O QUE DEUS UNIU NÃO SEPARE O HOMEM

"Três coisas conduzem a Deus:

a música, o amor e a filosofia."

Plotino

Capítulo 219

Desenho: Lane-2004

 

"Fox Mulder - ele divaga, neste momento - você está tomando uma atitude que deveria ter sido realizada há tempos. Finalmente você está dando o passo mais acertado em sua vida."

Tamborila os dedos, impacientemente, sobre a mesa.

"Mulder, - continua ele, em pensamentos, falando consigo mesmo - faltam poucas horas para que se torne realidade o sonho que guardou por muito tempo e que, ainda, há algum tempo atrás, não queria aceitar no seu coração. Por anos a fio, você teve a presença constante dela junto de você, acompanhando-o em todos os momentos bons e ruins, alegres e tristes, nos sorrisos e nas lágrimas, nos perigos e nas horas de descontração, enfim... Scully, agora, é a sua mulher! Com ela você formou uma família! E é com essa família que você deseja viver o resto de sua vida. E embora hoje haja a constante desintegração dos lares, o desamor grassa por todo o planeta, mesmo assim o sentimento maior do amor ainda persiste! E o companheirismo, a compreensão, a amizade, mais do que qualquer outro sentimento, é que poderá suplantar a falta de outros, quando alguma coisa entre vocês estiver negativa."

Mulder, neste instante, interrompe os pensamentos. Resolve chamar a responsável por esses devaneios. Tira do bolso um pequeno estojo azul escuro. Abre-lhe a tampa. Fica, por segundos, a observar o seu conteúdo: duas alianças de ouro. Fecha-a, novamente. Coloca-a no bolso do paletó.

Ele sente não ter mais paciência; vai até onde ela está.

Os olhos de Mulder, nesse instante, estão pousados na beleza singela de sua mulher.

Elegantemente trajada em um vestido de renda beije, de corte simples ajustado ao corpo ainda bem esbelto, o qual lhe cobre os joelhos, tem um colar de pérolas adornando-lhe o pescoço e brincos também de pérolas. No rosto, de maquilagem discreta, um sorriso quase angelical é esboçado nos lábios coloridos pelo batom claro, uma mistura entre a cor coral e rosa.

Assim dizendo, estende as mãos na direção de Mulder, que se aproxima.

Ele toma-lhe as mãos e beija-lhes todas as pontas dos dedos, um a um.

Maggie continua ajeitando os cabelos de sua filha, penteando seus longos fios ruivos, que lhe caem sobre os ombros.

Em seguida ela afasta-se um pouco para pegar alguma coisa sobre um móvel.

Dana sente que aquele sussurrar dele em seus ouvidos faz vibrar todos os seus sentidos. Observa-o, agora, por sua vez.

Mulder está simplesmente belo.

No seu porte altaneiro, o elegante terno cinza escuro cai-lhe muito bem, combinando com o verde dos seus olhos perscrutantes. A boca sensual sob o nariz pronunciado, tinha sido o que Dana poderia chamar de uma terrível atração e que a levara a desejá-lo sempre, desde que o havia conhecido, embora em outros tempos nem o quisesse admitir.

E ela sente o corpo a tremer de paixão no contato daquelas mãos tocando as suas.

Margaret repuxa várias vezes o traje de sua filha, colocando no lugar ou desfazendo alguma prega que aparece no tecido.

Maggie, tem por fim terminada a tarefa de ajudar Dana a se arrumar para a cerimônia do casamento.

* * *

O pequeno e singelo templo, com poucos fiéis nos bancos de madeira envernizada, tem luzes acesas em seu interior e a bela ação dos raios do sol lá fora faz resplandecer os coloridos vitrais incrustados nas paredes laterais.

A imensa cruz no altar faz criar nos corações das pessoas que ali se encontram, a fé, a convicção de que aquela cruz vazia diante delas, mostra com determinação, o sinal de vitória do Filho de Deus, que num madeiro como aquele, fora sacrificado e morreu por todos nós, levando Consigo, nossas dores e sofrimentos e tendo ressuscitado, vencendo a morte, deixou o legado da vitória de Seu Divino Ser em todo aquele que Nele crê.

A oração do sacerdote ecoa no espaço, entre as paredes altas da Igreja. O som do órgão e o cântico suave inundam o ambiente.

Dana, diante do sacerdote, ouve, compenetrada, suas palavras.

Mulder, ao seu lado, também está atendo ao que está ouvindo; um aconselhamento de fé, vindo das palavras da Bíblia:

São as palavras finais do sacerdote, após ter colocado as alianças em cada um do casal.

Os poucos assistentes ali presentes, mesmo os desconhecidos, aproximam-se para cumprimentá-los.

Dana suspira.

"Sim, - ela pensa - viver corretamente diante das Leis de Deus e dos homens é o mais importante para as nossas vidas."

* * *

Mulder segura a mão de Dana. Leva-a na direção da porta de saída da pequena Igreja. Dirigem-se para o carro. Haviam deixado Maggie e William, depois de abraços sem fim, o que havia provocado em Dana os olhos marejados de lágrimas.

Ela deixa-se levar por seu marido, acompanhando-o, com emoção.

Ele volta-se, surpreso, com os olhos muito abertos.

Dana dá uma risada, divertida com o espanto dele.

Mulder põe o carro em movimento.

Ela faz um muxoxo.

Ele a puxa para si, apertando-a contra seu corpo.

Dana sorri e deixa-se abraçar por ele.

* * *

No hotel, ao sair do elevador, Mulder, num gesto rápido, toma Dana nos braços.

Ele coloca-a no chão. Tira do bolso a chave. Gira-a na fechadura. Em seguida toma sua mulher nos braços. Entram na suite.

Mulder ainda a mantém em seus braços.

Ela ri e agarra-se a ele, beijando-o no pescoço.

Junto à cama, ele a coloca no chão.

Ela retira, rapidamente, a linda colcha que cobre os lençóis. Dobra-a e a coloca sobre uma poltrona.

Mulder senta-se na beira da cama e retira os sapatos e as meias.

Dana o olha, com ar reprovador.

Ele levanta-se, com um sorriso matreiro, rápido, para aproximar-se dela.

Abraçam-se, com ardor. E assim permanecem por minutos. Estão achando gostoso demais sentir o corpo um do outro, encostados, peles quentes, carnes tremulantes, o desejo tomando conta de seus sentidos.

Mulder sussurra no ouvido de Dana:

Ela o beija no pescoço, demorando com os lábios grudados em sua pele morena e perfumada.

Mulder, com os lábios, acaricia-lhe os seios ainda cobertos pelo vestido, seus quadris, enquanto as mãos buscam entrar na intimidade de seu corpo, deslizando sobre o vestido de renda que lhe delineia o corpo esguio e pequeno.

Ela, lentamente, vai retirando dele o paletó usado na cerimônia do casamento.

Afrouxa o nó da gravata, retirando-a.

Mulder acompanha com um sorriso, os movimentos dela.

Agora ela retira-lhe a camisa, desabotoando-lhe os botões da frente e os punhos. Agarra-se ao tórax quente dele e encosta a face na sua carne vibrante. Desliza os lábios róseos sobre seu peito desnudo. Permanece agarrada assim a ele por mais alguns instantes.

Ele a abraça, procurando desabotoar cada pequeno botão de pérola que tem nas costas do seu vestido . Consegue faze-lo e o deixa deslizar para o chão.

Dana agora abre-lhe o cinto e o ziper da calça e também faz com que esta deslize a seus pés.

Os dois estão nas suas roupas mais íntimas, nesse momento.

Mulder faz descerem os dedos tateantes por sobre toda a linha do corpo dela, abaixando-se, para acompanhar o caminho que seus lábios percorrem pela forma esbelta de Dana. Novamente vai subindo os lábios e dedos sedentos de desejo.

De súbito, toma-a nos braços.

Apressado e, deitando-se com ela sobre a cama, com a boca cobre-a de carícias em todo o corpo que a ele está entregue ali, inteiramente.

* * *

O sol já está se escondendo no horizonte. O ocaso dessa tardinha avermelhada, faz o espaço lá fora assemelhar-se a uma tela executada por algum pintor caprichoso.

A imensidão de edifícios de um lado quase não permite ver a beleza que a natureza apresenta nessa hora aos olhos humanos.

Voltando-se, porém, a vista para o outro lado, pode-se divisar um grande pedaço do céu aberto, onde sob ele palmeiras e outras árvores copadas dividem-se naquele espaço tranquilo de chão existente entre a vida agitada da cidade. Tudo está recendendo amor no ambiente onde encontram-se os recém-casados.

A brisa que entra através das janelas abertas, faz as flores no vaso sobre a mesa parecerem querer cumprimentar o casal que ali está, inclinando-se, docemente. As cortinas claras, levemente ondulando-se, dão a aparência de que desejam tornar agradável o ambiente, arejando-o, com seus movimentos.

A música suave, romântica, que sai do som ali dentro torna o ar ainda mais cálido entre as paredes.

Quatro mãos se tocam, reconhecendo-se, tateando-se, explorando-se.

Dana suspira profundamente, aninhando sua fragilidade nos fortes braços dele.

Mulder beija, ternamente, os lábios entreabertos dela, entregues aos seus carinhos. O contato acariciante incentiva-os e aumenta o desejo de seus corpos.

E se enlaçam e se desejam e se procuram, na avassaladora ânsia do amor.

* * *

Dana abre os olhos e espreguiça-se longamente, sentindo a agradável sensação que o retesamento dos músculos lhe provoca no corpo. Com lânguido prazer olha para Mulder ao seu lado, que, adormecido, ainda, parece-lhe um menino.

"Foi o melhor passo que dei na minha vida, desde que me entreguei a ele - reflete - Sinto-me imensamente feliz e realizada. Mulder é um homem íntegro e de atitudes corretas."

O colchão movimenta-se com as jogadas de perna de Mulder na cama. Ele, enfim, abre os olhos e vê sua mulher fitando-o, amorosamente.

Ele passa um braço à volta de seus ombros e puxa-a para junto de si e ela deixa repousar a cabeça sobre o peito dele.

Dana pode escutar a pulsação do coração de Mulder. Acha gostoso sentir que ali dentro desse corpo há órgãos vivos pulsando, vibrando, contraindo-se.

Ela o acaricia, puxando um a um os pelos que cobrem uma pequena parte do seu peito. Passa os lábios por sobre sua pele. Nenhuma palavra é trocada. Somente o carinho, o sentimento maior do amor é o que vale neste momento de intimidade.

Dana, ouve a respiração forte de seu marido. Começa a perceber que a atração por estarem tão mais unidos agora, com seus corpos se tocando, sentindo a carne vibrante em seu interior, o torna cada vez mais ofegante.

Mulder com o outro braço aperta-a com força; parece desejar fundirem-se num só, seus corpos.

Ela olha as vidraças da janela.

Esse gesto o faz sentir-se no auge do desejo. O perfume dos cabelos dela penetra pelas suas narinas, tentando-o, arrastando-o à volúpia da paixão. Ele procura-lhe a boca, beijando-a com intensidade, descendo os lábios voluptuosos para o pescoço, os seios...

* * *

Ele lhe segura a cabeça sobre o seu peito para olhá-la.

Ele aperta-a contra si.

Dana sorri.

Ele afasta-se e fica olhando o teto.

Mulder a fita com seus olhos penetrantes. Meneia a cabeça, confirmando suas palavras.

Na intimidade de suas vidas de casados, para eles agora, além de todos os problemas a serem resolvidos para a difícil sobrevivência neste mundo, tem que haver a felicidade do companheirismo, da compreensão e do saudável e mútuo respeito durante a permanência de suas vidas aqui na Terra.

"O casamento não é um destino...

  • é uma jornada. "

Paul Popenoe

Nota da Autora:

Este capítulo, narrando o casamento acontecido entre Dana Katherine Scully e Fox William Mulder, baseia-se no texto da fanfic Intimidades, que escrevi em 17 de dezembro de 1999. (Já faz um tempinho, não é?)

E usei partes da fanfic neste capítulo, porque tenho por hábito procurar não mudar, em sua essência, o caminho que percorri nas narrativas anteriores; então busco sempre ligar um fato ao outro, para não quebrar o que havia sido escrito antes e assim, não perder a sensibilidade das românticas histórias, as quais uso a criatividade para lhes agradar, queridos leitores.

Devo acrescentar que este tema foi muito solicitado por algumas amigas, leitoras dos Devaneios, pois para muitas de nós, Mulder e Scully têm que permanecer juntos para os restos de suas vidas, "até que a morte os separe".