ESTRANHA CURIOSIDADE

"Há sempre um momento em

que a curiosidade é pecado."

Anatole France

Capítulo 202

Mônica está sentada com William em seu colo, que tem nas mãos um controle remoto, com o qual faz um carrinho correr pelo chão.

A agente levanta-se, colocando a criança de pés no chão.

Dana abaixa a cabeça; em seguida fixa o olhar em William, que brinca sentado no chão.

Mônica levanta as sobrancelhas.

A outra a olha, com um meio sorriso.

A agente aproxima-se de Dana. Apoia as mãos nos braços da poltrona para encará-la.

Dana faz um ar engraçado. Coloca uma ponta da língua para um lado da boca, numa atitude característica sua.

Mônica reergue-se, num espanto.

Dana levanta-se. Chega até seu filho e agacha-se para depor um beijo sobre os seus cabelos castanhos.

Ela ergue o olhar para a amiga.

Levanta-se. Suas feições demonstram um pouco de perturbação.

Dana assente.

Mônica tem razão, admite para consigo mesma. Por que deixar-se levar pelos sentimentos de infortúnio? Nada disso! Tem que erguer a cabeça e crer em Deus, como também diz-lhe sua mãe.

* * *

A lua cheia despejando seus tênues e prateados raios sobre as ondas do escuro mar, ilumina gostosamente, com sua luz suave, o cenário a seus pés.

O imenso transatlântico é como um barco singrando as águas, mansamente, levando em seu bojo centenas de passageiros que podem desfrutar da beleza da viagem.

Mulder e Dana sentados em cadeiras espreguiçadeiras no convés de um dos andares do navio, de mãos dadas, apreciam o belo panorama que se descortina diante de seus olhos.

Neste exato momento, uma mulher senta-se numa das cadeiras que estão ao lado de Mulder e cumprimenta o casal, sorridente.

Mulder, sem jeito, percebe o jogo de olhares da recém-chegada. Responde, recostando-se na cadeira, cruzando as mãos sob a cabeça.

A mulher dá uma risada facilmente identificada como provocante.

Dana, que se mantivera calada até então, chega o corpo para frente, de modo poder dar uma olhada geral na mulher tão falante. Nota na criatura recém chegada uma estranha curiosidade em seu olhar especulador. Observa-a; levanta as sobrancelhas; aperta, discretamente os lábios.

A mulher desconhecida nota o olhar da outra em sua direção. Então, por sua vez, recosta-se no espaldar da cadeira. Mantém-se em silêncio, olhando o mar.

Mulder toma a mão de Dana. Aperta-a, com doçura.

Ela meneia a cabeça, afirmando.

Com essas palavras ela coloca a mão sobre o pulso de Mulder, pressionando-o um pouco.

Ele faz um cumprimento mudo e afasta-se.

Dana, pára por alguns segundos, a fim de olhar a passageira conversadora e de atitudes estranhas, até um tanto ousadas. Segue Mulder.

Caminham pelo imenso convés, de mãos dadas.

Antes de afastarem-se completamente do local onde haviam estado, Dana volta para trás a cabeça, a fim de dar uma última olhada na mulher que estivera junto deles. Não sabe o porquê, vem à sua mente uma lembrança das feições de alguém que já conhecera há algum tempo atrás.

Mulder caminha em seus largos passos, de cenho franzido, pensativo.

Passageiros vão e vêm, passeando pelo longo e largo convés.

Os cumprimentos são usados por todos ao se encontrarem, como se membros de uma só grande família.

O ritmo cadente de uma música soa lindamente, vindo do interior da imensa e luxuosa embarcação.

"A música é a voz do infinito"

Campoamor