LINDA E ADMIRADA

"Sempre nos afeiçoamos àqueles que nos admiram,

mas nem sempre àqueles a quem admiramos."

La Rochefoucauld

Capítulo 216

Repousando a cabeça sobre o peito quente e vibrante de Mulder, Dana deixa as pálpebras fecharem-se, tranquilamente. Um suspiro profundo lhe infla o peito.

Mulder, com o braço por sobre o corpo de sua mulher, está sentindo neste momento uma intensa paz. Na mente. No coração. Sua amada, finalmente, livre daquele maldito poder do óleo negro, voltara a demonstrar todo o amor que tem por ele.

Dana o afaga no queixo, tocando depois as pontas dos dedos nos seus olhos, nas linhas do nariz e nos lábios.

Mulder ergue um pouco a cabeça do travesseiro.

Ela ri, gostosamente, divertida.

Ele ergue o corpo, gesto que obriga Dana a fazer o mesmo.

Dana retorna à sua posição anterior, deixando que ele lhe envolva o corpo, enquanto deita de lado, com a cabeça repousando em seu peito.

Alguns minutos passam em silêncio.

Ele dá uma risada.

Ela cobre-lhe a boca com os dedos.

Silêncio. Nada mais falam.

Dana, de olhos fechados, ouve ao longe, bem distante, uma suave melodia. Música antiga, dos tempos de sua mãe quando jovem: Blue Gardenia.

O ruído das rodas de um carro veloz ela ouve agora. Alguém passando na rua, assobia, afinadamente, uma dolente melodia.

Ela sente sob seus ouvidos, o peito de Mulder subindo e descendo, na respiração tranquila, denotando que ele adormecera.

Paz. Amor. Saúde. Doçura.

Ela pensa em tudo isso, enquanto sente que seu corpo está se deixando ficar leve, entrando para o reino encantado dos sonhos.

* * *

Mulder levantara-se.

Diante do espelho do banheiro, nele mira-se, interessado em ver seu aspecto. Sente que está bem. Sem problemas. E a roupa, também. É isso. Vestira a sua camisa de malha cinza e a calça jeans.

Ele desliza os dedos sobre a face áspera da barba por fazer. Aperta os lábios. Vira a cabeça de um lado e outro, examinando-se. Passa a mão nos cabelos.

Sai, então.

Na rua, um vai e vem de pessoas que parecem não ter o que fazer, a não ser ficar perambulando pelas calçadas. Nem sabe o porquê, entrara na rua em que a imponente e de bela arquitetura casa de espetáculos parece atrair o público.

Mulder vê um número incontável de pessoas junto à saída do teatro. Ele pára, a fim de observar melhor.

Pessoas jovens e idosas misturam-se, na expectativa de algo que aguardam, com certa ansiedade.

Ele reinicia sua caminhada, para se aproximar do grupo. Um intenso burburinho o deixa incomodado. Deveria sair do local, mas a curiosidade é bem maior.

Mulder está cada vez mais curioso. Aguarda.

Minutos depois, uma mulher aparece na porta lateral do teatro, onde as pessoas a estavam aguardando, na maior euforia.

Ela é de pequena estatura. Lisos cabelos longos e dourados. Pele alva, num rosado pálido. Olhar de um azul transparente. Sorriso que desabrocha entre os lábios róseos e polpudos.

Ele vê, aborrecido, que as pessoas no agitado grupo estão visivelmente excitadas. Várias têm em mãos um papel, livro, revista, jornal, bloco, guardanapo, enfim, alguma coisa que sirva para que a linda mulher possa apor a sua assinatura.

Mulder também, como aquelas outras pessoas excitadas ali, está deslumbrado com a atraente figura feminina.

Ele ouve a pergunta dirigida a ele.

Mulder fica ouvindo o rapazola falar. Não consegue, porém, desviar o olhar da atriz que, ali, entre as pessoas que a admiram, sorridente, vai assinando um a um todo papel que lhe colocam à frente de seus belíssimos olhos.

Mulder continua fascinado.

"Como é bela! E apesar de linda e admirada, carrega no olhar uma infinda tristeza!"- pensa ele.

Dezenas de braços estirados na direção da mulher, apesar de perturbadores, não parecem incomoda-la.

Em dado momento, Mulder aproxima-se. Chega bem perto. Estende o braço em sua direção, com a palma da mão virada para cima.

A atriz levanta o olhar para ver o dono da mão.

Seus olhares se encontram. Por alguns segundos.

Ela dá uma pequena risada, achando incrível a idéia dele.

Ela fita-o, intensamente, segurando-lhe as pontas dos dedos; escreve seu nome.

No momento seguinte, já outros braços agitados estendem-se em direção da linda e simpática atriz.

Mulder olha para sua própria palma, onde a linda mulher escrevera seu nome:

Gillian Anderson.

"A mais importante e temível

das grandes potências do mundo

é a fascinação da beleza feminina."

Jokai