MALIGNO DIVERTIMENTO

"Dize-me como te divertes e eu te direi quem és."

Jose Ortega Y Gasset

Capítulo 209

Após medicar sua mãe e acalmar o filho, Dana passa a meditar.

"Meu Deus, será que eu estou vendo coisas ou realmente aquela mulher é estranhamente esquisita? Ela segurava meu filho com um só braço, como se possuísse uma força descomunal! Ou... é o ódio que a faz ter esses poderes demoníacos? E por que essa imposição sobre Mulder? E ele... ele parece tão submisso aos apelos sensuais dela... ou será que ela é sabedora de alguma coisa do passado de Mulder, o que a faz pensar ser dominadora dele?"

E seus pensamentos inquisitivos a impulsionam a investigar o que, na verdade, está acontecendo.

"Mulder sente essas dores de cabeça frequentes e devastadoras... não sei... mas há algo estranho nisso tudo...! De repente... oh, não, não quero pensar assim dessa maneira... mas, de repente.. .é como se fosse um Arquivo-X...!"

Repreende-se a si mesma em seus mirabolantes pensamentos.

E assim, tendo ainda consigo a chave do camarote de Mulder, de quem há dias está separada, entra nele. Não o vê no primeiro recinto.

Mas Mulder se encontra no quarto deitado, parecendo dormir.

Dana o observa, por alguns instantes.

Este apelo desesperado de Mulder, como que sofrendo num grande pesadelo, a faz aproximar-se. Pára, no entanto. Ele a está chamando assim, ansioso, porém, se despertado, nem há de quer vê-la ali perto.

Ela permanece sem tocá-lo. Dá meia volta e deixa o camarote.

Vai abrir o outro onde está Maggie e seu filho. Decide, porém, andar um pouco; verificar o que anda fazendo aquela estranha mulher, que tanto deseja apossar-se do amor de Mulder, que, sem que ela perceba, por sua vez, encontra-se em grande conflito interior.

Dana sobe as escadas. Caminha pelo longo convés do navio, rodeando-o, passando para o outro lado. Sobe mais um lance de escadas e vai para outro andar, alcançando outro convés. Nada consegue descobrir. Não vê a mulher em parte alguma.

Em dado momento decide voltar. Gostaria de verificar, com mais atenção, para desvendar esse fato estranho que havia causado tribulação em sua família, mas como está escurecendo, a noite fria chegando, ela não se sente bem para continuar a investigação do que faz a maldita mulher nos momentos em que não está se insinuando para Mulder. Desce um lance de escadas.

Sua visão distingue uma silhueta caminhando apressada, descendo alguns degraus.

Com muita atenção, Dana percebe que, finalmente, encontrara a mulher tão odiada.

E Maureen, com passos bastante rápidos, alcança o camarote onde encontra-se Mulder.

Dana aguarda, escondendo-se em reentrâncias forradas em lambrís, entre as portas no corredor. Em dado momento, no entanto, Dana pisca os olhos repetidas vezes. Acaba de ver, estarrecida, algo incrível.

A silhueta de Maureen, como num passe de mágica, muda, por segundos, transformando-se numa figura por demais conhecida pela ex-agente do FBI. A figura alongada, de braços finos e compridos, assim como suas pernas, a enorme cabeça triangular sem cabelos, a cor cinza esverdeada... um ser repugnante! E não é, certamente, uma criatura aqui da Terra.

Segundos após, a criatura transmuta-se na pessoa da mulher que assedia Mulder, constantemente. Está parada à porta do camarote. Logo entra.

"Ela é uma alienígena! E é por isso que pode dominar Mulder! Tenho que fazer alguma coisa!"- pensa Dana, perturbada.

Aproxima-se da porta . Escancara-a, subitamente.

Mulder está parado, espantado.

Maureen volta-se, ao ouvir o barulho às suas costas.

De onde se encontra, Dana dá uma ordem.

A mulher fita-a, com ódio.

A mulher dá risadas, mostrando estar satisfeita, como num maligno divertimento.

Dana mete a mão no bolso, saca dele a pistola, engatilhando-a.

* * *

Maggie, em desespero, vê que sua filha está passando por momentos de angústia, de dor, por uma traição do homem que ama. E isso, verdadeiramente a atormenta também.

Como poderia ajudar Dana? Como?

Ela faz um carinho em seu neto, que dorme sossegado. Veste um casaco pesado e sai. Quer ir até o camarote ao lado, onde sabe que Dana está.

Aproxima-se da porta e nota que a mesma está destrancada. Seus olhos se arregalam de terror ao ver a filha apontando sua arma em direção da estranha e importuna passageira.

Corre, em seguida, para o outro camarote, abre a porta e entra, rapidamente. Liga pelo telefone interno, pedindo ajuda ao Comandante do navio, para o incidente grave que está ocorrendo nesse momento. Aguarda aflita, esperando por minutos que parecem séculos a chegada de alguém que possa ajudá-la e à sua filha.

Dois seguranças chegam até ela.

Os homens partem para lá.

Com armas em punho, entram no recinto.

Dana volta-se, estarrecida.

Mulder havia sentado numa poltrona. Cotovelos apoiados nos joelhos, segurando a cabeça que lhe pesa mais que chumbo.

Dana o olha fixamente. Engole em seco. Aperta os lábios.

Com a mão desocupada que enfia dentro do bolso do casaco, ela retira uma carteira, que coloca diante dos olhos dos dois homens.

Eles vêem as credenciais dela, admirados:

Os dois homens abaixam suas armas, vagarosamente.

Maureen cruza os braços, aguardando a resposta de Dana, que, por certo, terá que se render ao ridículo de ver frustrados seus desejos de prendê-la.

Maureen, com trejeitos bem femininos, sorri, para dizer:

Este levanta a cabeça. Seu semblante abatido e transtornado ao olhar para Dana parece pedir ajuda. Mas nada fala.

Dana faz um gesto de incontida impaciência.

Um dos seguranças, por fim, resolve concordar.

Maureen aproxima-se um pouco mais, nervosa.

Mulder, neste momento, a olha com admiração. Em sua mente parece estar andando entre nuvens. A cabeça leve, a flutuar. Seus pés parecem ter asas e ele sente-se no ar. Por dentro de seu corpo um tremor incontido não lhe dá forças nem para locomover-se. Pode ouvir ao longe, o som de vozes, ecoando dentro do ambiente.

"A admiração parece consistir

em uma mistura de surpresa,

de prazer e de aplauso."

Charles Darwin