Madrugada, ainda.
Mulder havia saído do quarto, carregando uma das malas que nele estava. Abre-a, coloca mais objetos ali. Por sorte, sua amada Dana, sempre precavida, guardara todos os seus menores pertences desde o seu desaparecimento, quando fôra abduzido pelos alienígenas.
Ali estão os seus mais importantes pertences, dos quais nunca se teria separado, caso fosse possível.
Ele vasculha-os no fundo da maleta, até que seus dedos encontram algo protegido por uma estojo de couro fino, com ziper.
Mulder abre-o para ver de que se trata. Seus olhos verdes espantam-se ao ver aquilo. Há muito tempo atrás, o pegara em casa de sua mãe, escondido dentro de um abajur.
"A arma alienígena!" - fala, consigo mesmo.
A espécie de estilete embutido dentro do tubo metálico.
Mulder aperta o botão e...
ZIP!!
O longo e fino estilete é lançado para fora.
"Ótimo! - pensa - E eu achava já não mais conseguir ter isso em minha mão!"
Guarda-o no bolso de seu casaco, pendurado em uma cadeira.
"Pode ainda servir para uma emergência."- pensa, novamente, satisfeito.
Ajeita tudo na maleta, arrumando-a. Fecha-a, em seguida.
Dirige-se para o quarto. Deita-se, vagarosamente, para não acordar Dana.
PARTE 12
No avião, já sobrevoando a cidade, Mulder não se cansa de observar a beleza que se descortina à sua vista.
Dana, de olhos fechados, com seu filho no colo, deixa-se relaxar por essa viagem tão sossegada.
A criança, vendo que a mãe mantém os olhos fechados, tenta abri-los com as pontas dos dedinhos e diverte-se por não conseguir seu intento.
Em dado momento passa para o colo do pai, que o ampara com os braços. Pula em seu colo, arteiro.
Agora Dana cruza os braços e repousa mais. Não entende bem o porquê, mas sente que um cansaço fora do normal e um sono acentuado tomam conta de seu corpo. Talvez o estresse causado por turbulentos pensamentos estejam causando esses sintomas.
Mulder passa a curtir a incessante energia e inquietação de seu filho.
Maggie conversa, calmamente, com Monica, que está lhe fazendo companhia, na poltrona do avião.
Doggett lê um jornal, mas de vez em quando passa a vista pelas figuras dos passageiros dentro da aeronave.
Em poucos momentos, a tripulação do avião avisa que todos preparem-se para a aterrissagem.
PARTE 13
O hotel, não de alto luxo, mas bastante confortável, recebe os seis novos hóspedes com muita presteza por parte dos seus funcionários.
- Mulder...? - chama-o, baixinho.
- O quê, Scully?
- Ahn... Doggett e Monica... quero dizer... estão ocupando um só apartamento?
- Maliciosa, hein, Scully? - ele sorri - Não... estão em apartamentos separados.
- Aah...!
- Achou que eles...?
- Não... bem... achei que há algum tempo atrás eles estavam se entendendo... sabe o que eu quero dizer.
Mulder dá uma risada.
- Deixa pra lá. Eles sabem da vida deles.
- Naturalmente. - ela concorda.
- O que você está achando daqui?
- Estou gostando, sim. Nesta terra há bastante diferença de costumes.
- Exato.
- Quando tempo você prevê que ficaremos neste hotel?
- Eu não sei, Scully. Vamos torcer para que tudo dê certo e possamos ficar seguros neste lugar.
Dana medita, por instantes.
- Mulder... pensei tanto que tínhamos nos livrado de perseguições...!
Ele a abraça, comovido.
Ambos torcem, intimamente, para que suas vidas, de seu filho e Maggie se livrem o mais breve possível dos terríveis inimigos.
Dana aperta-se contra Mulder. Há um sentimento muito grande de medo. Quase insuportável.
- Scully... você está tremendo...!
- Estou muito nervosa, Mulder!
Ele toma-lhe o rosto entre as mãos.
- Não fique assim! Ninguém se lembraria de procurar-nos aqui... então por que...?
Permanecem calados, abraçados.
Seus pensamentos evocam fatos do passado e antecipam o que virá à frente.
PARTE 14
No salão de refeições, um burburinho se faz ouvir.
Mulder entra na frente, com Doggett.
Dana, Monica e Maggie entram em seguida deles.
William, seguro pela mão da avó, observa tudo com os olhinhos cheios de curiosidade.
As duas mesas nas quais os seis sentam-se para fazer suas refeições estão próximas a de dois homens idosos, que sorriem, vendo o rostinho alegre de William.
O menino, sentadinho, quieto e compenetrado, tenta segurar a colher na melhor maneira que conhece.
Logo, no entanto, desiste de toda aquela atitude adulta e quer descer do colo de Maggie para ir até a mesa vizinha.
- Você é um encanto! - diz um dos senhores, embora os pais do menino nada entendam.
Um deles segura a criança e a coloca sobre suas pernas.
William dirige a eles o seu melhor sorriso.
Maggie e Dana mostram-se apreensivas. Tudo pode acontecer, principalmente numa terra desconhecida.
Dana levanta-se e dirige-se à mesa vizinha, para pegar seu filho de volta.
- He's a nice child! - fala, com certa dificuldade, um dos senhores.
Dana agradece.
- Are you american? - ele pergunta.
Ela responde afirmativamente ao simpático idoso.
Este levanta-se. Vai até a mesa onde está Mulder.
- Wellcome to our city! - diz, estendendo a mão, num modo gentil.
Mulder agradece com um sorriso e um meneio de cabeça.
Dana volta para sua mesa com o filho.
O homem retorna também, à sua mesa, com um aceno de simpatia.
O jantar transcorre normalmente.
As três mulheres levantam-se para saírem do salão-restaurante.
- Mulder... - começa Doggett - ... acredito que possamos descartar qualquer tipo de problema neste lugar.
- Acha? - ele passa os dedos acima dos lábios - Deve-se esperar tudo de qualquer lugar, Doggett.
- Eu compreendo; mas veja só, nesta terra de costumes diferentes, não haverá possibilidades para...
Não termina sua frase.
Um rapaz que havia se aproximado da mesa vizinha e estava conversando com os dois senhores idosos, chega até Doggett, falando em seu idioma.
- Senhor, eu falo sua língua e meu avô gostaria de conversar com os senhores e como não sabe muito bem expressar-se em seu idioma, pediu-me vir lhe falar que está à sua disposição para saber sobre nossa cidade.
- Ok. Obrigado. - responde Doggett.
- Peça que venham para nossa mesa. - fala Mulder, por sua vez.
O rapaz traduz as palavras para o avô e seu amigo.
Os dois senhores encaminham-se para a mesa de Doggett e Mulder. Fazem as devidas apresentações.
- Vieram a passeio? - pergunta o avô do rapaz e espera que ele faça a devida tradução.
- Sim. - responde Mulder - E queremos conhecer boa parte desta cidade.
O rapaz fala a frase para os dois senhores, em seguida.
Conversam amigavelmente, por diversos minutos.
- Eu lhes sugiro irem até a Chapada dos Guimarães. - diz o rapaz brasileiro.
- É um lugar especial! - confirma o seu avô, que espera o neto explicar aos visitantes sua frase.
- Por que especial? - quer saber Doggett.
- Sim! - responde o rapaz - Lá existem belas pousadas, além de coisas curiosas, como o misticismo que cerca aquele lugar.
Mulder franze a testa. Está atento.
- É mesmo?
- Aprendi isso com meu avô. - explica o rapaz, sorrindo - E há pouco tempo, coisas estranhas aconteceram por lá.
- Conte-nos, então. - pede Doggett.
- Assim como os pescadores contam suas bravatas, assim também os aviadores têm suas estórias bizarras para narrar... àqueles que nelas acreditam. - quem fala isso é o avô do rapaz.
E este traduz o comentário do avô.
- Conta, meu neto! - diz o avô, interessado em por nos ouvidos dos visitantes a história da cidade.
- Bem, senhores, a verdade é que contou um piloto que, certa vez, viu luzes estranhas sobre o Pantanal.
Os olhos de Mulder brilham de curiosidade.
- Prossiga. - pede ele ao rapaz.
- É como eu disse. Muitas lendas se contam da Chapada dos Guimarães. Lá tem cavernas onde o turista pode usufruir de um maravilhoso passeio, que só a natureza pode proporcionar. Em algumas delas existem inscrições rupestres, parietais, primitivas, mostrando animais de épocas remotas.
- Verdade? - indaga Doggett.
- E segundo as pesquisas científicas, esses desenhos foram feitos com sangue, mel, claras de ovos e resina vegetal e datam de seis mil anos antes de Cristo.
Mulder estica-se na cadeira, como que demonstrando desejo de conhecer imediatamente o famoso local.
- Como se vai para esse lugar? - pergunta ele.
- Como se vai? - o rapaz repete a pergunta e volta-se para o avô, o qual aguarda o que ele lhe quer falar - Você sabe, meu avô, como ir pra lá? - faz a pergunta em português, esperando o avô responder .
E este o faz, no mesmo instante.
- Ah, senhores, é o seguinte: na Chapada dos Guimarães não há aeroporto. Só possui uma pista de pouso, numa fazenda. Pode se ir de carro ou helicóptero.
- Muito interessante...! - comenta Mulder, mostrando desejo de fazer a viagem.
- Bem, senhores, - diz o rapaz, levantando-se - aproveitem bastante sua estada aqui, ok?
- Sem dúvida! - fala Mulder.
Despedem-se todos.
Os dois senhores e o rapaz retiram-se.
Mulder está pensativo.
- Já até sei o que está imaginando. - Doggett comenta, com um leve sorriso.
- E você acha que eu perderia uma chance dessas?
- Mas Mulder...
- O quê?
- E Dana, seu filho, sua sogra?
- Eu levo todo mundo! - dá um suspiro e levanta-se - Agora tem que ser assim. Não é mais somente eu e Scully.
- Por isso todo cuidado é pouco.
- Com certeza!
Doggett balança um pouco a cabeça, preocupado. Mas conhece muito bem a persistência do seu ex-colega e amigo.
PARTE 15
Dana, esticada na cama, com William atravessando por cima de seu corpo para lá e para cá, incessantemente, vê Mulder entrar.
Ele joga para o lado os sapatos, as meias. Arranca, num ímpeto, a camisa.
- Scully! - chama, com voz entusiasmada - Temos um grande programa a fazer!
- É mesmo? - ela dá uma risadinha, pois William cai sentado sobre sua barriga.
Mulder chega junto aos dois.
- Vem cá, filhote. - pega a criança nos braços.
- Onde você quer ir?
- A um lugar chamado Chapada dos Guimarães.
- Como é...? - ela senta - Repete aí, Mulder.
- Chapada dos Guimarães.
- Cha... pa... da dos Gui... gui... ma... raes. - ela tenta repetir - Nossa! Como é difícil!
- É, também acho. - diz ele, jogando William para o alto e aparando-o em seus braços.
- Por que você quer ir lá?
- Por quê? Ora... me falaram que é um lugar super interessante e pode-se visitar cavernas que têm inscrições datadas de seis mil anos antes de Cristo.
- Você acredita nisso?
- Por que não? Povos antigos estiveram em todas as partes do mundo, Scully!
- Quando você quer ir?
- Amanhã mesmo; pode ser?
- Tudo bem. - ela suspira - Adeus, descanso!
- O que você disse?
- Nada... nada importante. - levanta-se e pega William dos braços do pai - Agora o meu filhinho vai dormir.
- Pe pê. - diz a criança em seu linguajar infantil.
- Onde está a pepê do filhinho? - a mãe pergunta a seu filho, onde está sua chupeta.
William vira as duas mãozinhas com as palmas para cima, demonstrando que não sabe.
- Pepê nenê não! - ele fala.
Mulder abre uma das maletas e dela retira uma caixa plástica fechada, onde estão guardadas as chupetas do filho. Encaminha-se para a mesa, onde tem uma garrafa de água mineral. Leva a chupeta com ela até o lavatório para lavá-la e retorna à mulher e o filho.
Dana nina-o no colo, após dar-lhe a chupeta.
William fita-a, intensamente, demonstrando a adoração por aquela que lhe deu a vida e a segurança e paz que ela lhe transmite com seu contato.
Em minutos as pequenas pálpebras começam a mover-se mais lentamente.
- O sono está chegando, Scully. - diz Mulder, tomando nos braços o filho já adormecido e carrega-o para junto de Maggie, no aposento contíguo.
PARTE 16
Mulder, agitado, seguido de Dana, Doggett e Monica, caminha apressadamente, em direção do carro que os espera.
Monica, andando junto a Dana, pergunta-lhe sobre Maggie e William.
- Foi bom sua mãe não vir até aqui, não acha, Dana?
- Ela disse que não tem mais estrutura física para tanta aventura.
- Tem toda a razão.
- Mas fico preocupada com eles distante de mim.
- Não fique assim. Nada vai acontecer com eles.
- Se Deus quiser. - diz, concentrada em sua fé.
Neste exato momento, Mulder está cumprimentando um rapaz.
- Você fala inglês?! - pergunta, surpreso.
- Sim! Eu sou um dos guias bilingües aqui.
- Ok. Ótimo!
- Qual é o nosso itinerário? - quer saber Doggett.
- Bem, só temos opção daqui indo de carro ou helicóptero. Não há aeroporto pra chegar na Chapada dos Guimarães.
- Nós já sabemos. - informa Doggett.
O guia turístico continua explicando sobre o lugar para o qual estão eles se dirigindo.
- É uma região muito visitada...
PARTE 17
- Mas que beleza, Mulder! - exclama Dana.
- Esta é a caverna Aroe Jari e Lagoa Azul. - explica o guia de turismo - Ela apresenta inúmeras cachoeiras no seu interior.
- Meu Deus! Que coisa interessante! Só a natureza pode criar coisa tão bela! - comenta Monica.
- A Lagoa Azul é por causa dessa parte aqui? - quer saber Mulder.
- Exatamente, senhor. Esta é uma piscina natural, formada por uma nascente aqui dentro desta caverna.
- A água é azulada e cristalina... e até se reflete nas paredes da gruta! - comenta Mulder, admirado.
PARTE 18
Horas depois, já estão os quatro visitantes de olhar fixo, extasiados com o espetáculo que assistem, produzido pela fabulosa natureza: o Cogumelo de Pedra.
- Fantástico, não, Mulder? - indaga Doggett.
- É verdade. Parece talhado a capricho pela mão do homem. - olha para o lado - Não acha, Scully?
Ela abaixa a cabeça e fecha os olhos, um tanto empalidecida.
- O que houve? - Mulder pergunta.
- Nada... nada... só uma espécie de vertigem...
Ele passa o braço em torno dos seus ombros, cuidadoso.
- Quer retornar à pousada?
- Não. Só quando vocês decidirem.
- Ok, tudo bem, Dana. Eu quero também voltar. - fala Monica.
Doggett suspira, coloca as mãos nos bolsos do casaco.
- Ainda nem sei porque viemos parar neste lugar.
- E não é apenas um passeio? - pergunta Monica.
O agente a fita. Molha os lábios e aperta-os, parecendo preocupado.
Dana está sentada no carro. Leva o máximo a cabeça para trás, no encosto do banco.
Monica, de onde está, a vê e lhe parece que sua amiga não está se sentindo bem. Dirige-se para junto dela. Coloca a cabeça na janela do carro.
- Oi Dana.
- Oi. - responde, sem deixar a posição em que se encontra; leva a mão à testa.
- Está sentindo alguma coisa?
Dana endireita-se no banco; retira a cabeça do encosto.
- Eu...? Não... estou bem... por que pergunta?
- Pensei que estivesse se sentindo mal.
A outra sorri.
- Onde está o Mulder? - pergunta.
- Falando com o guia sobre o itinerário do passeio.
- Ahn... - ela murmura, parecendo desanimada.
- Não me parece que está gostando de ter vindo parar aqui.
- Monica... - pára, um pouco cansada na voz - ... poucas horas longe do meu filho e já sinto falta dele; além do mais, fico pensando até quando teremos que ficar assim, fugindo...
- Calma, Dana.
- Monica, vou fazer uma pergunta e peço-lhe uma resposta.
- Pode falar. - ela sorri.
- Por que vocês dois também vieram para cá? Estão simplesmente aproveitando as férias?
- Bem... é... claro que sim! Eu não perderia por nada deste mundo a chance de vir a este País.
- Sei... - concorda Dana, com semblante incrédulo.
É óbvio que, na sua imaginação, está absolutamente certa de que seus amigos agentes estão em sua companhia para tentar protegê-los ou direcioná-los a algum lugar seguro.
PARTE 19
Mulder, com um braço à volta da cintura de Dana, acaricia-a, retirando-lhe da testa os longos fios de cabelo que teimam em ficar ali, por causa de sua testa molhada de suor.
- Scully, o clima aqui está gostoso e você está suando! Isso tudo é calor?
- Ou emoção por você estar grudado a mim desse jeito.
- Não brinca. Estou achando você um pouco pálida.
- Ah, Mulder, pára com isso! Daqui a pouco vou me sentir doente, realmente!
Ele retira as mãos de sobre os ombros dela.
- Ok, Scully, não se fala mais nisso. E sobre o que eu disse? Está decidida mesmo a ficar aqui na Pousada?
- Sem dúvida. Não estou a fim de correr atrás de caminhos extravagantes.
Ele a fita, atentamente.
- Há alguma coisa, Scully?
- Não, Mulder, não! Quero que você vá e depois me conte sobre o passeio.
Ele a beija, docemente.
Ficam abraçados por vários minutos.
Uma buzina soa, fazendo eco no espaço.
Mulder afasta-se de Dana.
- Tchau; vou para uma região chamada Cruz de Pedra e de lá tenho que prosseguir a pé.
- Doggett também vai?
- Sim. - beija-a novamente nos lábios - Tchau.
- Tchau, Mulder.
Ele sai em seus passos característicos, jogando os pés, apressado.
PARTE 20
O guia de turismo vai narrando com sua experiência sobre o assunto, em palavras firmes e corretas.
- A Chapada dos Guimarães está localizada no centro da América do Sul - no Estado de Mato Grosso. Suas coordenadas geográficas são de 15o 10' - 15o 30' de latitude sul e 55o 40' - 56o 00 de longitude oeste. O município possui cerca de seis mil quilômetros quadrados. Está a oitocentos e sessenta metros acima do nível do mar...