POR QUE ESSA MALDADE?

"Toda maldade procede da fraqueza."

J. J. Rousseau

Capítulo 208

William, contente por ver a mãe deitada junto a ele, ri e pula a todo instante.

Dana segura o filho, com firmeza.

Segura-o no colo e começa a niná-lo.

Por longos minutos, enquanto Dana faz adormecer seu filho, Maggie fica a observá-la.

"Meu Deus, como foi acontecer uma coisa dessas entre esses dois que tanto se amaram? E o Fox, que parecia ser tão sincero com milha filha...? Fico pensando agora... fico pensando em quanto o meu filho Bill era e continua sendo contra esse relacionamento... ah, meu Deus, será que ele estava certo?"

Maggie levanta-se de onde se encontra para derramar suas lágrimas longe e a filha não possa ser testemunha de sua tristeza.

Dana vê que o filho adormece. Coloca-o, com carinho, na cama, ajeitando-o, confortavelmente.

Maggie retorna.

Maggie vai para o outro aposento.

Dana senta-se no sofá.

Os olhos, volta e meia, conferem a hora.

* * *

Uma hora da manhã. Ela ainda não havia pregado olho. Insônia total.

Viu passarem-se todas as horas da madrugada, até o raiar do dia. Com raiva, retirando para o chão os pés que haviam estado dobrados sob seu corpo, ela lembra que muitos dos seus pertences de maior necessidade estão no outro camarote, onde Mulder se encontra.

Confere que sua mãe e seu filho estão dormindo ainda e, pé ante pé, deixa o camarote.

Ao penetrar no camarote onde Mulder está, logo na entrada nada percebe, porém mais no interior do recinto contíguo, vê Mulder jogado de bruços na cama, com as mãos agarradas à cabeça. Ela fica impressionada.

Ele levanta a cabeça para olhá-la. Seu semblante está visivelmente abatido. A barba por fazer. Os olhos fundos. Olheiras arroxeadas.

Dana levanta as sobrancelhas, espantada. Realmente Mulder está, verdadeiramente cheio dela. Já nem tolera mais a sua presença. Mas ela não se conforma. Como em apenas algumas palavras ele havia jogado por terra todo um amor construído com muito respeito, companheirismo, amizade e dedicação? Como isso acontecera? Ela nenhum motivo lhe dera para que ele deixasse de amá-la e procurasse refúgio nos braços de uma desconhecida. E tudo assim, tão de repente?

Tenta, portanto, falar-lhe.

Ele, nem sequer a olha, para responder.

Ela nem sabe como conseguira pronunciar essas palavras. Imediatamente corre a apanhar alguns objetos. Seus dedos tocam na pistola que sempre estivera em seu poder e que está dentro da maleta. Vacila por alguns segundos e a guarda em seu casaco.

Sai dali, em seguida.

Dentro da mente de Mulder, o desespero recomeça.

"Scully, eu preciso de você, Scully!! Me ajuda!!"

* * *

Dana está olhando para o mar. Um pouco de enjôo a deixa entontecida. O balanço da embarcação, fazendo subir e descer a amurada do convés ao nível de seus olhos a perturba.

Parara um pouco de caminhar, justamente devido ao mal-estar que sentira. Mas decide novamente sair, para procurar sua mãe e o filho.

Após alguns minutos, eis que avista William, parecendo perdido, sozinho ali, no imenso e deserto convés, onde ninguém está passando no momento.

O menino não responde; suas feições estão assustadas.

O menino se agarra à mãe, com ar apavorado.

Neste momento Dana ouve um gemido. Volta-se para trás e vê sua mãe caída, junto à uma das escadas externas.

Com esforço consegue pô-la de pé. Mas ela tem as pernas enfraquecidas.

Dana ajuda-a da melhor maneira que pode, colocando-a sentada num dos degraus.

O grito e choro desesperado de seu filho chega a seus ouvidos, num relance.

A mulher que fôra o pivô do fim de seu relacionamento com o homem que ama, tem William em seu poder.

Havia colocado-o sentado à amurada do convés, enquanto a criança amedrontada, tenta conseguir o socorro de sua mãe. E chora.

Dana engole em seco.

Dana tenta aproximar-se.

Maureen, com um só braço, empurra William em direção das águas. Este fica suspenso por sua mão, que o segura por um de seus pequenos e frágeis braços.

A criança grita, aterrorizada.

Dana não sabe mais o que fazer.

- Socorro!! Alguém me ajude!! Socorro!!- agora ela baixa um pouco a voz - Por favor, devolve o meu filho... é apenas uma criança...! Por favor!

A mulher, com espantosa facilidade, demonstrando ter bastante força nos seus músculos, num impulso, joga a criança para o lado de dentro do convés. Mas continua segurando-o pelo pulso.

Maureen solta o pulso da criança, que corre par5a os braços da mãe. E esta o agarra com toda a sua força.

Dana, com William nos braços, vai para junto de Maggie, que, meio tonta, esfrega a testa que tem um galo formado pela queda que sofrera, por um empurrão que a mulher lhe dera.

Maureen dá uma gargalhada sonora.

Dana interiormente a amaldiçoa, com toda a força de seu coração. Uma coisa, porém, lhe chama a atenção. O olhar dessa mulher diante de si. É frio, calculista, como o de ... um robô.

Uma pergunta, porém, não consegue segurar em sua garganta.

Maureen a fita, como uma fera acuada, para responder.

"Examinai bem se tudo que prometeis

é justo e possível, pois uma promessa

é uma dívida a pagar."

Confúcio