DISTRAÇÃO OU DISSIMULAÇÃO?

"Quem não sabe dissimular,

não sabe reinar."

Luiz XI, Rei de França

Capítulo 193-C

A temperatura fora está agradável. O anoitecer mostra o por-do-sol avermelhando o horizonte. O céu lindamente azul, com esparsas e alvas nuvens, parece demonstrar uma inteira paz e fazer ver às criaturas humanas que só um Ser Poderoso e Divino é capaz de construir toda essa beleza na natureza.

O casal caminha.

Dana nota um fato que a deixa um pouco triste. Ele não está de mãos dadas com ela, conforme deveria acontecer, como é de seu hábito.

Ela concorda.

Dana ouve essas palavras com desagrado. Acha-as tão disparatadas, tão estranhas, que, novamente a dúvida reina em seu coração.

"Mas ele está muito doente, meu Deus! Está me dizendo coisas, como se fossem palavras de despedida, como se nunca mais nos pudéssemos ver... como se... ah, não, Dana! Pára com isso! - recrimina-se, interiormente - Por que toda essa confusão de idéias? De repente pode ser até você que está doente!"

Ele pára de caminhar e a faz sentar num banco de pedra, apreciando os pássaros, pequenos animais e aves que andam, livremente pelo chão.

Ela apenas concorda, num meneio com a cabeça. Sente-se aturdida. Só não compreende o porquê disso tudo.

Ele passa o braço ao redor de seus ombros, aconchegando-a para si.

"Como posso duvidar do que está se passando com ele? Eu sei que Mulder não está bem e preciso ajudá-lo. - pensa - Agora, neste momento, ele está usando comigo esse gesto bem típico dele. O seu carinho suave, a sua atenção e ternura por mim..."

Mais uma vez nos ouvidos de Dana o som musical que sai do celular que está no bolso dele soa e que ele deixa tocar por uns segundos.

Dana aperta os lábios, pensando.

"Quanta distração... ou dissimulação?"

Porém, antes dele afastar-se, ela pode perceber que uma voz feminina é que está chamando no fone.

Dana franze o cenho. Permanece quieta no seu lugar. Olha-o de soslaio, atendendo o telefone de costas para ela, falando em tom muito baixo. E rapidamente ele desliga.

Ele puxa-a para levantar-se e acompanhá-lo.

Ele pigarreia. Imagina-se em sua mente, um ex-detento, um malfeitor, alguém que deve algo à Justiça. Isso o incomodo. Mas precisa saber mais.

Ele faz um bico com os lábios; gesto que Dana está acostumada a vê-lo fazer quando está pensando em algo.

Dana continua estática, observando-o, atentamente.

Num repente, ele joga as mãos para o ar.

Ela o fita, admirada com essa reação.

Enquanto tira o dinheiro da carteira, tendo puxado junto um lenço e o celular, deixa-os no assento do banco. Encaminha-se para a direção de um bar bem próximo dali.

Dana observa-o caminhar.

"Não sei, realmente, o que o Mulder está sentindo. Ele não está bem. Tenho que convencê-lo a procurar ajuda com um neurologista."

Causando-lhe um pequeno susto, a música do telefone começa a tocar. Dana coloca a mão sobre o aparelho. Não sabe ao certo se deve atende-lo. Mas decide faze-lo. Mal aperta a tecla para o atendimento e logo uma voz masculina, esbravejante soa:

Dana desliga o aparelho. Nota o mesmo número estranho que está novamente no mostrador digital do telefone. Um medo repentino surge em sua mente.

"O homem falou "David". Foi esse nome que vi naquela falsa identidade do Mulder! Meu Deus! O que é que está acontecendo?!

Ele já vem retornando com os dois copos com as bebidas. Retira a tampa de um deles e o entrega a ela.

Dana percebe que um tremor atrapalha-lhe as mãos. Não sente vontade de beber o líquido gelado.

Ele a olha de baixo para cima, com os lábios segurando o copo, os cotovelos apoiados nos joelhos.

Ele mantém-se na mesma posição.

Ele a abraça, sorridente.

Ele solta um assobio, surpreso.

Dana levanta-se, incomodada ao extremo.

Ele continua bebendo, calmamente, o seu suco.

Dana vai abrir a boca e protestar que isso é mentira, que ele está sendo hipócrita, mas contém-se e engole as palavras que estão querendo lhe sair garganta afora.

"A mentira engana

só a quem a diz."

D' houdetot