sobre uma mesa baixa. Retira uma delas Examina-lhe bem o talo, deslizando os dedos sobre ele, pois escolhera uma rosa.

Ela ri com o gesto dele.

Ele aproxima-se dela, sem falar. Coloca a rosa no decote em V da blusa em que ela está vestida. Abre um dos botões e prende o talo ali, na pequena casa feita no tecido.

Com este gesto terno dele, ela sente em seu ser renovada toda a afinidade que existe entre eles dois. Faz questão de esquecer os maus pensamentos de instantes atrás. Entre os dois há uma química e uma sintonia que dificilmente serão quebrados por qualquer tolice que possa acontecer. É um perfeito casamento. Talvez melhor do que os que estão selados sob a seriedade dos documentos dos cartórios.

"O casamento é por vezes um cabresto

que prende o homem e a mulher ao pesar."

E. Blasco

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