SORRINDO ENIGMATICAMENTE

"O sorriso é um trejeito vaidoso que

intenta escarnecer a censura do

mundo ou rebater a comiseração."

Camilo Castelo Branco

Capítulo 205

William corre, em seus passos ainda incertos, de um lado para outro, no longo corredor; ri, divertido, com suas próprias traquinagens.

Maggie tenta segurá-lo sem o conseguir, no entanto.

Um casal que está passando no momento, ajuda-a a travar a correria do menino.

Conversam os três por alguns instantes.

Maggie afasta-se com seu neto. Antes dirige-se ao camarote de sua filha. Bate à porta, que é aberta em seguida.

Dana sorri e segura seu filho nos braços, beijando-o, com carinho.

Maggie olha para a filha.

Dana beija sua mãe e seu filho.

Maggie e seu neto vão para o camarote ao lado. Na mente de Maggie os pensamentos estão agitados.

"Parece-me ter visto os lindos olhos de minha filha avermelhados, com ar de quem havia chorado... mas... deve ser impressão minha..."

* * *

Dana fecha a porta atrás de si. Passa a mão pelos cabelos, levando-os para trás, tentando impedi-los de lhe cairem à testa.

Uma tristeza infinda está dentro do seu coração. Não sabe o porquê, mas percebe o homem que tanto ama um pouco distante, arredio, evitando-a mesmo.

"Será que é mera impressão minha? Será que eu, que estou nesse estado onde a sensibilidade aflora aos nossos instintos, mudei meu humor e o vejo como sendo o culpado desse esfriamento?" - pensa, preocupada.

Mulder sai do banho nesse momento. Senta-se numa poltrona para colocar as meias e os sapatos.

Ela arregala os olhos, surpresa.

Ele levanta-se. Coloca as mãos nos bolsos.

Os olhos azuis de Dana já estão repletos de lágrimas.

Ele a fita, friamente. Aperta os lábios. Com passos decididos, sai do camarote.

Dana fica estática. As lágrimas dançam dentro de seus olhos. Quer entender o que está se passando. Mas não consegue.

* * *

O vento frio, cortante, bate no rosto de Mulder, enregelando-lhe a pele. Está sentindo-se terrivelmente mal por estar ali, no convés. No seu interior o desejo mesmo é, neste exato momento, estar abrigado no aconchego do camarote, lá dentro. Mas há uma luta dentro dele. Se uma parte de seu ser quer estar lá dentro,

junto de sua Scully, num lugar mais ameno, outra parte exige dele estar exposto a esse frio desconfortável, pelo simples prazer de...

"... de quê??" - pergunta-se a si mesmo.

Mulder olha para lado e vê Maureen.

Ela logo segura-lhe a mão, apertando-a com força.

Ele fita-a. Sente que seus olhos estão atraidos pelos da mulher diante de si.

Ela pende a cabeça para um lado e para outro, num trejeito matreiro, parecendo estar analisando as feições embaraçadas do ex-agente, sorrindo enigmaticamente. Aproxima-se mais dele.

Mulder vê que a mulher o está atraindo com toda a sua sensualidade. Nota, nesse momento, que o decote da blusa que ela usa é bem profundo, deixando mostrar grande parte do seu busto.

Ela o segura pela mão, encaminhando-o através do longo convés, pela parte mais escura.

Dentro de minutos chegam junto a uma entrada.

A mulher sorri, estranhamente, enquanto gira a chave na fechadura. Abre a porta. Entra.

Mulder estaca, indeciso no que vai fazer.

* * *

Dana sente o coração apertado. Uma grande angústia a está castigando severamente. Não consegue captar o que está acontecendo com o seu amado. Em todos esses dias ele tem agido bem estranhamente. E nessas últimas horas fê-la sentir um choque no coração, achando que ele já não a ama com a intensidade de antes.

Ela senta-se numa poltrona. O olhar vago, perdido no espaço. Fecha os olhos em seguida, apertando os lábios querendo não deixar sair o pranto.

"Scully, você não é obrigada a suportar a minha companhia, assim como eu também não sou..."

As duras palavras que haviam lhe ferido os ouvidos, dilaceraram-lhe o sofrido coração. E ela, então, quietamente, deixa agora que as lágrimas escorram lentamente, deslizando em suas faces.

Suas mãos cruzadas sobre o regaço aparam as gotas quentes que saem de seus olhos.

Repentinamente, uma idéia surge-lhe à mente. E se, de alguma forma, algo aconteceu que ocasionou o desgaste de seu relacionamento com Mulder?

"E ele havia há dias atrás me falado em casamento...! - pensa, estarrecida - Mas o que veio quebrar esse clima de amor, companheirismo, compreensão, que sempre houve entre nós? O quê ou... quem? Seria possível haver envolvimento de alguma mulher entre nós?"

 

"Há três coisas que uma mulher faz do quase

nada: uma salada, um chapéu e uma briga."

John Barrymore

.